As coisas já estavam difíceis àquele ponto, tudo se complicava entre nós e nenhum dos dois tinha culhões pra trazer à tona e tentar resolver. Nossa relação era instável, as discussões constantes, a vida adulta batia com força na porta e nossas rotinas se tornaram algo impossível de contornar. Não se passava uma semana sequer sem que a gente se desentendesse pelo menos uma vez. Eu resolvi dar o primeiro passo naquele dia porque me sentia horrível e não sabia como me reaproximar dela. A música ia mal, a escola pior ainda e meu tio tinha ido dessa pra melhor. Nada estava bem o bastante pra me convencer de que valia a pena continuar são. Precisava de mais.
- Nossa, o tempo tá péssimo lá fora!
Ela acendeu a luz do quarto assim que entrou, jogando a bolsa de lado e pisando com um pé no outro pra sair de dentro das botas encharcadas.
- Eu tô exausta - me deu um selinho. - não sabia que você vinha, amor.
- Eu avisei mais cedo.
Mas ela não deu muita bola, buscou uma toalha no banheiro do e agora secava o cabelo ensopado pela chuva.
- Você demorou.
Tinha se passado uma hora desde o horário em que ela normalmente chegava em casa depois da aula.
- Assisti uma palestra pra garantir umas horinhas extras e acabou demorando - depois de trocar de roupa, checou a tela do celular. - Caramba, como é tarde! Vai dormir aqui?
Não gostava de imaginar que ela soubesse porque eu estava ali e só fingisse que não, pra não tornar o problema real.
Fui direto ao ponto.
- A gente precisa conversar, né.
Falei retoricamente e ela deu um suspiro longo.
- Tem que ser hoje? Tô cansada.
Eu também estava cansado e comecei a ficar irritado quando me dei conta disso. Eu morava há seis horas dali e ela não parecia nem um pouco feliz em me ver.
- É, eu esperei aqui por um tempo... - falei baixinho.
- Ah, desculpa, eu tava na faculdade e não vi suas mensagens. Pode ser amanhã?
O descaso com que tratava aquilo me revoltou um pouco. No momento até desviei o olhar, sem acreditar no meu próprio comportamento.
- Não, Marilyn, não dá, já adiamos isso demais, não dá pra continuar assim.
Foi quando ela percebeu a seriedade no meu tom de voz.
- Assim como?
- Assim! - abri os braços indicando a comunicação incrivelmente falha que instalamos ali em um minuto só. - Não dá pra ficar ignorando, já chega.
Os braços dela caíram e seu olhar se fixou no meu. Um leve inclinar na cabeça e ela me questionou.
- Foi isso que veio me dizer? Que "já chega"?
Mas não me deu tempo pra responder e contribuiu com a minha impaciência ao reagir exageradamente.
- Vai terminar comigo?
Foi uma surpresa pra mim quando não consegui responder de imediato, só balancei a cabeça algumas vezes, sobrecarregado de sentimentos confusos e pensamentos mais ainda. Esfreguei o rosto.
- Não, quer dizer, sei lá, eu...
- Ai, meu deus... - Mary cobriu a boca.
Pensei estar sendo injusto por um instante, mas lembrei logo em seguida das outras vezes em que nos vimos e de quanto tempo fazia desde a última vez que nos divertimos juntos.
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A Glimpse Of Us | Eddie Munson
Fiksi PenggemarPode o amor resistir ao tempo? "Contemplei a loucura na qual eu estava metida: agora os dois Eddies estavam na mesma realidade e se encontrariam em breve, eu não tinha sido capaz de escolher só um deles e agora beirava uma hipotermia depois de me af...