"certeza"
Apesar de tudo o que tinha acontecido em sua vida, Matilda nunca deixou seus estudos de lado. Sempre acreditou que através dele conquistaria novamente o amor de seus pais. A chama da esperança se acendeu quando descobriu que havia passado em uma escola técnica. Pensou em gritar de alegria, mas não podia. Era madrugada, todos estavam dormindo.Matilda sorria estonteante. Era a melhor notícia de todos os tempos, nada abalaria seu humor. Ela se sentiu inalcançável. Tão inteligente que poderia ser considerada a próxima gênia da atualidade.
Era somente uma prova, mas pra ela, naquele momento, era sua carta de liberdade.
Finalmente seria livre. Seria feliz.
Matilda foi deitar esperando ansiosamente pelo próximo dia, queria contar pra todo mundo. Demorou pra dormir, rolava e rolava na cama, criava cenários positivos em sua cabeça.
Enfim dormiu.
Acordou eufórica. Necessitava espalhar a notícia.
- Passei, eu consegui passar naquela escola! - Disse, quase aos pulos por tamanha alegria.
- Quero ver quem vai conseguir te levar. - Seu pai respondeu, não demonstrando nenhuma emoção.
A felicidade de Matilda murchou. Nem um "parabéns"? Ela simplesmente concordou com a cabeça e tentou focar toda sua atenção no celular.
Não conseguiu.
Sua única qualidade não foi aceitável. Se não era suficiente nem para seu próprio pai, como alguém de fora poderia amá-la? Jamais seria suficiente pra fazer alguém ficar.
Tentou ignorar essa situação. Fez a matrícula e seu pai a levou no dia. E que palavra descreveria para aquele momento? Era um misto de sensações, lembrava ininterruptamente das palavras de seu pai. Criou expectativas a toa e se decepcionou. Porém, também, estava muito contente.
Se colocássemos um espelho na frente dela, veríamos uma adolescente com os olhos brilhantes. Seu cabelo amarrado em um rabo de cavalo alto, roupas largas e tênis sujo. Matilda não gostava de se arrumar.
Pisou na escola e se sentiu - mesmo que pouco - livre. Era em período integral e o fato de ficar longe de casa por bastante tempo a tornava livre de seus pais.
A tornava livre da religião.
A tornava livre do preconceito.
Ela queria viver.
Quero evitar descrever a escola, os professores ou o método de ensino. Não é necessário para esse conto saber de coisas superficiais. Portanto, seguimos em frente...
Matilda fez amigas. Eram meninas diferentes de si, tinham gostos e jeitos diferentes. Se assustou.
Ela era tímida.
Primeiro conheceu Laura, uma menina extrovertida, falava alto e adorava demonstrar afeto através do toque. Isso assustava Matilda.
Depois conheceu Bianca, era muito parecida com si. Não gostava de abraços e era grossa com quase todo mundo. Matilda adorou ela por poder ser quem é sem julgamentos ou olhares tristes.
E ela já recebeu tanto olhares magoados por sua grosseria que a machucava sempre que lembrava. Mas como poderia ser diferente? Era um meio de se proteger da maldade externa.
Ela criou barreiras. Paredes firmes. Foram construídas com as palavras ruins que ouviu na infância e adolescência. E o abuso que sofreu só serviu para que ficassem mais compactas e fortes. Ninguém entraria ali. Ninguém a faria mudar.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Matilda
Short Story[CONCLUÍDA] É um conto, talvez, sem sentido pra um terceiro ler. Não é interessante, não é bonito. É só um conto de Matilda e sua vida repleta de coisas ruins, amadurecimento mesmo com apenas 19 anos e talvez algo engraçado. Tudo isso baseado em mús...