Speak to me

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A sensação de ser engolida pelo medo não era algo desconhecido por mim, mas isso passava longe de significar que eu estava acostumada, a gente nunca se acostuma com algo tão ruim. Mesmo que aquele episódio tivesse durado no máximo cinco minutos minha mente repassava as frases da garota, a cena de Eddie me contando sobre o trauma que viveu com ela e todas as possibilidades do que encontraria quando ele abrisse a droga da porta do banheiro, tudo ao mesmo tempo, fazendo o ambiente girar e meu ouvido zumbir como se minha cabeça fosse explodir a qualquer instante.

Dentro do lar caótico que era o meu cérebro a realidade em que eu abriria os olhos para encontrar Eddie desmaiado no chão ou sangrando pelo nariz ficava mais próxima a cada batida que o tio dele desferia contra a porta, chamando por seu nome sem receber resposta e muito menos preocupado do que deveria estar.

Tapei os ouvidos e me agachei no chão sentindo o peito queimar em desespero, os sons ficaram abafados e apertei os olhos com força, desejando sair dali ou desmaiar também para não ter que lidar com o que iria acontecer depois. Me ocupei tanto em me convencer de que seria totalmente consumida pela densidade do ar e rasgada em fragmentos microscópicos pelas lâminas de pavor que me encurralavam, que não percebi Eddie me chacoalhando pelos ombros e chamando meu nome repetidamente com a voz afetada.

- Jesus cristo, Mary, o que houve? - deu pra ver a preocupação em seu rosto quando abri os olhos embaçados. - me diz o que houve.

Me senti culpada por estar tão mal e recebendo sua atenção quando era ele a única vítima naquela situação, então só chorei mais e escondi o rosto.

- Ei, tá tudo bem - ele agarrou minha cabeça e a empurrou contra seu peito, me abraçando. - tô começando a achar que sou um péssimo namorado, você já chorou umas cinco vezes desde que chegou aqui, mas nenhuma foi desse jeito.

- Desculpa - solucei contra ele. - eu achei que você...

- Eu sei, tá tudo bem, olha aqui - Eddie me afastou para que eu pudesse vê-lo. - ei, olha pra mim, eu tô bem.

Olhei pra ele com muita vergonha por ter conseguido piorar uma situação péssima por si só, fazendo cosplay da ex namorada instável que tinha resolvido aparecer pessoalmente e dando dor de cabeça em dobro para Eddie e seu tio que retornava da cozinha com um copo de água.

- Tô bem, tá vendo? - ele sorriu. - só fiquei enjoado.

Segurei o copo com as mãos trêmulas.

- E também entupi a privada com... - ele olhou para o tio de relance, estava falando sobre a maleta de drogas. - você sabe, pro caso dela querer ou... eu querer.

Arrastei a mão pelo nariz escorrendo, estava nojenta de chorar e meu corpo ainda processava o que era realidade e o que não era, como se a qualquer momento eu fosse me virar e encontrar o Eddie verdadeiro morto sobre o chão.

- Por que trancou a porta? - perguntei sentindo o olho transbordar de novo.

- Oh, eu sei que já somos bem íntimos, mas não queria que me visse colocando os bofes pra fora - ele passou a mão no meu cabelo, rindo. - desculpa, não quis te preocupar desse jeito.

Funguei mais um pouco recuperando o fôlego, era eu quem estava causando preocupação sem ter nada a ver com a história enquanto ele assumia o papel de consolador.

- Desculpa - limpei os olhos. - você tem mais com o que se ocupar, vou ficar bem, pode ir.

Me levantei no chão sentindo as pernas fracas, fazia um tempo desde a última crise que tinha me atingido. Eu não tentaria lhe explicar minhas condições mentais pois não queria soar como alguém que justifica os próprios atos com isso - mesmo que eu pudesse.

A Glimpse Of Us | Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora