Capítulo 22

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I just wanna touch and kiss

And I wish that I could be with you tonight

You give me butterflies inside, inside and I


Era difícil voltar.

Voltar à realidade.

Voltar ao uniforme.

Voltar à casa principal.

Retornar à rotina chegava a ser cruel.

Retornar à cama vazia.

Retornar à solidão.

Retornar aos compromissos.

Mas era domingo de manhã. O feriado estava no fim, os funcionários começariam a voltar na hora do almoço e no dia seguinte Michael tinha a agenda cheia, com gravações e reuniões marcadas.

Agora, eles estavam ali, sentados na cozinha da casa principal de Neverland, tomando um café silencioso, parecendo sem coragem de iniciar uma conversa que ambos sabiam que precisava acontecer.

Michael sentia o coração pesando uma tonelada. Era cruel pedir que Carmen simplesmente voltasse a sua rotina, colocasse seu uniforme e fosse limpar seu quarto. Não era cruel, era ridículo! Ele tinha tido o melhor final de semana da sua vida, tinha se sentido amado e desejado e tinha amado e desejado genuinamente pela primeira vez na vida. Mas ele sabia... Sabia que se seu próximo passo não fosse extremamente cuidadoso, poderia perder aquela dádiva num piscar de olhos.

Carmen simplesmente não sabia o que pensar... Sua mente vagava entre "você está perdida", e "uau... que homem incrível...", e ela mal conseguia conectar seus pensamentos com coerência. As lembranças de cada momento vivido, desde a primeira vez no estúdio de dança, a sequência quando retornaram a pousada, o banho que tomaram juntos, a massagem que pode fazer nele, o modo como pode beijar-lhe as costas, subindo até seu pescoço, fazendo-o suspirar...

A moça nem percebeu que essas lembranças a faziam sorrir...

Michael, mesmo preocupado, também tinha suas lembranças vivas e, olhava Carmen sorrindo, imaginando se ela também estava inundada pelas mesmas cenas que dançavam em sua mente. Tinha sido bonito, como ele achava que o amor físico tinha que ser. Já tinha visto muita coisa... coisas que nem sabia direito o que eram na época que viu e só foi entender muito tempo depois, mas sabia que o sexo podia ser feio, nojento, agressivo. E para ele, isso não combinava com amor, e as cenas que ele tinha gravadas na memória eram todas bonitas... Assim como era bonito ver o sorriso de Carmen agora.

Talvez por isso o silêncio inundava o ambiente, até que o telefone fez ambos pularem das banquetas.

- Caramba! Quem será? - disse Michael, levantando-se para atender.

- Alô. Sim... Ah, ok, pode passar... Oi Janet! Bom dia! Não, não fui... Você também não?... A mãe deve estar uma fera... Quando? Hoje? Ah...

Carmen olhou com olhos arregalados para Michael. Mesmo ouvindo parte da conversa, era possível entender que sua irmã iria ao rancho. Michael apenas continuou, mesmo que um pouco sobressaltado:

- Sim, pode vir... Acho que você pode me ajudar com algo aqui... Não, está tudo bem... Para o almoço? Ok, mas traga o almoço... Para três. Isso, três. Depois você vai entender. Tchau.

Carmen estava pálida. Sentia seu corpo ficar gelado.

- O que você pretende fazer?

Michael se aproximou. Seus olhos brilhavam novamente, como se a ligação da irmã trouxesse uma luz de esperança.

- Acho que a Janet pode nos ajudar. Ela é legal, você vai gostar dela e ela vai gostar de você, tenho certeza!

Michael segurava as mãos de Carmen e a olhava com um sorriso no rosto. A garota no entanto, não parecia ter entendido, mas apenas a dor de pensar a tiravam a coragem de perguntar.

Ou será que ela tinha entendido?

Ele a mandaria trabalhar para Janet. Certeza.

Não tinha jeito dela permanecer ali, tinha?

Como sustentar sua presença? Como continuar cuidando do quarto dele, sendo a responsável por suas roupas, acessórios e remédios? Como seguir dormindo no quartinho de empregada, ali, ao lado, depois do que tinham vivido?

Não tinha sido só uma transa. Ela sabia que não. Nem pra ele e nem para ela.

Havia sentimentos demais envolvidos e não ia dar para administrar aquilo... eles mal conseguiam permanecer ao lado um do outro sem se tocar nas últimas 48 horas. Como explicar se um ou o outro escorregasse? E do jeito que estavam sensíveis, do modo que ela o sentia... Ah, eles iriam escorregar!

Seria um escândalo!

Carmen imaginou centenas de capas de jornais e revistas diferentes com as manchetes:

"Michael Jackson tem caso com a empregada"

"Empregada deNeverland é amante de Michael Jackson"

"Michael Jackson contrata garota de programa disfarçada de empregada"

E dali para pior...

Pensou na tia Remy querendo mandá-la de volta ao Brasil... Pior: pensou no seu visto sendo revogado e ela tendo que voltar com fama de garota de programa...

O jeito era se afastar...

- Eu entendo Michael. Talvez seja o melhor a fazer... - disse Carmen, com a solução montada em sua mente, mesmo que o rapaz apaixonado a sua frente não tivesse dito uma palavra, o que o fez estranhar.

- O que é melhor a fazer? Você sabe o que fazer? - perguntou ele, confuso.

- Vai me mandar trabalhar para a sua irmã, não é isso?

Michael mal podia acreditar no que ouvira.

Por que, por que era tão difícil para ela entender, acreditar que ele realmente tinha boas e reais intenções com ela? Ele era um cavalheiro e, apesar de não terem tido um início convencional, ele queria fazer as coisas direito!

Ele só não sabia como.

- Você não vai trabalhar para a Janet! De onde tirou isso? - disse ele, talvez dois tons mais alto do que pretendia.

Carmen piscou algumas vezes, tentando sair da história que ela já tinha dado como certa em sua mente.

- Então o quê? O que vamos fazer? - perguntou ela, já sentindo os olhos encherem d'água e se detestando por isso - Eu mal consigo olhar para você sem lembrar de nós dois... Eu... - então abaixou os olhos, quase envergonhada. - Eu não tenho estrutura para ficar convivendo com você nessa casa e fingindo que não vivi o que vivi e que não quero viver de novo.

Michael não podia negar: seu coração se enchia de alegria ao ouvi-la dizer isso. Era um eco do que ele mesmo sentia. Então se aproximou dela e segurou-lhe gentilmente o rosto.

- Carmen, se eu fecho os olhos, parece que ainda estou lá no estúdio com você... Eu quero te puxar para mim o tempo inteiro... eu sei do que está falando. - completou Michael, abraçando-a, consolando a ela e a si próprio.

Como amar podia ser algo tão grandioso a ponto de quase doer?

- Qualquer pessoa vai notar... a gente não vai dar conta de ficar aqui nessa casa... - sussurrava Carmen, entre soluços.

Ela tinha razão. Michael sabia disso. A visita de Janet representava a esperança de encontrarem uma solução.

Mas ele só aceitaria uma solução que mantivesse Carmen em Neverland. Junto com ele.

Michael Jackson - ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora