Looking in my mirror
Took me by surprise
I can't help but see you
Rumnig often through my mind- Me sinto um completo idiota... - disse Michael, rindo sem graça, sentado ao lado de muitos livros, pastas e revistas, que ele e Carmen separavam por ano e tema.
- Não entendo... Por que achou que era uma velhinha que cuidava do quarto?
Michael deu de ombros...
- Não sei bem, acho que o modo que você cuida de tudo, os doces, o cheiro de lavanda, o jeito que você dobra as roupas, que organiza as coisas... Não pensei que uma garota pudesse ter este tipo de cuidado.
Carmen tentou não rir, mas riu. Aliás, ela começou a realmente dar risada.
- O que foi? O que é divertido? - quis saber Michael.
- Não sei se posso dizer. Acho que passarei do ponto se eu realmente disser porque estou rindo. - disse Carmen, levantando-se e encaixotando uma grande pasta de fotos dos Jacksons que Michael queria que fosse mantida num imóvel separado da casa.
- Pode dizer. Não vou me zangar. - prometeu Michael, colocando mais algumas fotos na mesma caixa e parando ao lado da moça.
Carmen suspirou... Eles já estavam ali há umas duas horas, já tinham rido, contado piadas... Era fácil conversar com ele, ainda mais porque ele fazia questão de falar devagar para ajudá-la a entender todas as palavras. Ele estava de camisa vermelha - ele devia ter umas 20 delas - e calça preta - que também devia ter umas 30. Ela já conhecia quase todas as peças de roupas que ele tinha, afinal, ela mesma tinha recebido todas da lavanderia e colocado, uma a uma no enorme closet do quarto de dois andares. Ela conhecia os perfumes dele, e gostava do cheiro que ele tinha. Ela conhecia até as maquiagens dele e sabia até que ele tinha umas manchas no rosto e no pescoço... que era só o que ela via, mas dava pra notar. Ela sabia também que uma parte do cabelo dele não era de verdade: efeito daquele acidente feio que ele tinha sofrido uns tempos antes, ela presumia. Ela sabia que ele não dormia bem. Pelo tanto de remédio que ele tinha, sabia que ele tinha muita dor de cabeça e já tinha percebido que ele tinha um problema com o peso: morria de medo de engordar e nunca comia o lanche inteiro que ela preparava, assim como nenhuma das outras refeições, o que ela achava uma bobagem sem conta.
Ela já sabia um montão de coisas dele, coisas que ela tinha observado e coisas que ele tinha falado, tudo isso só em uma semana... E agora ele estava ali, bem pertinho, querendo saber dos pensamentos dela. E Carmen não tinha costume de esconder pensamentos quando era perguntada por eles assim...
- Acho que você está andando com gente muito velha, ou gente muito chata ou gente muito ruim. Lá de onde eu venho, a gente faz coisas legais para quem a gente gosta, e isso não tem nada a ver com a idade não...
Silêncio... Carmen demorou para se dar conta do que ela mesma tinha dito, e quando se deu conta, fechou os olhos e franziu a testa.
- O que foi? - perguntou Michael.
- Falei demais.
- Não, não falou não... Eu concordo com você... Eu não tenho amigos. Não muitos, não de verdade. Aqui, nesse lugar, é difícil ter amigos. O dinheiro atrapalha, por incrível que pareça.
Carmen começou a recolher as coisas. Sentiu que estava na hora dela mesma se recolher. Ela e o que restava do seu juízo, então foi caminhando para a porta.
- A falta de dinheiro também não ajuda, mas olha, eu faço isso, os bilhetes e tudo mais, porque... Eu simpatizo com o senho... com você. Acho que você parece ser uma pessoa legal e minha tia sempre disse que você tratava ela muito bem. E você me trata muito bem também.
Michael pegou o pacote com o xale que tinha trazido para a "senhorinha"e o entregou para Carmen.
- Leve para a Remy quando a vir. Acho que combina mais com ela. Vou providenciar um presente mais adequado para você. Acho que xales de lã não são uma tendência de moda para o pessoal da nossa idade.
Carmen recebeu o pacote, abrindo apenas um pedacinho para espiar, mas riu quando Michael disse a parte "nossa idade".
- Às vezes me esqueço que temos quase a mesma idade...
- Eu também. Acho que sou uma alma velha. Uma alma e um corpo velho, talvez...
Os olhos entristecidos dele cortavam o coração de Carmen. Como um moço tão bonito poderia ser tão triste daquele jeito?
- Corpo velho? Não diga uma coisa dessas que eu não vou ficar falando disso agora não... - disse ela, fazendo graça, arrancando algumas risadas de Michael - mas olha só - continuou ela - As vezes tudo que a gente precisa está em volta da gente... Eu sou só uma imigrante de um país de 3° mundo, sou sua empregada, mas, se as balas que eu deixo aí melhoram seu dia, fico feliz. Se quiser conversar, estou aqui também. O bom é que, se você falar rápido, eu nem vou entender tudo, então pode contar o que quiser!
Michael sorriu. Carmem se despediu e saiu.
No fundo, ele estava bem feliz por ter estado errado sobre a senhorinha. Uma moça como Carmen trabalhar para ele era mesmo uma grande sorte. Afinal, era muita sorte poder ter alguém para conversar, alguém que cuidasse dele, que demonstrasse se preocupar com ele... E além de tudo, uma moça tão bonita, gentil, divertida...
Michael fechou a porta e sentou-se na cama. Pegou o pacote de balas de baixo do travesseiro. Nele, o bilhete: "Semeie sorrisos para colher felicidade".
Ele precisava ser sincero consigo mesmo: vinha pensando em Carmen nos últimos dias, quase como um pano de fundo de outros pensamentos... Ele podia estar falando de um contrato, analisando uma locação, discutindo um acordo... o sorriso da moça de olhos castanhos e pele morena estava lá, nas vírgulas, nas pausas. Lembrar do desenho de suas costas sob o roupão grosso enquanto ela mexia nos armários, ou do desenho de seu pescoço revelado pelo cabelo preso no coque alto o rondavam mesmo que inconscientemente. E agora, que a ilusão de uma doce senhora cuidadora tinha se acabado e dado lugar para uma mulher que estava cuidando dele, era como se estes pensamentos saíssem das sombras e viessem para o primeiro plano.
- E o que eu vou fazer com isso? Eu vou acabar com a vida dela...
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Michael Jackson - Improvável
FanfictionSerá que uma pequena mudança, uma única decisão diferente, de um único personagem da narrativa da vida poderia ter feito os rumos de uma história mudar completamente? Carmen, assim como tantos brasileiros, fugiu da vida escassa do lado Sul da Améri...