Capítulo 15

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"Asas"

"Então... terminamos?
Terminamos!
De uma forma rasa e com uma indiferença enorme.
Nem parecíamos nós.
Pensei que lembraríamos dos momentos alegres;
Das discussões bobas;
E de como o peito transbordava de amor cada vez que um texto era escrito ou lido.
Acho que agradeço que tenha sido rápido, talvez eu choraria.
Talvez.
Ainda não chorei. E não quero.
Mas é tudo tão estranho, sabe?
Lembro dos nossos momentos tão únicos e não consigo imagina-los com outra pessoa futuramente.
Não consigo me ver amando outra pessoa da forma que te amei.
Não consigo me ver escrevendo textos como te escrevi.
Não consigo me ver desejando uma família cheia de cachorrinhos com nomes esquisitos.
Eu sinto como se... uma parte dos meus sonhos mais puros relacionados a outra pessoa estivessem se apagando.
Novamente.
E então... entrarei novamente naquele ciclo.
Torcer o nariz pra qualquer menção de relacionamento.
Ignorar as investidas de qualquer outra pessoa.
E ser novamente sozinha."

Matilda não chorou. Matilda não sentiu nada. Ela apenas disse "tchau".

"Tchau". Que patético pra um relacionamento de um ano e cinco meses. Heloísa merecia mais. Matilda merecia mais. Elas mereciam uma conversa olho no olho. Mereciam que vissem no olho uma da outra como queriam que continuassem, que tentassem mais um pouco. Não tentaram.

Matilda tentou conversar com ela, tentou pedir que se vissem mais vezes como se fossem amigas. Não daria certo, Heloísa tinha pais homofóbicos e não queria arriscar. Talvez não pudesse arriscar.

E relacionamentos são sobre isso, certo? Arriscar. E ter coragem. O amor é só para os corajosos.

Matilda tentou ser destemida, tentou dar sugestões de como e onde poderiam se encontrar. Sua madrasta as ajudaria. Heloísa não quis, não quis insistir e só concordou que realmente era impossível.

Elas não estavam mais na mesma sintonia.

Matilda um dia a levou até sua casa porque não queria que algo ruim acontecesse com ela. Isso resultou com que andasse mais quilômetros até sua própria casa.

Matilda pegou sua timidez e covardia, colocou no bolso e a pediu em namoro.

Matilda escreveu inúmeros textos, exatos sessenta e nove postados no Instagram e mais outros mandados só para Heloísa.

Não esquecia dos sacrifícios feitos por ela também.

Heloísa havia dado uma chance para alguém quebrada emocionalmente.

Heloísa havia pegado na mão de Matilda no meio de uma avenida movimentada e não se importou com nenhum olhar.

Heloísa havia pegado na sua mão várias vezes na escola já que Matilda não tinha coragem.

Heloísa havia a abraçado e sempre se esforçava pra demonstrar mais.

Heloísa falava constantemente de si para a mãe.

Elas se esforçaram. Muito.

A pandemia as separou e ficou mais difícil.

Matilda continuou escrevendo. Heloísa escreveu alguns textos que a emocionaram.

Mas ainda faltava alguma coisa.

Mesmo pessoalmente, Matilda tinha vários defeitos. O principal: não sabia demonstrar através do toque. Tinha medo de demonstrar demais e tinha medo de incomodá-la. A linguagem de amor de Heloísa era o toque físico. Heloísa podia ter vários defeitos também. O principal: não sabia demonstrar através de palavras de afirmação. Não sabia elogia-la quase sempre e talvez não achasse tão necessário. A linguagem de amor de Matilda eram palavras de afirmação.

MatildaOnde histórias criam vida. Descubra agora