Capítulo 04

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Amuleto Steiloar: Livro reilarandense de fantasia; Amuleto mágico do livro “Amuleto Steiloar”; Em alguns exemplares, o amuleto vem junto com o livro.

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Eu não havia conseguido dormir direito a noite inteira, pela segunda vez consecutiva. Os últimos acontecimentos rondavam a minha mente, impossibilitando o sono.

Eu havia recebido uma herança de um homem que eu nem conhecia. Meus pais mentiram para mim por dez anos. Gustavo havia se declarado para mim (uma declaração falsa, devo ressaltar). E, no dia anterior, foi até minha casa. Tive que fingir passar o dia inteiro arrumando meu guarda-roupa e outros pertences meus. Antonio, meu advogado, havia me pedido para ir à fazenda com ele. Ele precisava de mim. Milhares de pessoas dependiam de mim. E eu não conseguia pensar direito.

Na manhã seguinte, acordei mais cedo. Eu e minha família iríamos à missa na igreja da província. Por isso, todos tomávamos café juntos. Era um dos poucos momentos que nos reuníamos. E, poderia ser uma boa oportunidade para falar sobre a Fazenda Fernandes.

— Como era a fazenda que a gente morava antes de mudar para cá? — perguntei, fingindo não ser nada demais.

A reação de cada uma dos presentes foi diferente. Meu pai deixou um pouco de café, que estava colocando em sua xícara, cair em cima da mesa. Andressa arregalou os olhos. Minha mãe engasgou com o farelo do bolo. Fingi que não percebi e continuei.

— É que essa noite eu sonhei com uma fazenda. — contei, antes de levar a xícara com leite à boca.

Não era mentira. Quero dizer, nos poucos momentos que peguei no sono, sonhei com um lugar que parecia ser mesmo uma fazenda. Mas, não me lembro o que aconteceu. Entretanto, eu possuía a sensação de que era um sonho bom. Seria uma lembrança do passado ou apenas sonhei com o local de tanto pensar sobre a herança e toda essa situação? As chances de ser a segunda opção eram maiores.

— E tinha um homem comigo. — completei, falando uma pequena mentira — Um homem mais velho. Mas, eu não conheço.

— Lá era bonito. — minha mãe respondeu, após recuperar do engasgo — E sonhos são estranhos mesmo. Não se preocupe.

Eu não estava preocupada com meus sonhos, mas com as mentiras da minha família. Até onde eles iriam? Por que faziam isso comigo? O que havia feito de tão grave para merecer esse tratamento por parte deles? Será que era porque Mario passou tudo para mim, e não para Andressa? Que culpa eu tinha?

— O que Gustavo queria conversar com você na sexta? — minha mãe perguntou — A gente mal teve tempo de falar sobre isso.

Desde quando você tem tempo para conversar comigo? Pensei em dizer. Se não fosse para reclamar ou mandar em mim, minha mãe nem falava comigo.

Eu estava me sentindo desconfortável em ter esse tipo de assunto com ela. Nunca conversamos sobre garotos. Aliás, nunca teve garoto algum. E, mesmo que estivéssemos falando sobre Gustavo, e que sabíamos que a declaração era falsa, eu não sabia o que dizer. Como responder.

— Nada demais. — disse, dando de ombros e mordendo o pedaço de bolo.

— Nada demais, tipo o que? — ela voltou a indagar.

Engoli o bolo e bebi um pouco de leite. Resolvi falar a verdade. Ela sabia mesmo. Mentir não adiantaria em nada. Apenas estaria me igualando a eles.

A Herança - Livro 01 Da Trilogia "Mudança De Vida" [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora