Capítulo 5

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"bad reputacion"


*Aviso de gatilho: Abuso sexual.

Matilda viajou o país inteiro com sua irmã, pai e a namorada do seu pai para ver sua vó que morava no nordeste. Foi uma aventura. Cantou várias músicas com sua irmã no ônibus, elas encaravam tudo com admiração e curiosidade. Foi a primeira viagem de Matilda para fora do seu estado, nunca tinha viajado por tantas horas!

Tinha ansiedade pra ver sua vó e correu para os braços dela assim que a viu. A saudade que sentia era imensa!

Encarou suas primas, seus tios e outros parentes que não reconhecia. Se encantou com a paisagem, adorou os animais que ali viviam e prometeu pra si que tentaria viver o máximo.

Matilda teve que usar roupas mais curtas por necessidade. Era muito calor, e só na sombra havia ventos que poderiam amenizar. A incomodava, mas não tinha muito o que fazer. Estava ciente dos olhares que recebia, mas o carinho de sua vó era tão grande que nem se importava tanto com as pessoas ao redor.

E o que poderia falar de suas primas? Incríveis. Não tinham a mesma idade, Matilda era mais velha, porém eram tão simpáticas que a acolheram como se fossem melhores amigas desde sempre.

– Você usa anel de coco. – A prima mais velha observou. Matilda encarou seu próprio anel e o apertou.

Era sua âncora. Seu objeto de apoio emocional.

– Você é lésbica? – A prima mais nova perguntou. Matilda ficou em choque, seus olhos se arregalaram e quis fugir. O anel não tinha nada a ver com isso, porém a pergunta a pegou de surpresa.

Não podia falar. Seu próprio pai sentia vergonha, elas também sentiriam. Ninguém podia saber. Não podiam nem desconfiar.

– Eu só uso por usar. – Respondeu, encarando fixamente a parede bege. Não gostava de mentir. Não gostava principalmente de esconder quem era.

Quando seria livre?

Matilda inventou uma desculpa qualquer e saiu para sentar lá fora, sua vó estava lá olhando para o céu. Sentou em um banco ao lado e ficou quieta pensando. Queria contar pra algum familiar, queria sentir o apoio de alguém, mas não podia.

Tinha tanto medo!

Em meio a pensamentos tão negativos, ela nem percebe a aproximação do seu tio. Fazia tempo que não o via também, sorriu para ele. O nome dele era Mateus, padrinho de sua irmã.

Ele chegou sorrindo e parou em sua frente. Não falou nada, Matilda também não quis falar nada. Apenas ficou olhando-a, chegou mais perto e colocou a mão no queixo dela erguendo sua cabeça.

Matilda olhou pra sua vó que sorriu na direção dela. Era seu filho e sua neta que não via há anos, estava muito feliz pela família reunida. Porém, Matilda estava incomodada.

Essa aproximação. Esse sorriso. Esse toque em seu rosto. Ela rejeitava toda essa situação. Não se sentia bem. Queria vomitar por tamanha agonia.

Se sentiu bem ao abraçar Laura. Se sentiu maravilhosamente bem ao abraçar Eduarda. Confiava nelas.

Não confiava em seu tio. Matilda queria chorar.

– Vamos na minha casa? Quero te mostrar uma coisa. – Ele disse, ainda segurando seu queixo.

– Vai, querida, eu aviso seu pai. – Sua vô disse, incentivando-a.

Como falaria “não” para sua vó?

Rezaria pra que não acontecesse nada.

Seu tio a segurou pela mão e a levou a passos lentos para sua casa. Seu coração estava apertado, mas seu tio a fez rir tanto com suas piadinhas nada engraçadas que logo esqueceu o medo.

Não aconteceria nada.

A casa estava escura e não havia ninguém ali, a esposa dele estava andando com a namorada do pai de Matilda. Ela olhou em volta, era a primeira vez que pisava naquela casa. Mateus a levou em todos os cômodos, apresentando e fazendo algumas palhaçadas. Viu as fotos penduradas nas paredes e notou que a família era feliz – pelo menos nas fotos.

Ela estava se divertindo. Foram para o último cômodo onde estava o que ele queria mostrar, Matilda ficou parada na porta. Mateus sentou na cama e pegou um livro.

– Aqui! Seu pai falou que gostava de ler, nesse livro aqui tem várias lendas interessantes. Achei que gostaria. – Matilda soltou a respiração presa e foi em sua direção.

Sentou ao seu lado e encarou o livro com curiosidade. Gostou das imagens ilustradas em cada página.

– É lindo! Você me empresta? – Perguntou, seu tio concordou com a cabeça.

– Vem ver mais de perto. – Ele disse, Matilda estendeu a mão pra pegar o livro, porém ele fechou e apontou para seu próprio colo. Ela travou.

Ele estava insinuando isso?

– Vem, Matilda. – Ela negou com a cabeça. – Não vou fazer nada, eu prometo.

Matilda queria correr. Queria correr muito rápido. Ela levantou pra sair do quarto.

– Eu tranquei a porta, agora senta aqui. – Apontou para sua perna.

Ela, sem saída, foi em sua direção e sentou nas suas pernas. Sentiu algo estranho embaixo da bunda e ouviu um suspiro perto do seu pescoço.

– Eu quero ver meu pai. – Disse, quase chorando.

– Não, você não quer. Fica quietinha pro tio, sim? Se gritar ninguém vai te escutar, sabe disso. – Ela sabia, a caminhada até a casa foi longa. Era longe e ficava no meio do mato. – Você tem um corpinho tão gostoso. – Matilda fechou os olhos ao ouvir essas palavras e ao sentir as mãos dele em sua cintura forçando-a a rebolar. Tentou se debater, mas ele a segurou mais forte. Chorou mais intensamente.

Seu corpo inteiro tremia
Sua pressão caiu. Ela iria desmaiar.
Desmaiou.

Acordou sentindo alguém tocando sua perna.
O que estava acontecendo? Aconteceu de novo? Sua cabeça rodava em desespero.

– Acordou? Estou te vestindo. – Era a voz dele.
Matilda começou a chorar. O que tinha acontecido?

Não sabia o que a atormentava mais: ter desmaiado ou o que provavelmente poderia ter acontecido. Sussurrou o nome do pai inúmeras vezes, queria proteção. Seu pai não a amava, mas a protegeria. Ela sabia disso.

– Levanta, eu vou te levar de volta. – Ele disse. Matilda forçou seu corpo e ficou de pé, olhou pra si e não viu nenhuma marca. Suspirou aliviada. Olhou para seu tio que arrumava o cinto da calça.

Aconteceu de novo.

Pensou que estava se curando e acontece de novo.

Ela sentiu suas pernas estranhas, sua intimidade doía e seu corpo estava tão mole. Andou de maneira lenta, seguiu seu tio a distância já ele que ia na frente. Respirou sossegada ao ver sua vó no mesmo lugar. Sentia tanto amor por ela. Se preparou pra correr para os braços dela, mas foi parada com uma mão.

– Não é pra comentar com ninguém, me entendeu? – Matilda levou seus olhos marejados pra cima e concordou, não tinha muito o que fazer naquele momento. Ele a soltou e ela correu para abraçar sua vó.

– Ei, minha filha, o que aconteceu? – Ela disse, seus olhos pequeninhos por trás dos óculos a encarando com preocupação.

– Nada, vó. – Limpou as lágrimas de suas bochechas. – Estava com saudades!

– Eu também estava com saudades! – Ela respondeu, e sorriu.

Matilda tentaria ficar bem por aquele sorriso. Pelo menos naquelas férias. Podia entender o que acontecia com si depois. Precisava desfrutar da companhia da sua vó.

MatildaOnde histórias criam vida. Descubra agora