Mês 1: Minho

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Consegui formar uma amizade boa com Alby, ia todos os dias para o labirinto junto com ele, fugimos de verdugos juntos (nome que demos aos animais metálicos e mortais que habitavam dentro das paredes de metal), e voltávamos todos os dias antes das portas se fecharem.

-Pelos meus cálculos um mês se passou- Eu revelei para Alby depois de comermos -Quando será que a caixa vai trazer mais coisas?

Alby pareceu pensativo, deitado na rede que tínhamos feito dentro da casinha que construímos.

-Não sei, mas espero que logo- Alby respondeu -Será que vem alguém novo?

Mordi o lábio inferior enquanto pensava e analisava o céu, "alguém novo", não foi nisso que ele pensou. Não foi isso que nós pensamos.

-Não foi essa pergunta que você pensou primeiro- Eu falei e ele me olhou de forma sombria.

-Será que vão mandar alguém perigoso?- Alby reformulou a pergunta e eu suspirei.

-Não sei- Eu respondi e depois encarei ele -Só espero que não mandem um garoto.

Ele empurrou a minha rede de leve me fazendo balançar um pouco.

-Aposto 6 folhas do meu caderno que mandam um garoto- Ele falou e eu revirei os olhos.

-Apostar é para os fracos- Eu falei e ele riu.

-Chata!- Ele exclamou e eu ri, me virando para o lado e escutando ele suspirar -Boa noite Ella.

-Boa noite Alby- Eu disse fechando meus olhos, e logo caindo na escuridão profunda e silenciosa do sono.

Mas por mais que meus sonhos continuassem algo escuro e tenebroso, pela primeira vez desde que cheguei a esse lugar infernal consegui sonhar com algo a mais.

Um garoto de olhos e cabelo castanho falava comigo em tom sério, ele parecia assustado com algo, mas não consegui ouvir oque ele dizia, na verdade eu não conseguia ouvir nada. 

Nada além de um som de relógio, como se minha própria mente estivesse me obrigando a acordar quando a minha alma queria algo oposto.

E com isso comecei a me afogar, me afogar no meu próprio esquecimento, me afogar nas minhas próprias palavras. Me afogar na água suja e escura que inundava o meu cérebro quando eu pensava em desistir.

-Ella!- Alby exclamou me acordando, e me tirando da sensação de afogamento em que eu estava afundando -A caixa está subindo de novo.

Olhei esperançosa para ele e fomos correndo ver oque tinha lá, eram mais alguns suprimentos, duas galinhas, dois porcos, alguns livros médicos, um facão e uma pa.

-Veio mais coisa do que antes- Alby disse e eu sorri com isso, finalmente os babacas ficaram mais conscientes que somos humanos que precisam comer e não simples robôs.

-Muito mais coisas do que antes- Eu falei para Alby que olhou na mesma direção que eu, na direção de um garoto desacordado.

Ele parecia ter a minha idade, seja lá quantos anos eu tenho, acho também que é asiático por conta dos olhos puxados e do cabelo extremamente liso. É muito bonito também, mais do que Alby, isso eu tenho que admitir.

-Eu ganhei a aposta- Alby falou em tom de piada enquanto descia para ver o garoto.

O menino então abriu os olhos, assustado com Alby e com o resto das coisas ao seu redor.

-Calma tá tudo bem- Alby disse sem se aproximar muito -Você está seguro, lembra o seu nome?

-Não, eu...Eu não lembro de nada- O asiático respondeu e eu olhei confusa para Alby, por quê nós lembramos do nosso nome e o garoto não? 

-Tudo bem- Alby falou dando a mão para ele -Eu sou o Alby, e a menina bonita lá em cima é a Ella. Não precisa se preocupar, está bem aqui.

O garoto assentiu e segurou a mão de Alby subindo da caixa, e me fazendo ainda ficar pensativa do porque mandaram alguém pela caixa sendo que eu vim do labirinto.

-Bem vindo fedelho- Eu falei abrindo um sorriso -Vem, é melhor você comer alguma coisa e ainda temos algumas frutas sobrando, Alby você tira as caixas?

Alby concordou e eu levei o novato para nossas redes, onde ele se sentou na do Alby.

-Por que eu estou aqui?- Ele perguntou e eu dei de ombros.

-Me pergunto o mesmo a um mês- Eu respondi logo depois olhando para os muros que nos cercavam, era para eu ter entrado neles hoje de manhã, mas graças a o fedelho não poderia.

-Oque é aquilo?- Ele perguntou e eu olhei seria para ele.

-Labirinto, cheio de armadilhas mortais, aranhas metálicas gigantes- Eu respondi -E lugares sem saída perigosos.

-Que empolgante- Ele falou cheio de sarcasmo -Deve ser um ótimo lugar para adolescentes. 

Sarcasmo, a arma mais comum para seres humanos com problemas de confiança, e com muitos traumas. Me pergunto seriamente se ele já era assim antes ou só está usando esse escape mental porque está assustado.

-Está me julgando- Ele falou arqueando as sobrancelhas. 

-Não estou julgando- Eu disse pegando uma maçã e jogando para ele -Estou observando, tem uma diferença.

-Está observando para julgar- Ele falou comendo um pedaço da maçã -Não tem tanta diferença assim.

-Tanto faz- Eu respondi e ele sorriu de lado -E pare de sorrir assim, é irritante.

-Só por isso vou sempre sorrir assim!- Ele exclamou e eu olhei para os céus, tentando entender o porque dos mandantes do labirinto me odiarem tanto ao ponto de mandarem um garoto tão irritante.

Ficamos em silêncio um tempo enquanto Alby retirava as caixas de dentro da caixa maior.

-Como lembrou o seu nome?- O fedelho me perguntou e eu refleti na pergunta.

-Era a única coisa que eu pensava desde que acordei no labirinto- Eu respondi -Como se uma voz me chamasse no meio da escuridão, tentando me impulsionar a correr mais rápido.

-Você veio do labirinto?- Ele perguntou assustado.

-Algumas vezes fedelho, chego a pensar que eu pertenço ao labirinto- Eu respondi e ele me observou, cada traço meu pareceu ser lido pelo asiático, como se ele estivesse tentando ler até mesmo a minha alma.

-A garota bonita que pertence ao labirinto- Ele falou piscando para mim, como se tentasse quebrar o clima tenso do lugar que nos cercava.

-O garoto novato irritante que veio da caixa- Eu retribui e ele riu, uma risada reconfortante.

Uma risada familiar demais, íntima demais, uma risada que por alguns segundos me fez esquecer aonde eu estava e por alguns segundos e me fez rir também.

-Minho- Ele falou quando terminou de rir -Se oque você disse sobre como se lembrar do seu nome for verdade, o meu nome é Minho.

-Prefiro fedelho- Eu disse e ele riu.

-Prefiro fedelho- Eu disse e ele riu

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She belong to the mazeOnde histórias criam vida. Descubra agora