Softcore

175 21 9
                                    

Uma música muito boa tocava de fundo, tive que forçar um pouco a mente para descobrir qual era porque pertencia à minha adolescência ou algo assim, algo que eu não costumava ouvir mais. Sentia o corpo muito leve e o coração apertado ao mesmo tempo, como se algo muito bom (ou muito ruim) fosse acontecer em seguida. Sentia vento no meu rosto e não sabia onde estava, mas aos pouquinhos me vi encarando o letreiro de um ônibus do qual desciam pessoas apressadas com mochilas e malas. O barulho ambiente quase ultrapassava a letra que soava dos meus fones de ouvido e um cheiro muito familiar me atravessou numa brisa muito boa, me fazendo fechar os olhos para aproveitar.

- BU!

A voz firme soou de repente me espantando pelo volume e pelo vento de sua boca muito perto do meu rosto, como se ele estivesse bem atrás de mim. Me virei muito assustada após soltar um grito baixo.

Ele sorria com os lábios muito satisfeito, o queixo erguido, muito sapeca e as mãos escondidas atrás do corpo - indescritivelmente bonito com aquela blusa xadrez azul aberta por cima de uma camisa clara e o cabelo um pouquinho maior do que na última vez que nos vimos, grande o suficiente para cair sobre seus olhos e o envolver com ondas castanhas graciosas ao redor da cabeça despertando uma enorme necessidade de enfiar meus dedos entre elas para conferir a maciez aparente.

- Eddie - eu disse. - Que susto, porra!

Desferi um tapa em seu braço e ele riu, se divertindo com minha irritação. As palavras fluiam de mim como se eu estivesse realmente vivendo aquilo em primeira pessoa enquanto simultaneamente assistia de fora, ciente de que aquilo era uma lembrança. Tentei me recordar daquele dia, mas tudo o que conhecia era a sensação de ansiedade que ele me trazia.

- Tá bonita - ele mostrou os dentes apontando para o meu vestido, mas mudou logo de postura e pigarreou sem me dar tempo de agradecer. - tá ouvindo o quê?

E rapidamente me tomou um dos lados do fone e enfiou no ouvido, concentrado para avaliar a música e me lançando uma careta poucos segundos depois enquanto balançava a cabeça em desaprovação.

- Isso não é nada punk rock da sua parte, Mary - me devolveu o fone.

Não pude evitar de sorrir para ele, estava tão lindo e me fazia sentir tantas coisas boas só com aquele gesto que era impossível não entender como foi que me apaixonei por ele.

Eddie espremia os olhos por causa do sol e falávamos um pouco alto pelo barulho do movimento na rodoviária, olhei ao redor brevemente e forcei um pouco mais a memória tentando me situar no tempo. Ele não tinha nenhuma bagagem, mas deduzi que tinha acabado de chegar de Lenora e eu só havia perdido a chance de vê-lo descer do ônibus.

A ansiedade estava ali provavelmente em virtude de ser o meu primeiro encontro com Eddie depois do show na quadra da escola e outra coisa que sabia era que a música em questão era muito recente porque a ouvi repetidamente após o lançamento datado bem próximo do meu aniversário.

Caralho, meu aniversário.

- Você veio! - falei, ele respondeu "aham" muito animado, agitando a cabeça.

Eddie abriu bem os braços para que eu o abraçasse e com urgência me vi enterrando o rosto em seu peito e pressionando meus braços ao redor dele com muita força sobre o tecido confortável, ele deu um passinho para trás com o impacto enquanto sorria.

Seu cheiro me embriagava adentrando meus pulmões como se eu precisasse dele para respirar, sua mão direita segurou minha cabeça deixando um carinho gentil com a ponta dos dedos, o queixo descansado sobre o topo dela enquanto balançavamos levemente de um lado para o outro. Aquele era o nosso primeiro abraço, eu mal conseguia decrever ou mesmo decifrar a felicidade que me preenchia e o ritmo acelerado que meu coração aderia a cada novo segundo junto dele.

A Glimpse Of Us | Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora