"Matilda"
Matilda mesmo com todos os traumas encrustados em sua pele e as rejeições que sofreu nunca deixou com que apagassem sua essência. Tiraram tudo de si, a abusaram e arrancaram sua inocência a força. E mesmo assim Matilda tinha amor e gentileza em abundância. E como? Como era possível?
Ela ainda era aquela menina que com dez aninhos escrevia histórias de amor, era apaixonada por animais e obcecada por um cantor. Também adorava a escola e estudar, além de se divertir ao compartilhar conhecimento com quem precisava.
Ela sabia que tinha magoado muitas pessoas pelo caminho (e machucaria pelo resto da vida), lembrava constantemente de olhares marejados e de desgosto direcionados a si. Lembrava de amigas e familiares dizendo que ela era muito grossa e mal educada. Era verdade! Talvez tenha magoado outras pessoas sem perceber, mas essa era a vida. Expectativas depositadas em uma pessoa que, se não cumpridas, se tornam decepções.
Matilda mudou por pessoas específicas, resolveu tentar ser mais empática e paciente com pessoas que fizeram o mesmo. Essa mudança talvez tenha um pouco de egoísmo já que a própria não queria ficar sozinha. Talvez ela tenha feito por ela e não por terceiros, mas mesmo assim... mudou. No fim, é somente isso que importa. Não interessa os meios para chegar em determinado lugar e, sim, que você tenha chegado.
"A gente está fazendo piada com traumas". Gabriel um dia comentou enquanto eles conversavam.
Isso não é uma forma de aliviar a dor sentida? Matilda sempre agiu assim. Sempre fez piadas com as dores que sentia, sempre achou engraçado o que tinha passado e como tinha "superado". Matilda falava de suas dores como se estivesse tudo bem e, na maioria das vezes, não estava.
Só foi descobrir que ainda tinha sintomas do trauma quando começou a se relacionar com meninos, com as meninas nada acontecia. Seu trauma ficava adormecido e surgia em momentos de aproximação íntima com terceiros. Como nunca tinha notado?
O pior era ter a consciência que a próxima pessoa que fosse amá-la teria que ter paciência e saber lidar com esse trauma que poderia aparecer a qualquer momento. Ninguém merecia passar por isso e muito menos namorar alguém assim. Além do relacionamento ruim com a própria família.
Ela era tudo o que eles não gostavam. Bissexual, esquerdista e gostava de usar roupas masculinas. Sua família abominava tudo isso, ela perdeu as contas de quantas vezes já escutou alguma crítica vinda deles em forma de "aconselhamento". Não era, era um ataque. Não discutiam constantemente como antes, mas a relação ainda não era tão boa. Matilda resolveu ignorar muitas coisas para evitar brigas e gritarias.
Ela sabia, também, que amaria a próxima pessoa com quem namorasse com todo o seu coração. Dedicaria textos e histórias, apresentaria para seus familiares e amigos com orgulho - mesmo que eles não gostassem. Ela não se importava mais ou, ao menos, tentava fingir que não se importava.
A próxima pessoa teria que amá-la antes de olhar para seu corpo, amar sua personalidade antes do sexo, gostar de conversar consigo antes de irem para a cama. Matilda queria alguém que fosse companheiro, que a escutasse por horas a fio sobre bobagens e que se interessasse pela sua escrita ao ponto de insistir pra lê-las. Queria alguém que fosse aos shows do seu cantor favorito, quisesse visitar bibliotecas por aí e alguém para gritar na frente da televisão por um jogo não tão importante
Mas... pra ser realmente sincera, Matilda não queria ninguém no momento.
Ela queria conhecer minuciosamente cada detalhe de si mesma, queria se apaixonar e ter paciência com os erros cometidos no dia a dia. Precisava ser gentil com si já que esse corpo tão bonito e mente tão confusa ficariam com ela pela eternidade.
Matilda ainda estava no começo da vida e não se lembrava quando de fato foi feliz. Tinha dezenove anos com uma bagagem de situações ruins, por mais que a felicidade a tivesse visitado rapidamente nesses anos. Nesse ano, podia afirmar com convicção que era feliz.
Matilda era feliz. As pessoas com quem conversou falavam: "a Matilda é feliz". Sim, bastante. Era a primeira vez que estava tentando agir gentilmente consigo, tentando se entender e dando prioridade para o que sentia. Ela estava dando passinhos de bebê para ser cem por cento feliz.
Isso já era uma coisa, né?
Ah, para deixar gravado: Matilda também queria escrever histórias sobre a pessoa do futuro - que também pode vir a ser uma pessoa do passado. Queria encher páginas e páginas de amor, doçura e leveza. Talvez algum dia vocês, leitores, também irão ler.
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Matilda
Cerita Pendek[CONCLUÍDA] É um conto, talvez, sem sentido pra um terceiro ler. Não é interessante, não é bonito. É só um conto de Matilda e sua vida repleta de coisas ruins, amadurecimento mesmo com apenas 19 anos e talvez algo engraçado. Tudo isso baseado em mús...