At sea pt.1

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Com dificuldade consegui parar de chorar, desesperada com a ideia de não conseguir mais voltar pra casa ao mesmo tempo que triste por não estar no controle do meu próprio coma, se estivesse em um. Eddie era muito real para ser uma alucinação, eu não teria sentido seu hálito no meu rosto se ele não fosse, não teria arrepiado com seu carinho nem teria me derretido por ele após tudo isso. Quem leva um fora e paga de dopada no próprio sonho?

Agora eu me encolhia no sofá, fungando sob a luz da televisão ligada. O tio de Eddie havia chegado no momento em que estávamos abraçados na cozinha, mas não tivemos nenhuma conversa estranha, em parte porque eu estava muito triste para falar e em parte porque eles dois tinham uma boa relação e aparentemente ele sabia que não estávamos fazendo nada de errado.

Nos cumprimentamos minimamente com "boa noite" e ele pediu que Eddie não esquecesse de jantar, ao qual ele respondeu com "sim, senhor". Eddie agora tinha terminado seu banho e eu conseguia ouvir eles conversarem baixinho na cozinha.

- Não é uma garota - Eddie disse.

- "Não é uma garota"? - Sr. Munson repetiu, quando eu era claramente uma garota.

- Quero dizer que não tô com ela, só dando abrigo enquanto ela...

Ele abaixou a voz ainda mais e pude jurar que ele havia me olhado de canto.

- Enquanto ela se recupera - terminou.

Fiz questão de não ouvir o restante da conversa e cobri os ouvidos com muito desgosto. Fiquei nessa posição não sabia por quanto tempo, só a desfiz quando senti Eddie me cutucar com um copo de água e chamar pelo meu nome.

- Vem jantar - ele disse. - fiz macarrão, sei que tá tarde mas só falta você.

Já eram seis, a noite havia chegado. Segurei o copo e disse a ele que estava sem fome, mas meus olhos vermelhos entregavam que meu problema era na verdade uma puta tristeza.

Ele deu a volta no sofá e sentou junto à mim, sua mão ponderou entre encostar em mim ou não, então o ajudei me movendo para longe e ele a abaixou.

- Vem comigo então.

Olhei pra ele e desejei não ter feito isso no instante em que o vi de cabelos úmidos e um ar limpo, incrivelmente cheiroso. Não me mexi, então ele se levantou e pude vê-lo numa roupa diferente, uma camisa de botão jeans azul marinho e outra calça preta rasgada.

- Confia em mim.

Faziam só doze horas que eu tinha acordado na mata, metade de um dia e eu seguiria ele se ele me pedisse, como tinha feito inúmeras vezes ate ali e como estava fazendo naquele exato momento. Confiei quando ele me entregou um casaco e uma lanterna antes de entramos em seu carro, confiei de novo ao descermos na mesma floresta onde ele havia me encontrado e de novo quando caminhamos por uma trilha até a beira de um lago.

Uma grande sequência de confiar se fez, mas tudo estava bem porque ele segurava o meu pulso durante todo o trajeto e eu não era tão louca, sabia que Hawkins era segura e naquela época tendia a ser ainda mais.

- Isso não - eu lhe disse. - não sei nadar.

- Tem medo de água?

- De águas escuras e fundas que guardam todo tipo de perigo dentro, sim.

Me pediu a mão de novo e caminhamos mais um pouco até uma casa ali perto.

- Não vou enrolar, tá? - ele disse. - Quero conversar com você.

- Tinha que ser num lugar esquisito?

Eddie riu e entramos iluminando a casa com as lanternas. Estava empoeirada e bagunçada, como se não visse nenhum morador há semanas, e tinha algo estranhamente familiar nela.

A Glimpse Of Us | Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora