Michael Jackson - Improvável

Capítulo 46

Peek in the shadow

Come into the light

You tell me I'm wrong

Then you better prove you're right

Eu sempre fui muito detalhista e até perfeccionista em tudo que fiz, e o vídeo com a minha versão dos fatos, a versão verdadeira dos fatos, não seria diferente. Teríamos uma entrada breve, uma pequena narração, legendas com a linha cronológica, e o corte para o vídeo feito pela filmadora implantada por Carmen no escritório de Chandler. O vídeo que ainda não tinha chegado.

_ E aí Bill? Vocês não iam agora de manhã? - eu perguntava para Bill pelo telefone, logo às 8h da manhã, depois de uma noite sem dormir, observando os aparelhos monitorando os sinais de Carmen e pensando em tudo que precisava dar certo e nas possibilidades de dar errado.

_ Sim Michael, eu já vou sair de casa e passar na delegacia. Esse meu amigo não é do caso, não pode fazer muito estardalhaço... Se há alguém comprado pelo Chandler lá dentro, temos que ser mais cautelosos ainda... - explicou Bill, e eu sabia que ele tinha razão, mas me dava nos nervos o fato de eu ter que ter cuidado com a própria polícia e claro, me lembrava dos relatos de minha namorada, dizendo sentir o mesmo quando sentia-se acuada no Brasil.

Também estava apreensivo com a cirugia de Carmen. Pelo que eu sabia, ela deveria entrar em operação por volta das 10h, e eu não via nenhuma movimentação... Já deveriam estar em preparação, não?

Eu via e revia a minha gravação... Pedi para toda minha equipe ver, o problema é que eu sabia que eles diriam que estava bom... Isso era uma droga: as pessoas tinham sempre uma tendência a dizer coisas favoráveis para mim, mesmo quando eu pedia para que elas fosses sinceras e verdadeiras, logo, eu nunca sabia se algo estava realmente bom ou não, então acabava confiando 100% na minha opinião, o que era algo muito solitário. Mas ali, naquela fita, eu não podia errar... Talvez fosse ainda mais importante do que qualquer vídeo ou álbum. Eu precisava de uma opinião sincera.

Eu queria que Carmen visse. Eu sabia que ela me diria se precisasse alterar alguma coisa.

Mas será que eu deveria importuná-la com aquilo? Seria seguro para a saúde dela? Bill seria uma boa pessoa também, até pelo conhecimento dele neste tipo de questão, mas ele estava fora. Foi quando me lembrei de algo que Carmen me disse, dias antes:

"Pensei nas duas pessoas que sei que se importam com você e quem eu confio.". Ela se referia a Bill e a Janet.

Sim, eu iria pedir a opinião da minha irmã.

_ Michael, por que você não conta mais a história e menos os sentimentos? - disse Janet, depois de ouvir apenas 10 minutos de um vídeo de 20 minutos no total.

Eu tinha um problema com críticas? Às vezes...

_ Porque é o que mais me afeta... o que a situação causa... - tentei explicar, mas fui cortado.

_ Olha só... Sério: a ideia do depoimento é excelente. Mesmo. Traz credibilidade, te aproxima da opinião popular. Mas você fez uma produção aqui. Parece algo muito elaborado Michael, e o Chandler vai lá, cara limpa, olho no olho. Eu sei que para você é muito mais complicado fazer o mesmo, mas eu acho que este vídeo tinha que ser uma coisa muito mais... simples. - argumentava ela.

Eu pensei naquilo por um minuto... Eu sabia que, num show, por exemplo, as pessoas gostavam de ver a pirotecnia, o ilusionismo, as luzes... Mas quando eu simplesmente colocava o casaco de paetês, a luva e o chapéu e dançava Billie Jean sob uma única luz, elas vibravam enlouquecidas. Quando eu pedia para acender as luzes, pegava o microfone, ia na frente e dizia apenas um "olá", os gritos eram ensurdecedores...