Sunsetz

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Dava pra ver que Eddie ainda não estava tão bem assim, para completar eu tinha lhe chateado com a história de uma cópia sua por quem eu tinha igualmente um carinho especial. Não ouvi mais sua voz até chegarmos em casa, o que tornou o trajeto insuportavelmente quieto e ameaçador para o meu coração mole e medroso, batendo forte com receio do que aconteceria e esmagando meu ser com culpa pelo que já tinha acontecido.

Mesmo depois da conversa relativamente boa Eddie queimava em crise, saturado de eventos estressantes num só dia, sabia disso pois podia ver aqui e ali seus tiques nervosos enquanto dirigia e seu rosto sério quando chegamos em casa.

- Se importa? - ouvi Eddie dizer e olhei para ele, que me mostrava uma garrafa de cerveja enquanto segurava a porta da geladeira aberta com as mãos trêmulas.

Não gostava nada da ideia de ele ser alguém que bebe para não lidar com os próprios pensamentos, mas se ele ia fazer o que sempre fazia para esquecer dos problemas eu não podia simplesmente intervir e lhe impedir de ser o que era. Também não queria que ele tentasse lidar sozinho com aquilo, afinal eu estava ali, por isso o segui quando andou até o quarto e fechou a porta indicando que não queria companhia.

- Dá um tempo pra ele - Sr. Munson me disse assim que dei um primeiro passo.

Vi ele balançar a cabeça indicando que eu não fizesse isso, então voltei à posição em que estava. Estava óbvio que Eddie tinha problemas maiores que o meu pequeno passeio por aquele pedaço de realidade, por isso resolvi deixar que alguns programas de TV se passassem enquanto eu rabiscava num caderno sobre os joelhos no sofá. Mas se passou tempo demais e fiquei preocupada, então levantei disposta a tirá-lo de lá e lhe fiz sanduíches da forma que ele tinha feito quando me ajudou primeiro.

Parei em frente à porta e bati algumas vezes, mas não tive resposta, então
a abri antes que tivesse tempo de imaginar as possíveis razões por trás disso e entrei rápido com os olhos fechados, apenas para me surpreender ao encontrá-lo dormindo pacificamente sobre o colchão - que seu tio havia recolocado na cama depois de secar.

Me aproximei com cuidado para não acordá-lo e lentamente me agachei em frente à ele, observando de perto seu rosto sereno afundado no travesseiro ao passo que ressonava com os lábios afastados e o cabelo bagunçado para trás, me convidando à acariciá-lo, o que não me impedi de fazer. Notei a garrafa de cerveja em uma de suas mãos e a livrei dela, recebendo um resmungo sonolento.

- Meu deus, você é lindo - sussurrei apoiando o queixo na cama para admirar. Continuei passando os dedos por seu cabelo e sorrindo feito boba para ele, levando um puta susto quando percebi que ele tinha escutado ao flagrar um dos olhos abertos na minha direção, o outro contraído de sono.

Suas mãos firmes agarraram meus pulsos mais rápido do que pude processar, me puxando de encontro a ele. De repente eu estava debruçada sobre seu peito e tendo seu rosto ainda mais perto do meu.

- Quem é a observadora esquisita agora? - ele disse com a voz rouca extremamente atraente.

Vi nascer um sorriso em seus lábios e sorri de volta ao ver que ele estava bem.

- Má notícia, você dormiu por quarenta anos - sussurrei de novo. - estamos em 2026.

- Ótimo, então posso eliminar minha cópia barata pessoalmente.

Senti o coração aquecer um pouquinho encarando seus olhos carregados de sono e ajustei meu corpo à posição em que ele tinha me deixado, encaixando as pernas com seu corpo entre elas.

Indiquei o prato com lanche na cômoda e pedi que ele se servisse, me erguendo para sentar sobre ele na cama e tendo a visão de sua barriga para cima, a camisa amassada mostrando um pouco da pele. Perguntei se ele estava bem.

A Glimpse Of Us | Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora