Capítulo 1

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"a outra"


Matilda começou a conversar com uma menina aos doze anos. Elas estudavam na mesma sala, porém se odiavam. Matilda era nerd, adorava matemática e se dava muito bem com os números. Todos os professores a consideravam como a melhor aluna da sala e era tida como exemplo pra todos.

Pietra, a outra personagem desse conto, era popular. Odiava estudar e ia mal em quase todas as matérias, faltava sempre e os professores não suportavam as palhaçadas em sala - Matilda inclusa.

Como poderiam se aproximar?

Elas se aproximaram por uma briga de Matilda com uma amiga em comum com Pietra, a partir daí conversaram constantemente pelas redes sociais e foram se conhecendo aos poucos.

Ela se encantou com o jeito de Pietra. Era tratada como uma princesa, chamada de "anjo" e sorria a cada mensagem, por mais boba que fosse. Pietra a tratava diferente do que tratava as outras pessoas em sala. Era carinhosa e paciente, coisa que não acontecia com outras pessoas.

Como não se encantar? Que coisa mais clichê, não? A nerd caindo de amores por uma popular.

Com o passar dos dias, Pietra se assumiu lésbica para ela. Naquela época, foi algo surpreendente. Matilda nunca tinha ouvido falar e não entendia muito bem, porém mostrou apoio. Pietra começou a namorar uma menina e Matilda foi começando a questionar o que sentia.

E por fim entendeu!

Estava apaixonada por Pietra. E, por sorte, quando caiu a ficha, Pietra não estava mais namorando.

O destino estava as ajudando. Praticamente empurrando para que ficassem juntas. E elas ficaram.

- Eu gosto de você. - Pietra disse.

- Eu também gosto de você. - Matilda respondeu, com o coração disparado de nervosismo.

- Quer namorar comigo? - Ela perguntou.

- Sim.

E por fim, o que elas mais queriam acontece. O namoro vem e elas continuam conversando todos os dias sem parar. O apelido carinhoso e o respeito nunca faltando. Os amigos apoiam e adoram vê-las juntas.

Elas eram um completo oposto. Era lindo de se ver. Elas se amavam.

Vai durar pra sempre. Um amor adolescente que durará a vida toda. Todos os clichês de filmes dão certo no final, esse também daria.

Mesmo estando namorando e estudando na mesma sala, elas nunca se beijaram - por timidez. Um dia tomaram coragem e conseguiram, porém não foi executado da maneira certa.

Se beijaram no banheiro da escola e todo mundo comentou. Vídeos foram gravados e fotos foram repassadas.

Era só um beijo inocente que foi visto como uma das piores coisas existentes da terra.

Por conta disso elas foram separadas. Os pais foram chamados na diretoria e foi combinado uma separação de ambas, além da exclusão de vídeos e fotos.

Matilda sofreu com a separação, só sabia chorar. Ela nunca tinha passado por isso.

Mas o pior ainda estava pra acontecer.

Seu pai chegou em casa revoltado, descontando vergonha e ódio em palavras. Até pouco tempo atrás ela era considerada um prodígio e orgulho, como poderia ser vista como desgosto agora?

Mas foi.

Um simples beijo desencadeou um preconceito e um ódio jamais visto.

Sua mãe queria levá-la para a igreja.

Seu pai queria batê-la.

Seus familiares a encaravam com curiosidade.

Ela só enxergava o ódio e vergonha nos olhos das pessoas próximas a ela.

Doeu. Doeu muito. Doeu como nunca.

Além da separação com o "amor da sua vida", seus familiares a tratavam como se tivesse cometido um crime.

Matilda passou dois dias inteiros chorando e pedindo aos céus que essa atração por meninas fosse extinguida. Ela jogou a culpa em si mesma.

"Se eu não tivesse beijado uma menina..."

"Se eu não tivesse conhecido ela..."

"Se eu tivesse recusado o beijo..."

A culpa era dela. Foram as pernas dela que a levaram até lá, foram palavras de afirmação que saíram da boca dela, foram os braços dela que se enrolaram na cintura de Pietra e o pior... ela havia gostado.

Como poderia ter gostado de algo tão errado? De algo pecaminoso? Ela iria pro inferno? Céus, ela só tinha doze anos.

Ninguém a apoiou. Pensamentos suicidas rodeavam a cabeça dela.

O tempo foi passando e ela descobriu que foi traída por sua tão amada Pietra, foi outro murro na sua cara.

Como ela pôde? Não a amava o tanto que dizia?

Matilda teve, de novo, os piores pensamentos possíveis. Mesmo que essa traição não tivesse o mesmo peso de ser menosprezada por quem dizia amá-la apesar de qualquer coisa.

Mas por sorte seu cantor favorito tinha lançado um novo álbum naquele ano e ela se segurou numa música específica.

"A Outra". Não só nessa música em específico, em outras do álbum também, porém essa descrevia exatamente o que sentia. A solidão, por mais assustadora e temida que possa ser para muitas pessoas, foi sua melhor amiga. A solidão acordava e dormia ao lado de Matilda. E foi a solidão que a acompanhou por muito tempo, até a mesma achar sozinha a luz de volta a vida.

MatildaOnde histórias criam vida. Descubra agora