Capítulo 11

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"Água com açúcar"

- Quero pedir ela em namoro! - Matilda disse, na aula de educação física. Todas estavam, menos Heloísa obviamente.

- Vocês nem ficaram ainda. - Bianca responde cética.

Era um fato. Não tinham se beijado ainda, o máximo que aconteceu eram os minutos abraçadas ou mãos entrelaçadas.

Matilda tinha medo de ultrapassar a linha do respeito. Não queria que ela se sentisse desconfortável com alguma coisa que faria e por isso esperava alguma iniciativa. Essa iniciativa nunca chegava.

Heloísa tinha os olhos mais lindos que alguém poderia ter, mas a encarava por segundos e logo desviava. E isso nunca foi o suficiente para que Matilda percebesse uma certa abertura.

Tinha que beijá-la pra namorar? Matilda não sabia.

- Eu gosto dela, quero ficar com ela... - Disse, quase sussurrando.

- TENTA!! - Laura incentivou. Matilda a olhou sorrindo e com esperanças para que pelo menos uma a apoiasse. - Vocês são lindas juntas!

Respirou aliviada.

Entendia a implicância de suas amigas com o possível namoro, as duas eram completos opostos. Matilda insensível e explosiva, Heloísa meiga e calma. Matilda gostava de várias e não se apegava a ninguém, Heloísa era mais romântica. Por falar nisso, Matilda não acreditava no amor e Heloísa só lia romances.

Não acreditava, mas estava completamente apaixonada. Não se entendia, mas de uma coisa tinha certeza: queria namorá-la.

Nada tiraria isso da sua cabeça.

Conversou com sua madrasta que a apoiou, comprou as alianças e desejou boa sorte. Matilda escreveu uma cartinha a mão para Heloísa porque queria fazer todas as coisas fofas que conseguisse. E também porque queria surpreendê-la com o seu jeito "romântico".

Ela se esforçaria todos os dias.

Ensaiou todas as palavras bonitas que iria falar.

- Eu preciso falar com você! - Matilda disse, cutucando-a no ombro.

Talvez esse não tenha sido uma boa maneira de se começar a pedir alguém em namoro. Matilda levantou e a chamou com a mão para que a seguisse. Achou um lugar vazio e sentou no chão esperando Heloísa também se sentar.

Os olhos curiosos dela a encaravam. Buscando respostas pelo seu jeito ansioso. As mãos de Matilda suavam. Sentia frio na barriga e as borboletas dançavam ao som de "água com açúcar".

Não acreditava no amor, mas tentaria por ela. Não desistiria do amor por ela.

- Eu não sei como começar, eu nunca fiz isso... - Matilda começou. - Ensaiei várias coisas pra falar e esqueci tudo. - Heloísa riu. - Me da sua mão... - Segurou a mão dela e apertou.

Adorava aquelas mãozinhas pequenas e gordinhas.

Matilda falou por minutos em completa confusão, falou sobre detalhes que a fizeram se apaixonar e percebeu as bochechas de Heloísa se avermelharem gradativamente.

Adorável.

Tudo que a constitua encantava Matilda. Ela flutuava ao olhá-la. Se sentia no céu.

- Eu queria saber de uma coisa... - Matilda finalmente disse depois de minutos se declarando. Abriu sua bolsa e tirou a caixinha com o anel.

- Aí meu Deus, que fofo! - Heloísa falou, e colocou as duas mãos na boca com os olhos arregalados. Matilda ergueu os olhos e viu a emoção passando nos olhos tão expressivos dela.

Sim, era completamente apaixonada por ela. Seu coração disparou com tamanha paixão que sentiu naquele momento.

- Você quer namorar comigo? - Finalmente perguntou.

A reação foi vários acenos com a cabeça e um "sim" baixinho, antes de puxar Matilda para um abraço. Ela se encolheu nos braços aconchegantes e tentou acalmar seu coração disparado.

Se afastou pra pegar a aliança, segurou na mãozinha fofa e deu um beijinho rápido. Pegou o anel com a mão tremendo e colocou no dedo. Heloísa fez o mesmo com si.

- Posso te dar um beijo? - Perguntou com o rosto próximo ao dela que acenou, portanto ela se aproximou mais e encostou os lábios rapidamente. As bochechas de Heloísa estavam em um tom de vermelho vivo quando se separaram.

- Então... Agora você é minha namorada? - Matilda disse, sorrindo. Heloísa concordou com a cabeça também sorrindo. - Ok, minha namorada!

A felicidade não cabia em si. Queria explodir paixão e amor. Queria contar para todos que finalmente tinha achado sua garota. Que ela era linda, educada, engraçada e carinhosa.

Tentou se conter até chegar em casa.

"Hoje eu acordei bem nervosa e passei o dia todo muito nervosa e ansiosa; minhas mãos suavam e estavam frias, meu coração acelerava sempre que pensava nisso que ia fazer a poucas horas. A hora do intervalo chegou e trouxe com ele a nossa conversa. Nós duas sentadas no chão, eu muito nervosa e você querendo saber logo. Isso foi algo novo pra mim, nunca fiz isso e espero que nunca mais faça, porque parece que foi meu estado máximo de nervosismo e ansiedade, pensei que fosse morrer mesmo. Mas eu peguei aquela coragem que não tinha e perguntei: "você quer namorar comigo?", uma perguntinha simples com quatro palavras, mas que me causou tantas tremedeiras. Eu nem sei o que falar, é tão estranho estar escrevendo isso agora que estou namorando de verdade, que isso não é mais uma das minhas historinhas. Isso tudo é tão contraditório, eu nunca quis namorar, nem se quer cogitava isso e do nada cá estou eu escrevendo isso com uma aliança no dedo com o pensamento nela. E porra, ela é a pessoa mais linda que eu já vi sem dúvida nenhuma. Eu nem sequer lembro de cada detalhe das nossas palavras, porque a beleza dela é algo realmente incrível. E além desse pedido totalmente inesperado e aleatório numa tarde de terça - feira, também teve um beijo. Foi um encostar de lábios rapidinho, mas que me causou muitas risadas bobas no ônibus. Nem sei o que escrever, esse texto tá todo confuso e eu só quero gritar. Gritar bem alto pro mundo inteiro ouvir que eu namoro a menina mais linda e preciosa do mundo."

Matilda não pensou direito antes do pedido. Tudo bem que havia perguntado para diversas pessoas antes e tinha planejado cuidadosamente, ainda sim não foi tão bem executado.

Foi um pedido simples como foi descrito: as duas sentadas no chão, em um intervalo qualquer e apenas uma cartinha.

Heloísa merecia mais, e caso tenha ficado decepcionada não demonstrou. Ela merecia um buquê de margaridas - já que eram suas flores preferidas; merecia que Matilda ajoelhasse no chão e dissesse palavras lindas; merecia a carta; merecia chocolates.

Ela merecia tudo de mais romântico possível.

Matilda não soube fazer e era tímida demais. Foi um pedido rápido, porém sincero.

Tudo o que havia falado no dia escorria verdades e amor. Seu peito batia por ela, mas sua boca não conseguia colocar para fora. Matilda era um desastre com palavras, por isso sempre preferiu a escrita. Escrevia diariamente

Heloísa sabia da conta do Instagram porque Matilda contou e queria que ela lesse. Queria que ela soubesse o quanto era amada. Precisava que soubesse já que não sabia demonstrar falando.

Porém se esforçava.

Tentava elogiá-la todos os dias, tentava dizer o quanto era importante pra si e torcia para que Heloísa sentisse absolutamente tudo.

MatildaOnde histórias criam vida. Descubra agora