Capítulo 43

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He came into your apartment
He left the bloodstains on the carpet
Then you ran into the bedroom
You were struck down, it was your doom

_ Bom dia. Liguei mais cedo agendando com o doutor Chandler. - disse Carmen com frieza, por trás dos grandes óculos aviadores.
A garota da recepção, uma menina de aparência muito jovem, que não devia ter mais que 20 anos, olhou Carmen com a mesma expressão que ela vinha enfrentando nos últimos dias: de alguém tentando saber de onde ela a conhecia.
_ Oi, senhora Carly Real, certo? Vou avisar o doutor que já chegou, fique a vontade.
A moça se levantou e Carmen permaneceu em pé. Seu coração batia acelerado e sua boca estava seca. Começou a respirar profundamente, como Bill havia ensinado. Pensar no objetivo. Ter foco na missão. Lembrou ainda de algo que tinha ouvido Michael dizer: "imaginar o que se quer como se estivesse diante de si, como se já existisse, e trabalhar arduamente para tornar isso realidade."
Era isso que ela iria fazer.
Ela visualizava Michael sorrindo. Pensava nele aliviado, animado, falando de música, de arte, de dança. Idealizando as inovações que queria para o novo álbum e o novo show. Ela o via correndo pelo gramado do rancho, rindo com os sobrinhos. Se via junto a ele, deitada no quarto da pousada, entre beijos e gargalhadas.
Era hora de fazer isso acontecer.
Baixou o rosto. Fechou os olhos. Uma oração era necessária. Rápida, mas ela sabia que seria ouvida, mesmo no silêncio:
"Senhor, dai-me de sua sabedoria. A verdade está em ti, e o Senhor é quem prevalece sempre. Não me deixa vacilar. Amém."
Sentiu os batimentos cardíacos se estabilizando.
_ Oi! A senhora já pode entrar.

Quando Carmen entrou, Chandler estava de costas. Folheando alguma anotação.
_ Bom dia senhora Carly, qual o motivo de tanta urgência? - perguntou ainda sem olhá-la.
_ O motivo é compreender suas intenções senhor Chandler e tentar apelar para sua consciência. - disse Carmen, com enorme tranquilidade.
Evan virou-se rapidamente, ao reconhecer a voz. Carmen retirou o óculos, repousando a bolsa na cadeira. Ela mantinha uma expressão serena, enquanto o homem começava a ficar vermelho.
_ Você está quebrando o acordo! - Disse ele, baixo, mas de modo rude.
_ Não, não estou. Você não disse nada sobre eu não poder falar com você e eu realmente gostaria de tentar entendê-lo. Eu vim em paz Evan. - começou Carmen.
Chandler sentou-se. Sua expressão mudando da surpresa para arrogância em poucos minutos.
_ Me entender? Sério? Eu sou um homem simples querida... um homem simples com grandes sonhos, muitas ideias e uma enorme determinação. - respondeu ele, com um rosto já totalmente refeito.
Carmen tentava lê-lo. Ele precisava estar no controle para sentir-se a vontade para falar. Ainda que ela tivesse vontade de dizer todas as verdades para ele, precisaria segurar-se e apenas dar a corda para ele se enforcar.
_ Admiro isso. De verdade. Eu não sei como o advogado falou com você sobre o roteiro... talvez ele tenha sido rude com você e isso o tenha magoado, e eu sinto muito por isso. Michael e eu lemos o roteiro e acreditamos que com ajustes, ele possa ficar bom...
_ Esqueça o roteiro! - interrompeu Chandler, levantando-se e indo em direção à Carmen com um olhar que ela não gostou- Aliás, eu me surpreendi com a qualidade dos roteiros escritos em Neverland... principalmente com a atuação da atriz principal.
Carmen temia que isso podia acontecer. Na verdade, ela esperava tudo de pior de Chandler. Ele assediá-la não seria mesmo uma surpresa.
_ Eu e Michael estamos juntos Chandler. Já tem alguns meses. Aquele vídeo foi também um modo de nos chantagearem... mas acho que a pessoa naquele caso, não era tão esperta quanto você. - disse Carmen, afastando-se um pouco.
Evan sorriu, sem esconder o orgulho.
Era agora... Carmen sentia que, se mexesse com o ego do homem, ele acabaria falando.
_ Michael devia ter queimado a fita quando conseguiu recupera-lá. - explicava Carmen - Achou que guarda-lá no closet do quarto era suficientemente seguro, mas...
_ Mas não foi, não é? Sabe... eu me surpreendi. Quando o Jordan me entregou a fita, achei que ia encontrar uma gravação de ensaio, uma música... de repente: uau!! De verdade, eu achava até que seu namorado fosse gay. Mas olha o peixão que ele pegou... - disse Evan, olhando Carmen da cabeça aos pés, de um modo que ela sentiu-se totalmente invadida e enojada.
_ Michael não é gay Evan. Não é gay e nem é pedófilo. O que você está fazendo com ele é desumano. Não só com ele, mas com o Jordan também. - disse Carmen, quase em tom de súplica, mesmo que seu desejo fosse gritar.
_ Você tem noção do que 30 milhões vão impactar na vida de Jordan? Esse episódio não vai ser nada para ele. Michael vai se arrepender de não ter me dado a atenção devida senhorita Carmen e vai ser bom para o Jordan perceber que Michael Jackson não é um santo, não é infalível e perfeito como idealiza, afinal, como bom moço que diz ser, trepar com a empregada, não é um comportamento adequado para quem diz quer ser um exemplo para os jovens americanos. - debochou Evan.
Aquela última fala despertou curiosidade em Carmen... havia mais alguma coisa então? Aquilo parecia...
_ Evan, você está com... ciúmes de Michael? Ciúmes da admiração que o Jordan tem do Michael? - perguntou Carmen.
Mas ela sentiu rápido que não devia ter perguntado.
Evan se aproximou dela, segurando-a pelo braço. Carmen preparou-se, deixando a mão livre pronta para entrar em ação, caso precisasse.
_ Jordan precisa saber o que um homem de verdade precisa fazer no mundo real moça, não o que um moleque grande faz nesse mundo de faz de conta que esse seu namorado vive, com macacos e parquinhos! Quero que meu filho tenha um homem de verdade como sendo seu exemplo. Não uma garotinha que nem aquele cara... - então Evan parou. Seu rosto perigosamente perto de Carmen, assim como a mão dela estava perigosamente perto da Glock - Aliás, me explica... como pode uma mulher como você estar com um cara como ele?
Carmen queria sacar a arma e atirar. Mas ela ainda não tinha uma confissão definitiva sobre a falsa acusação de pedofilia. Ela queria uma frase, algo que não pudesse ser contestado.
_ É isso? É por isso que vai levar essa mentira adiante Chandler? Mentir que Michael abusou de seu filho e chantageá-lo por dinheiro?
_ Cada um joga com o que tem moça. Você tem um belo corpo para jogar. Eu tenho uma bela história. Não é um excelente roteiro? O astro do pop? O cara que ama crianças de repente é descoberto como um abusador de crianças? Quem disse que eu não sou capaz de inventar excelentes histórias? Ãh? - disse Evan, tentando forçar um beijo no pescoço de Carmen.
Era isso!
"Inventar excelentes histórias", era isso que Carmen precisava ouvir.
De um modo ágil ela o empurrou, dando uma cotovelada em seu rosto e sacando a arma em seguida.
_ Fica longe de mim Chandler. Longe. - disse Carmen com voz firme.
Evan ainda estava um pouco tonto, e segurava o nariz que sangrava.
_ Você sabe que isso vai virar um escândalo ainda pior, não sabe? - dizia ele, exalando ódio.
_ Eu sei, mas...
Carmen não conseguiu terminar a frase.
_ Doutor, o que foi isso? Eu ouvi um barulho... Oh meu Deus! - disse a recepcionista, abrindo a porta abruptamente e assustando-se com a cena e roubando a atenção de Carmen por um segundo.
Um segundo.
Foi o segundo que bastou para Chandler empurrar Carmen, fazendo ela e a arma irem para o chão.
_ Corre moça! Chama a policia! - gritou Carmen, vendo a garota sair correndo.
No segundo seguinte, ela já tinha uma arma apontada para sua cabeça.
_ Chame a polícia? Você é bem ousada... o que vai alegar? - perguntou Chandler ainda pingando sangue sobre o casaco creme de Carmen.
Agora era tudo ou nada.
O plano original já estava quase indo para os ares... não lhe sobrava muito, a não ser lutar. A não ser ir até as últimas consequências.
Talvez de toda sua visão, de um Michael sorridente, correndo pelos gramados de Neverland, apenas a última parte, em que se via com ele no quarto, talvez não se realizasse. Pode ser que no final, ela fosse a parte que ficasse faltando.
Mas ela não era relevante para a equação. Michael era.
Bill sabia da câmera. De pelo menos uma delas... por algum motivo, decidiu manter a localização da outra em segredo. Mas ele sabia onde estavam as chaves do consultório. Se acontecesse o pior, ele saberia o que fazer. Fosse o que fosse, não seria em vão.
_ Fala vadia! A polícia vai chegar aqui e você vai alegar o quê? - gritou ele mais uma vez, abaixado sobre ela, com a arma debaixo de seu queixo.
_ Legítima defesa. - disse ela, chutando-lhe os genitais, fazendo-o pender para o lado.
Carmen, levantou-se rápido, chutando a arma da mão de Evan como pode, sem conseguir ver para onde ela tinha ido, tentando sair em disparada, meio cambaleando.
Foi quando sentiu.
Como um rasgo.
Um calor insuportável, uma sensação de ardência absurda.
Olhou para baixo e viu sangue... já não sabia se era dela ou do porco do Evan que estava pingando em seu terninho bege.
Ela deu mais três, quatro passos no máximo.
Caiu de joelhos, na porta do consultório. Viu o Chandler passando por cima dela, depois viu o vulto de homens de azul chegando.
Alguém se abaixou para falar com ela... os olhos já não conseguiam manter o foco.
_ Na luz do teto... câmera. - foi o que ela pode dizer, antes de apagar.
Na mente, tinha a lembrança do sorriso de Michael.
"Só permita que ele volte a sorrir no final disso, meu Deus...está difícil respirar..."

Michael Jackson - ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora