Capítulo 44

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Everyone's taking control of me
Seems that the world's got a role for me
I'm so confused, will you show to me?
You'll be there for me?
And care enough to bear me?





Ponto de vista de Michael

Era sempre difícil acordar depois de uma dose alta de medicamentos, mas eu tinha certeza que seria impossível dormir de outra forma. No entanto, o murmurinho que eu ouvia, mesmo ao longe, não era comum. Eu sabia que as pessoas que me conheciam tinham um enorme cuidado para não me incomodar quando eu estava dormindo. Elas costumavam ser muito gentis e solidárias com minha insônia crônica e faziam todo silêncio que podiam, independente do horário que fosse.
Porém havia barulho, e quanto mais eu ia voltando à consciência, mais eu ia me dando conta de que não era um murmurinho, mas sim vozes altas, conversas, algumas conhecidas e outras não.
Eu reconhecia Bill, John, Frank, Janet... os outros não. Devia ter mais duas ou três pessoas.
Eu não ouvia a voz de Carmen.

_ Como assim? Como ela está?
_ Para onde a levaram?
_ Sob custódia? Você está maluco?
_ Atenção com suas palavras! Você pode ser autuada por desacato!
_ Por favor senhor, estamos todos nervosos...

Eu ouvia a discussão, mas ela não fazia nenhum sentido... Queria chamar alguém, mas todos pareciam ocupados demais.
Resolvi me levantar, descendo vagarosamente da cama. Sentia minhas pernas ainda bambas... talvez eu tivesse mesmo abusado na dosagem.
Olhei no relógio: 12h34.
_ É, eu abusei. - disse para mim mesmo.
Com alguma dificuldade, me levantei e calcei os chinelos. Coloquei o roupão e procurei um boné, pelo menos para cobrir a cabeça... queria ir a sala ver o que estava acontecendo... e porque a Carmen estava tão quieta.
Olhei no espelho: eu estava horrível. Nem sei porque tinha me dado ao trabalho de olhar.
Abri a porta com cuidado, assim como estava fazendo todos meus movimentos, já que o efeito do remédio sempre ia se esvaindo aos poucos. Quando cheguei na sala, tive a impressão de que os dois homens que eu não conhecia eram... policiais?
Era Janet quem estava falando, ela estava de costas para mim:
_ Eu vou para o hospital ficar com ela. Tenho certeza que o que ela fez, fez por um motivo. Vocês precisam olhar a fita!
Meu raciocínio estava lento. De quem ela falava?
_ Quem está no hospital Jane? É daquela fita que vocês estão falando? - perguntei, e todos os olhos se voltaram para mim.
E eu não gostei da expressão que vi no rosto das pessoas.
A gente percebe quando vão nos dar uma notícia ruim. Parece que a notícia chega antes das palavras. Ela chega no olhar, na tristeza expressa sem nenhum som.
Eu segurei no sofá. Bill correu para me amparar.
_ Quem está no hospital? Cadê a Carmen? - perguntei, o mais alto e firme que minha voz conseguiu.
Diante do silêncio de todos, Bill falou:
_ Ela foi confrontar o Chandler. Ela tinha um plano para arrancar uma confissão dele, mas algo deu errado no final. Ela... ela levou um tiro Michael.
Um buraco se abriu debaixo dos meus pés pela segunda vez em menos de três dias, e eu senti como se meu corpo caísse... como se minha alma sumisse em algum lugar sem esperança, sem futuro, sem sentido.
Janet veio me abraçar. Eu não conseguia chorar. Eu não conseguia falar. Meus olhos focavam o vazio e eu sentia meu corpo inteiro tremer. Percebi que eu ia desmaiar de novo.
Aí eles iam chamar o médico.
Iam me dopar.
Eu passaria o dia apagado, ligado a uma máquina monitorando meu coração.
Enquanto a mulher que eu amava estaria sozinha em algum lugar.
Não. Eu não podia me dar a esse luxo.
_ Deixa eu respirar. Me tira daqui Janet. - pedi a minha irmã.
_ Michael, você está pálido... eu vou chamar o doutor... - começou ela, mas eu interrompi.
_ Não quero médico. Me leva daqui. Lá para a pousada. Agora. Por favor.- pedi, mas em tom de exigência.

Carmen era maluca... essa era minha conclusão.
Brilhante, mas maluca.
Brilhante e totalmente inconsequente.
Inconsequente e o amor da minha vida.
O amor da minha vida, e estava num hospital, e nem eu e nem ninguém por perto sabia exatamente como tinha sido o ferimento dela e eu estava ali, ainda meio grogue, de roupão e chinelo.
_ Janet, pelo amor de Deus. Vá para o hospital. Descobre tudo, me liga. Eu vou tomar um banho. Dar um jeito de melhorar... Depois arrumo um disfarce qualquer, sei lá, peço para o Bill me levar...

Michael Jackson - ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora