Wheels on the bus

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A face de Eddie tornou-se indescritível e ele permaneceu em silêncio desde o momento em que seu tio nos abordou até o café da manhã improvisado para o qual fomos convidados no instante seguinte.

"Ou entrem e tomem um café antes de ir, fiquem a vontade", disse o homem.

Por causa disso nos reunimos na mesa da sala de jantar, eu, o meu Eddie, Mary e Eddie de 82 e um senhor Munson assustadoramente bem informado da mesma época, onde pacificamente nos alimentávamos de torradas com geleia e suco que só percebi que precisava quando comi. Não parecia de todo incoerente que estivéssemos ali, mas Wayne foi incisivo quando nos orientou que seguíssemos para Lenora, onde ocorreu o último evento memorável no tocante ao meu relacionamento com Eddie, e dessa forma ele nos deu alguma lógica, na medida do possível, sobre o que estava acontecendo conosco.

Assim foi que confirmamos nossas teorias e tomamos noção do que fazer a diante, se estávamos no caminho certo, e era mesmo muito aleatório que o dono de tanto conhecimento fosse ele, talvez por isso (e pela presença ameaçadora dele) Eddie o encarava descontente, de braços cruzados, a perninha agitando-se nervosamente e o olhar desafiador procurando uma oportunidade para confrontá-lo.

- Por que eles dois não estão estranhando essa conversa? - foi a primeira coisa que Eddie disse diretamente para o tio, de repente sem paciência, com relação às outras versões de nós.

Felizmente passamos pouco tempo em contato com as nossas cópias - que em momento algum nos estranharam. Wayne deu uma olhada neles, depois em mim e ao notar o desconforto de Eddie diante de sua presença ele suspirou antes de responder.

- São NPC's sem consciência, vão agir exatamente conforme seus personagens, mas... - senhor Munson negou com a cabeça em direção a eles. - não vão raciocinar a metalinguagem.

Eddie riu com desdém.

- Meu tio não fazia ideia do que significa "metalinguagem" e muito menos o que a porra de um NPC é.

- Não deveria subestimar ele tanto assim.

- "Ele"? - Eddie começava a ficar irritado, então Wayne levantou-se e sugeriu que o seguíssemos porque tínhamos pressa e "já estava ficando tarde", se despediu do casal e mergulhamos num silêncio horrendo durante a viagem de carro até o nosso ponto final, o próximo ponto salvo do nosso joguinho perverso.

Não me dei por satisfeita e prossegui com a coleta de informações para me sentir no controle da situação - quanta ingenuidade. Eddie não abriu a boca durante a maior parte do trajeto de carro e nem mesmo quando nos aproximamos do que parecia ser a nossa parada, nem quando descemos e atravessamos numa longa caminhada o estacionamento do que eu estava prestes a descobrir de que se tratava.

Aos poucos a figura gigante de um ponto de ônibus emergia diante dos meus olhos, e conforme eu prosseguia e o lugar se expandia, abriam-se também em minha memória espaços até então adormecidos de onde resgatei fragmentos de uma vida esquecida.

O lugar estava vazio, sem pessoas, sem veículos, sem ruídos além dos nossos passos sobre o calçamento. A procura por algo deslocado do cenário não foi difícil, visto que nem precisei alcançar o lugar para identificar um único ônibus presente ali. .

- E ela? - Eddie disse de repente sobre a Mary que estava em perigo, a razão de estarmos ali. - Viemos ajudar ela, o que acontece quando formos embora?

- Nada - Sr. Munson deu de ombros, me trazendo alívio. - Essa não é a sua missão, a dimensão que deixaram para trás deixou de existir como essa também irá assim que partirem. Nenhuma versão foi concretizada ainda, ela não vai morrer.

- Isso é esquisito.

Ouvi um risinho vindo do homem antes de reagir. Deu um tapinha no ombro do sobrinho e apontou para o ônibus que eu tinha visto, direcionando nossos próximos passos.

A Glimpse Of Us | Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora