Capítulo 16

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"Te vi na rua ontem"

Matilda chorou muito na primeira semana depois da partida de Heloísa. Doeu não tê-la mais.

Mas sabia que esse sentimento passaria mais cedo ou mais tarde, porém nesse caso passou mais cedo do que esperava – ou queria.

Ela estava cansada de ficar pensativa o dia inteiro e toda noite cair no choro, portanto baixou um aplicativo de fazer amizades. Conheceu diversas pessoas. Meninos tentavam dar em cima e ela recusava todos. Meninas conversavam de maneira superficial. Até uma menina aparecer e puxar assunto com ela.

O começo da conversa foi entediante, o famigerado “oi, tudo bem?”. Normalmente, os assuntos paravam por aí, mas a menina perguntou da onde ela era e Matilda respondeu que era do interior de São Paulo.

A amizade começou aí, especificamente quando a Julia – a tal menina – mandou uma foto dizendo que estava vendo Matilda pela janela do quarto na brincadeira (já que moravam no mesmo estado, porém em cidades diferentes).

Foi um começo diferente.

Julia fugiu do convencional e Matilda a acompanhou, entrou na brincadeira e ria de absolutamente tudo. Trocaram números de celular e tentaram se conhecer cada vez mais.

O mais surpreendente era o fato que parecia que tinham vivido a mesma coisa quando tinham quase a mesma idade. Matilda contava uma coisa, Julia logo dizia que também havia passado por aquilo. Julia falava sobre algo particular, Matilda complementava em choque por ter passado pelo mesmo.

Era muita coincidência ou, talvez, destino.

Elas se assustavam sempre que algo parecido entre elas aparecia na conversa. E esse era só o primeiro dia. Elas conversaram por horas. Do aplicativo de amizade até o whatsapp, pra Matilda isso passou em segundos.

Julia era muito interessante, tinha um magnetismo que puxava Matilda para dentro de sua órbita.

Fazia tempo que não conhecia alguém que a deixasse tão imersa, focada em uma conversa mesmo após às 2 horas da manhã. Falavam sobre o vento, céu, pão e pandemia.

Matilda disse que precisava dormir, por isso se despediu e se arrumou para descansar. Assim que deitou a cabeça em seu travesseiro, vários pensamentos a inundaram e nenhum deles era negativo.

Pela primeira vez, sua mente só conseguia se lembrar da conversa há poucos minutos.

Era o sexto dia depois do término. Os outros cinco Matilda dormiu chorando, o coração disparado querendo mais do que tudo Heloísa. Seu corpo implorava por uma última conversa, um beijo pelo menos ou qualquer outra mínima coisa.

Matilda era leitora. Ela sabia que leria um livro e, por mais que achasse a história interessante e os personagens incríveis, teria que acabar. Teria que fechá-lo e seguir para o próximo. Esse era o ciclo de um leitor. Se encantar com as palavras escritas em uma página amarelada e continuar sua vida minimamente mudada por uma frase qualquer. Assim como esse também era o ciclo da vida, pessoas magníficas e ruins passariam por sua vida e ela seguiria em frente – completamente mudada pela situação vivida junto.

Por isso não podia chamá-la. Além de ser torturante para ambas uma nova conversa nesse momento, também seria perda de tempo. Ela ainda era a mesma pessoa, ainda não tinha refletido o suficiente e se voltasse para Heloísa... voltariam a ser a mesma coisa – a mesma coisa que as separou.

Matilda seguiu tão a risca ‘não procurar uma brecha para novas conversas' que nem desejou feliz aniversário para Heloísa. Lembrou da data e não disse nada, apenas ficou fingindo que todo seu corpo não ardia de dor por querer conversar novamente.

Ela sentia saudades, isso era óbvio! O amor que sentiu por Heloísa foi surreal. A paixão era o que a movia a continuar vivendo, porque amá-la era um sonho.

Ela tinha sido seu sonho mais bonito!

E, depois de seis dias, Matilda estava com a cabeça deitada no travesseiro sem sentir seu olho coçar para chorar, sem sentir seu peito apertar e a saudade machucar. Matilda não sentia nada, o único pensamento que a rodeava era Julia e seu jeito magnético.

Como poderiam ter vivido a mesma coisa?

Matilda dormiu, anestesiada. Sem aquele peso nos ombros e esperando ansiosamente pelo próximo dia.

A primeira coisa que fez ao acordar foi pensar em Heloísa e notou que nesse instante a partida não doía tanto como antes. A segunda coisa que fez foi mexer no seu celular pra ver se tinha mensagem nova de Julia.

MatildaOnde histórias criam vida. Descubra agora