Him

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Vesti a bermuda branca emprestada da vizinha da frente, Eddie tinha me entregado uma escova de dentes nova.
"Eu ia trocar a minha que está velha, mas você precisa mais", ele comentou. Então eu escovava os dentes na pia do banheiro, sentindo tamanho alívio.

- Tudo bem aí? - ele apareceu na porta entreaberta, me fazendo recuar.

Seus olhos estavam vermelhos e a pele ainda mais pálida. Assenti e ele saiu.

- Você tá bem? - soltei antes que ele se afastasse de vez. - tá esquisito.

- De novo esse papo de esquisito, Mary?

Ele seguia em direção a porta da frente, agitado e conferindo os bolsos.

- Tira a sua soneca na minha cama, tá? - falou. - Eu tenho que fazer uma coisa.

Ele parou um pouco quando alcançou a porta, mas saiu em seguida sem olhar pra mim. Me preocupei com sua aparência doentia, mas não éramos conhecidos nem nada, então aceitei que não devia me meter em seus assuntos, bebi água e procurei pela cama que ele tinha mencionado.

Deitei ainda com os cabelos molhados, encarando o teto por demorados minutos e fechei os olhos para dormir, mas não conseguia mantê-los assim. Em vez disso olhei ao redor pelo quarto de Eddie, havia roupas bagunçadas num canto do colchão, provavelmente porque ele as jogou procurando por algo que desse em mim, atencioso. Pelas paredes dispunham-se pôsteres de bandas de metal, uma garrafa de cerveja vazia estava sobre a cômoda de uma gaveta aberta que eu me via prestes a vasculhar se meu pé não tivesse batido em algo duro no chão quando me sentei.

Metade de um pequeno caixote escuro aparecia de debaixo da cama, me pus de joelhos no chão e a puxei para fora.
Abri a lancheira de metal.

- O que é isso, senhor Edward?

Vários saquinhos transparentes resguardavam-se ali, uns com substância em pó, outras em cápsulas, alguns comprimidos e ervas moídas. Todo aquele comportamento obsessivo fazia sentido agora, a expressão de negação quando achou que eu estava chapada, o tique de coçar o nariz, a palidez nada saudável e até o cuidado que tinha comigo. Eu não sabia se deveria sentir preocupação, medo ou pena. Merda, Eddie era o drogado.

Procurei por qualquer outro elemento que o defendesse, mas ele tinha acabado de sair daquele jeito e eu não conseguia imaginar um motivo que não envolvesse o uso ou compra de drogas. E eu estava ali, na casa dele.

Fechei e escondi a caixinha novamente, voltando a posição inicial para dormir. Dessa vez fiz algum exercício de respiração que conhecia e tentei deixar a mente limpa, com dificuldade depois da descoberta recente e inúmeros questionamentos que nasciam sobre a minha viagem digna de filme de ficção cientifica, matutei sobre a procedência do meu próprio corpo na época em que eu o tinha deixado, eu estava duplicada? O tempo congelou lá? Evaporei com um teletransporte e já estava dada como desaparecida? Balancei a cabeça para espantar esses pensamentos, com sorte teria todas as respostas para essas perguntas em alguns minutos, só precisava dormir outra vez e então acordaria lá, do jeito que aconteceu da ultima vez. Senti os olhos pesarem e o corpo afundar aos poucos no colchão enquanto as coisas se misturavam em minha mente e deixavam de ter nexo, respirei mais algumas vezes e adormeci.

- Então trouxe isso pra você.

O quê?

- Não, ainda não parece bom. Experimenta!

Tem alguém no meu quarto?

- Pior ainda. Vi isso e lembrei de você!

Ele riu e mastigou algo crocante.

- Ah, claro, você sempre visita lojas de lingerie femininas, hum, gênio?

Ele estava falando sozinho, eu não estava no meu quarto.

A Glimpse Of Us | Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora