Don't you know now
Is the perfect time
We can make it right
Hit the city lights
Then tonight ease the lovin'
Let me take you to the max
O processo do frango frito não estava tão simples quanto planejado.
- Nossa... Vou dar uma gorjeta maior toda vez que eu for ao KFC agora... que negócio difícil de fazer! - dizia Michael, passando o frango na farinha.
Carmen ajudava, sentada em uma banqueta alta, colocando o frango no óleo quente.
- Eu acho é muita graça você comer frango! Vegetariano de araque! - ria ela, fazendo Michael rir também.
- Mas amanhã, nada de proteína! Já combinamos! - decretou o rapaz.
Quando tudo ficou pronto, Michael fez questão de colocar a mesa completa e pegou a Polaroid para tirar uma foto. Primeiro registrou os pratos postos. Em seguida, pediu para Carmen se posicionar, pois programaria o temporizador para a máquina bater uma foto automaticamente. A moça hesitou:
- Quer que eu saia na sua foto?
- Claro! Acho que é a primeira vez que eu ajudo a fazer um almoço de verdade! Vem logo!
Ambos se colocaram e 10 segundos depois a máquina cuspiu o filme fotográfico, que registrou uma imagem satisfatória de um Michael sorridente e de uma Carmen insegura, apesar do sorriso.
- Podia ter sorrido mais. - pontuou Michael.
- Se minha tia vir essa foto, vai querer me despachar de volta para o Brasil. - respondeu a moça, entregando um prato para o patrão.
- Eu devia ser considerado um bom partido, ao invés disso, parece que sou a Fera da Bela e a Fera.
O comentário pegou Carmen de surpresa. O que ela responderia? O que aquilo queria dizer? Depois de servir-se e colocar o suco de laranja nos copos, achou que era preciso dizer alguma coisa.
- Engraçado você falar da Bela e a Fera... Eu me sinto meio a Gata Borralheira quando estou com você assim...
- A Gata Borralheira era a mais nobre entre as moças... foi escolhida como princesa.
- Isso só porque teve uma fada madrinha para fazer uma abóbora virar carruagem e seus trapos virarem um vestido para o baile, senão ainda estaria lavando pratos.
Depois do breve debate, ambos começaram o almoço e se cumprimentaram: a comida estava realmente muito boa.
Após ajustarem a louça, que Michael também precisou ajudar, decidiram sentar-se na beira da piscina. O dia estava quente, mas já havia sombra o suficiente para Michael caminhar pela área externa.
- Deve ser horrível não poder ficar no sol. - disse Carmen, que de repente se deu conta de que nunca tinham falado a respeito.
Michael ajustou o boné, pigarreou, dobrou as mangas da camisa, subindo-as até os cotovelos. Ali Carmen pode ver com clareza mais uma vez: as manchas. Grandes manchas brancas que cobriam os braços de Michael.
- O que é isso? - perguntou ela.
- Uma desordem de pele. É genético, não é contagioso. Destrói a pigmentação da minha pele.
- Essa é a razão das maletas de maquiagem... - concluiu Carmen.
- Sim... e de todos aqueles cremes. Além disso, tenho lúpus também, mas são todas doenças dos meus genes, você não pega por ter contato comigo... - explicou Michael.
Carmen não sabia exatamente o que eram essas doenças, mas ficou sem graça em perguntar. Ela sabia, no entanto que, a preocupação de Michael em explicar que não eram doenças contagiosas, se dava ao fato da grande epidemia de AIDS e da quantidade de pessoas que morriam disso.
- A esta altura eu não tenho problema em ter contato com você. - brincou Carmen, fazendo Michael rir uma risada tímida que ela achava extremamente atraente, e continuou - E os remédios são o tratamento para você ficar curado?
Michael suspirou... ele não costumava a conversar com ninguém sobre suas questões de saúde e achava curioso o fato de sentir ser tão fácil falar com Carmen a respeito.
- Não tem cura. Nenhuma das duas doenças. Tem tratamento, controle... Mas o vitiligo não... ele só vai aumentar...
Alguns segundos de silêncio... Até que Carmen se deu conta da informação que recebera.
- Você vai ficar branco? Tipo, todo branco? Porque você já está mais claro... eu achava que era porque tinha parado de tomar sol...
Michael começou a rir. A simplicidade de Carmen era uma dádiva... Era como se ele conversasse com uma criança. Ela não fazia muitas voltas para perguntar e não havia maldade em seu tom.
- Acho que fui ficando mais pálido porque parei de tomar sol também, mas sim, eu vou ter que passar por isso. Já estou passando. Mas já estou habituado: os jornais sempre tem alguma coisa para falar de mim, ou que sou homossexual, ou que quero ser uma mulher, que tomo hormônios para afinar a voz, que durmo numa câmera hiperbática, que comprei esqueletos...
- Credo! Tem umas aí que eu nunca nem ouvi! - disse a moça, horrorizada. - Como você vive desse jeito?
- Faz parte do trabalho... mas... cansa. Você começa a se dar conta de que o modo como você fala, ou como se veste, ou até os lugares que você visita podem gerar interpretações e você fica refém do que os outros pensam.
- No Brasil, os homens tem muita inveja de você, por isso falam que você é gay.
Michael deu um sorriso triste, mas curioso.
- Por que inveja?
- Ah, primeiro porque você saiu com aquela moça linda do filme da Lagoa, depois porque as meninas queriam que os homens fossem mais como você é, e não há nenhum homem como você, pelo menos não lá, mas acho que nem aqui.
Michael olhava para Carmen, que observava a água da piscina. Ela estava com o cabelo solto, e seus longos cachos castanhos caíam sobre seus ombros e peito. Com um vestido de malha verde simples, na altura dos joelhos, a moça tinha os pés na água e balançava-os displicentemente, ondulando a enorme piscina.
- Não sei o que é ser um "homem como eu"... - respondeu Michael.
- Ah... isso é fácil de responder, - começou Carmen - os homens olham para as mulheres vendo como podem usá-las: como empregadas, como objetos... a gente está sempre desconfiada de quem se aproxima da gente, mas você faz a gente querer estar perto porque trata bem, fala direito, tem respeito... Bom, eu pelo menos me sinto assim.
- Isso devia ser básico...
- Mas não é. - concluiu Carmen.
Michael queria fazer a pergunta, mas ele estaria ultrapassando a linha imaginária da intimidade? Ela citou sua ex-namorada, isso concederia o direito a esta pergunta?
Decidiu arriscar.
- Você namorava antes de vir pra cá?
Carmen sorriu. Um sorriso triste.
- Tive um namorado na época da escola. A gente até pensou em se casar depois que terminasse o colégio, mas... não tínhamos os mesmos sonhos. Eu acho que só estava com ele para não estar sozinha e ia me casar só para sair da casa dos meus pais. Aí percebi que podia trabalhar e sair da casa dos meus pais sem me casar e sem precisar de ninguém. Foi o que fiz.
- Aí veio para cá? - perguntou Michael.
- Não... ainda levou 7 anos até eu conseguir o visto! Seu país quase não me quis!
- E você fez o que nestes 7 anos?
Carmen começou a se levantar e Michael percebeu que ele ultrapassara a linha imaginária do limite de intimidade.
- Fiz tudo que podia para estar aqui hoje. Eu vou tomar um banho. Pode me ajudar a chegar ao meu quarto?
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Michael Jackson - Improvável
FanfictionSerá que uma pequena mudança, uma única decisão diferente, de um único personagem da narrativa da vida poderia ter feito os rumos de uma história mudar completamente? Carmen, assim como tantos brasileiros, fugiu da vida escassa do lado Sul da Améri...