What once was

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Tendo meu plano esclarecido e Eddie em total acordo com isso eu gastei um bom tempo tentando estupidamente associar o drama da minha vida a um corte de cabelo novo. Depois de tomar banho e vestir uma das roupas limpas (roubadas) eu tentava não introduzir novamente o espaço bagunçado de minha mente onde estavam fragmentos do que eu e Edward tínhamos sido.

A questão da ligação com ele até tarde antes das viagens começarem era outra dor de cabeça, mas me impedi de focar nisso porque a hipótese de que eu e ele havíamos não só namorado e terminado como também reatado e eu só tinha esquecido desse detalhe me assombrava muito.

De qualquer forma eu definitivamente não procuraria por ele depois daquele dia, não iria interagir mais durante os sonhos e também fingiria que ele não existe caso retornasse ao futuro. Detestaria machucar o Eddie que eu tinha com toda essa novela, então seria melhor assim, eu lhe diria isso porque era dona de uma honestidade irritante e então o que quer que tenha acontecido entre nós ficaria para trás de uma vez por todas.

Era isso que eu repetia mentalmente enquanto segurava a tesoura roubada da escola em frente ao espelho do banheiro com uma mecha do meu cabelo entre as lâminas, pronta para fechá-las e cortar permanentemente o excesso tal qual eu faria com o Eddie número dois.

Fechei os olhos e respirei fundo uma vez, sem pensar muito fechei a tesoura e parti uma bela quantidade de fios, dando vida à uma ideia esquecida de muito tempo atrás porque me alimentava de possibilidades e nunca as realizava. Mas agora eu estava realizando, e prometi à mim mesma que nada após isso atrapalharia minha jornada seja lá qual fosse ela, só precisava focar em estar ali, com o meu Eddie.

- Uooou - ele surgiu na porta aberta e cruzou os braços recostado no batente.

Observei seu sorriso pelo reflexo e notei ele se aproximar enquanto eu desferia mais alguns golpes pela extensão do cabelo até me dar por vencida e confiar a tesoura a ele para acertar a parte de trás, mantive os olhos e as mãos bem fechados enquanto mentalizava vaidarcerto vaidarcerto vaidarcerto para que o arrependimento não me consumisse.

Quando terminou sua mão varreu algum cabelo dos meus ombros e ele posicionou o rosto bem ao lado do meu, nós dois encarando o espelho. Podia apostar que ele procurava pela coisa mais engraçada possível para comentar.

- Eu gostei, Punky - disse sorrindo.

Punky era uma criança rebelde de um seriado famoso daquela época, soquei seu braço de leve pelo comentário e trocamos risadas por um instante. Era esse o meu objetivo, aproveitar cada milésimo possível com ele.

- Melhor? - perguntou.

Como se revivesse o possível término eu encarei meu reflexo tentando enxergar uma versão melhor de mim na ausência do cabelo que havia cultivado por muitos anos e que agora batia com dificuldade na metade do pescoço (tentei não focar muito nisso para não surtar). Finalmente sorri ao me encontrar no que via, mais leve que nunca.

- Melhor - afirmei.

Fiquei enjoada durante todo o trajeto de casa até o destino desejado, onde Eddie me deixaria e então seguiria até a escola - era uma típica quinta-feira. O enjoo continuou quando a van estacionou, quando descemos dela e caminhamos de mãos dadas até o interior do shopping e até quando dei alguns passos para longe dele na direção da cabine de fotos, esticando nossos braços para prolongar o contato antes de me despedir dele e olhando para trás uma última vez, certa de que assim que olhasse de novo ele não estaria mais ali.

Dei um passo para dentro da cabine e confirmei minha hipótese, olhando ao redor outra vez e não só dando falta do meu Eddie, mas de todas as pessoas que deveriam estar preenchendo o local. Só me restava adentrar o pequeno lugar e concluir de novo que só havia eu e outra versão de Eddie ali dentro.

A Glimpse Of Us | Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora