Capítulo 20

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"atlantis"

Esse era um novo ano e Matilda continuava com uma velha ideia grudada na cabeça: terminar.

Ela havia feito amizade com um menino incrível recentemente. Ele era viciado em futebol e eles começaram a conversar depois de um confronto entre os dois times - já que torciam para rivais. Matilda torcia para o Palmeiras e ele para o São Paulo.

O curioso era que Matilda sempre odiou homens e não queria contato com nenhum, mas ele era até suportável no momento. Só falavam sobre futebol. Matilda vivia perguntando coisas que não sabia para ele e ele buscava paciência da onde não tinha pra explicar.

Comentava bastante sobre ele com Julia e notou os ciúmes, tentou tranquilizá-la dizendo que não tinha interesse e que eles eram somente amigos. Mas o problema, segundo Julia, era que o menino falava bastante sobre futebol, um assunto que estava encantando Matilda ultimamente. E Julia queria fazer parte, queria comentar e queria entender. Julia queria fazer parte do mundo de Matilda, porém não conseguia já que nunca tinha sido uma área de seu interesse. O que restava era ouvir incessantemente Matilda contar do novo amigo.

Eles combinaram de se encontrar, Matilda e Gabriel - o tal amigo, numa espécie de parque na cidade. Nesse dia, ela havia saído pra comprar material de sua irmã e aproveitou o momento pra confirmar que realmente iria vê-lo. Antes de sair avisou sua namorada que sairia com a mãe.

Matilda chegou primeiro, sentou em um banco perto de uma ponte e esperou. Seu coração disparava, tinha medo. Por algum motivo, inúmeros pensamentos negativos a inundaram. Que talvez ele fosse zombar de si ou ser estúpido, seus olhos marejaram. Respirou fundo e tentou silenciar qualquer coisa que a deixasse triste, de longe viu Gabriel se aproximar com uma bicicleta. Suas mãos tremiam.

Ele encostou a bicicleta numa árvore e a primeira coisa que Matilda pediu foi um abraço. Ele a abraçou forte com um sorriso lindo no rosto.

Conversaram por mais de duas horas, o assunto sendo majoritariamente futebol. Alguns outros sobre escola e a vida. Isso até uma chuva ameaçar cair e eles terem que sair correndo buscando um lugar seguro e coberto.

Acharam.

Matilda ligou para sua mãe e pediu que os buscassem, sua mãe riu no telefone. Matilda foi levada até sua casa completamente encharcada, se despediu do amigo e entrou correndo no banho.

Quando saiu mandou mensagem para Julia contando sobre o seu dia e como estava feliz. Gabriel era exatamente o que nunca imaginou: legal. Contou tudo e as reações de Julia foram de maneira seca, parecia que não se importava. Matilda entendia o ciúmes, mas isso não queria dizer que merecia ser tratá-la daquele jeito. Estava tão feliz, esperava que Julia também ficasse.

Infelizmente ou, talvez, felizmente esse foi um bom motivo para Matilda de fato terminar. Ou então pensar nisso com mais clareza. Ela estava confusa. Terminar ou não terminar? Sabia a resposta, porém não queria aceitar. Esse era o motivo da confusão, porque se tivesse realmente certeza que amava Julia ao ponto de passar por essas dificuldades, não pensaria duas vezes antes de continuar com o relacionamento.

Conversou com a sua madrasta que apoiou. Gostava de Julia, porém não acreditava que o namoro pudesse dar certo a distância.

Matilda pensou e pensou. Por fim, terminou.

Julia propôs uma última ligação, ela concordou. Ligaram e ouviram a voz uma da outra, a sensação era estranha. Matilda estava certa sobre o término, mas não podia negar que algo em sua barriga estava revirado. Ela queria vomitar. Talvez colocar esse amor e tristeza pra fora.

Elas conversaram um pouco e depois choraram. Julia soluçou em seu ouvido, chorou de uma forma tão sofrida que a agoniava. Praticamente implorou por uma volta porque não sabia viver sem Matilda.

Matilda também não sabia viver sem Julia, mas precisava. Não podia ter dependência emocional nela, não podia deixar com que Julia tivesse controle de suas emoções e pudesse ser altamente manipulável. Matilda havia ficado feliz o dia todo quando se encontrou com Gabriel, conversou com Julia que não gostou dela ter saído com seu amigo e seu mundo desabou.

Isso não podia acontecer mais. Ela não deixaria.

O fato de conseguir ser uma ótima manipuladora era outro motivo. Julia avisou mais de dez vezes que sabia manipular as pessoas como ninguém, Matilda sempre riu. Era verdade. Quantas vezes Matilda não foi manipulada pra mandar um vídeo ou foto? Até quando não queria conversar sobre o assunto, Julia dava um jeito.

Matilda não era só um corpo, ela tinha tantas coisas interessantes para mostrar. A própria Julia havia citado no começo do namoro, o que aconteceu pra tamanha mudança?

Elas conversaram sobre algumas coisas aleatórias depois do choro, as vozes das duas completamente embargadas.

Quando foram se despedir pra dormir, Matilda soltou o choro que segurava. Sabia que aquela era a última vez que ouviria e veria Julia, seu peito não estava preparado pra perder sua alma gêmea dessa forma.

Apesar dos defeitos nos últimos dias desse relacionamento, Matilda a amou verdadeiramente. Nunca havia amado alguém assim. Nunca havia sentido tanto por alguém dessa forma, dessa maneira tão intensa e tão cega.

Nem seu primeiro amor foi assim. E sabia que seus próximos amores não teriam essa intensidade tão dolorida.

Seus olhos ardiam.
Respirava com dificuldade, o peito descia e subia com intensidade.
As mãos tremiam.
A garganta doía querendo soltar um grito de desespero porque o amor da sua vida estava indo embora.

Era só um término e pra Matilda, naquele momento, era o fim de sua vida.

Se acalmou depois de bons minutos e com a voz baixinha de Julia dizendo que a amava e a chamando de amor. Sentiria tanta falta disso.

Dessa voz que sempre soube como acalmá-la.
Dos olhos castanhos escuros que buscavam cada novo detalhe em seu rosto para decorar.
Dessa boca que se abria um sorriso deslumbrante.
De tudo.
Ela seria a maior saudade de todos os tempos.
Julia era sua alma gêmea, teria que aprender a viver sem ela.

Se despediram devidamente e dormiram. Juntas. Pela última vez.

Matilda acordou no dia seguinte com a cabeça doendo pelo tanto que chorou, abriu o celular e viu que ainda estavam em ligação. Colocou o celular no ouvido e escutou a respiração calma de Julia. Ela estava dormindo como anjo sem nem saber que o coração de Matilda morria do outro lado da linha.

Desligou a chamada e abriu o aplicativo de mensagem.

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Eu te amo!

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Acabou.

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