Horse year

321 26 25
                                    

A esse ponto eu estava assustada, pensando em tudo o que podia ter acontecido enquanto eu estava desacordada. Não estava com o meu celular e meus pais deviam estar desesperados. Como acabei saindo de casa sem que ninguém percebesse? Será que alguma coisa séria tinha acontecido e o meu cérebro apagou para me proteger? Ou o que quer que tenha havido também atingiu os meus pais? Eu nem mesmo era sonâmbula, muito menos drogada. Outra coisa que me incomodava era o fato de saber que estive no telefone com alguém antes de adormecer, mas por alguma razão não conseguia lembrar quem.

- Ei - ouvi Eddie chamar um pouco a frente de mim, desacelerando os passos para que eu o alcançasse. - Não fica afastada da gente, aqui é perigoso, temos que ficar juntos.

Assenti ainda perdida em meus pensamentos.

- Cê tá bem?

Apenas concordei novamente. Me intrigava a sorte que tinha dado de encontrar três caras generosos e respeitosos naquele momento tão vulnerável. Era extremamente suspeito, mas eu tentava não transparecer esse sentimento porque precisava da ajuda deles, não conseguia reconhecer nenhum pedaço de terra pelo trajeto, o que me fazia questionar se Eddie estava mentindo.

- Aluna do H.H.S? - ele perguntou, como se tivesse lido meu ultimo pensamento. Eu havia estudado em Hawkins High School.

- Já conclui o ensino médio - respondi.

- Parabéns - disse ele, pouco intimidado. - Então tem o quê, mais de 20?

- Você tem mais 20? - retruquei.

Ele fez que sim.

- Então devemos ter a mesma idade.

- Ano do cavalo - comentou com relação ao zodíaco chinês referente ao seu ano de nascimento.

Sorri novamente. Eddie era um cara aculturado.

- E você - eu disse. - o que faz?

- Nada demais - ele repetiu a pose das mãos no bolso da calça enquanto caminhava. - você sabe, toco algumas musicas, jogo alguns jogos... - encheu a boca de ar e soltou rapidamente antes de continuar. - senior no Hawkins High e passo as horas vagas resgatando garotas perdidas em florestas.

Pude sentir seu olhar satisfeito sobre o meu rosto enquanto eu dava risada.

- Que tal? - ele perguntou, sorridente.

- Nada mal.

Encontrei uma van estacionada logo a frente com o olhar, e pelos passos acelerados de Eddie na direção dela percebi que era sua. Os dois rapazes entraram rapidamente e Eddie assumiu o volante indicando que eles fossem para a parte de trás, provavelmente pra que eu, a novidade, não estranhasse e sentasse com ele na frente. Mas mesmo assim eu permaneci no lugar, apreensiva, não sabia se era uma boa ideia entrar em um carro com três garotos desconhecidos.

- Você vem, Mary? - Eddie mostrou a cabeça pela janela aberta.

Engoli em seco. Era isso ou permanecer no meio da mata, sem previsão de outra oportunidade para sair dali. Por fim, segui seus passos e me afundei no banco ao lado do seu, bem encostada à porta e com a mão sobre a maçaneta. Eddie me olhou antes de dar partida e em pouco tempo estávamos na cidade.

Eu observava os estabelecimentos pela janela, tentando reconhecer algum ponto de referência que remetesse a minha casa, mas em vez disso eu me sentia cada vez mais afastada dela.

- Pode me emprestar o telefone? - pedi de repente.

- Como assim?

- Preciso falar com meus pais - comecei, nervosa. - talvez eles me busquem na escola ou sei lá, talvez estejam hospitalizados, eu não sei, não consigo achar o caminho pra casa.

A Glimpse Of Us | Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora