"Primavera Fascista"
No seu último ano do ensino fundamental, Matilda finalmente entendeu várias coisas. Ela se viciou no YouTube, passava as tardes assistindo diversos canais e fechada em seu mundo tão sombrio e vazio.
Nos dois anos após o acontecimento do beijo, ela não deixou alguém novo entrar em seu coração. Chegaram perto, Henrique é uma prova disso, porém não fizeram o estrago que Pietra causou.
E por falar nela, curiosamente caiu na mesma sala de Matilda.
E que raiva! Matilda sentia seu coração disparar toda vez que via os olhos atentos de Pietra reparando em cada gesto dela. Sentia raiva toda vez que a mesma se aproximava com uma conversa fiada só pra ter uma desculpinha e ficar perto de Matilda. Sentia mais raiva ao notar que na verdade não sentia raiva nenhuma. Não conseguia. Pietra a machucou com traição, mas ela não conseguia odiá-la. E quem poderia culpá-la?
Pietra foi seu primeiro amor, seu primeiro namoro e primeiro beijo. Ela sentia um carinho gigantesco.
"- Promete que vai ser só minha?
- Prometo."
Ela havia prometido. E agora se tratavam como duas desconhecidas.
Se olhavam, e logo desviaram o olhar. Matilda dava um jeito de disfarçar a vontade de abraçá-la e tentava acalmar o coração disparado. O pior nem era olhar no rosto de quem a traiu, era ainda gostar perdidamente de Pietra. Não podia. Seus pais não a deixariam.
Não podia. Não podia. Não podia.
Foi tortuoso até Pietra ir embora e, após isso, Matilda pôde respirar um ar puro novamente. Sem mãos suadas, borboletas dançantes no estômago e coração querendo sair pela boca.
Só ficou o vazio.
Esse vazio serviu para que ela procurasse sobre sexualidade, uma pesquisa simples porém esclarecedora. Soube que poderia gostar tanto de meninas quanto de meninos e estava tudo bem, certo? Pelo menos pra ela, sim.
Ela finalmente se entendeu. Porém não poderia contar pra ninguém.
Acompanhou sobre o preconceito e que muitas pessoas achavam que bissexuais estavam confusos. Será que ela também estava confusa? Amou uma menina com todo seu coração. Gostou de um outro menino. Isso seria confusão? Deveria buscar ajuda psicológica?
Se conseguissem colocar em desenho o que tinha em seu coração e mente veriam uma completa confusão. Seriam vários rabiscos confusos sem uma uniformidade.
Foi nesse mesmo ano que um candidato a presidência começou a fazer sucesso. O que chamava a atenção era seu ódio com minorias e a forma como se pronunciava. Era agressivo. Estimulava a violência para com pessoas de ideais diferentes. Usava ameaças inexistentes, como o comunismo.
Matilda entrou em choque com tamanho poder que ele tomava aos poucos. E piorou quando ela notou que ele estava sendo ouvido e aplaudido.
Não fazia sentido na cabeça dela.
Ele não tinha aquele direito. Ninguém tinha.

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Matilda
Short Story[CONCLUÍDA] É um conto, talvez, sem sentido pra um terceiro ler. Não é interessante, não é bonito. É só um conto de Matilda e sua vida repleta de coisas ruins, amadurecimento mesmo com apenas 19 anos e talvez algo engraçado. Tudo isso baseado em mús...