6|Razões para viver

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Henry Adams

São oito horas da noite e em meu celular não para de chegar ligações e mensagens, eu saí essa madrugada e deixei uma carta de despedida em cima do balcão. É meio dramático, mas eu não sou capaz de sair da vida de quem eu amo sem ao menos me despedir. Mas também não quero continuar na vida de quem eu amo por exatamente amar tanto ao ponto de não permitir que sofram por culpa minha. Eu não sei se deu para entender, normalmente quando eu me expresso os psicólogos me encaram de um jeito confuso como se eu fosse um bebê que fala nada com nada.

Mas com Elizah era diferente, eu não precisava falar nada. Ela simplesmente percebia que eu não estava bem e inventava algo para fazermos, acredito que em uma tentativa de não me sobrar tempo para me entregar aos pensamentos negativos. E caramba, como esse método funcionava. Mas nunca encontrei a solução de fato, tanto que estou onde estou.

Quando eu me sinto sufocado e sei que posso acabar descontando em Emma, eu venho para o meu lugar favorito. Uma sacada de um prédio abandonado, parece horrível mas juro que não é. Ele tem simplesmente a melhor paisagem que você já pôde contemplar, é de tirar o fôlego de tão linda, toda vez que eu sentia vontade de tentar suicídio eu vinha para cá, ela me dava razões para viver.

Razões para viver...

Uau, acabei de me lembrar da lista de Elizah. Ela realmente estava funcionando, e caramba como Elizah tinha razão. As razões estavam bem debaixo de meus olhos, eu só não conseguia enxerga-las mas foi por isso que Elizah começou a me ajudar, porque eu precisava de uma amiga para me ajudar a ver as coisas com outros olhos, ela sempre teve razão. E cara, ela realmente estava certa só que eu não consegui ver isso antes porque estava ocupado demais preocupado com coisas que na verdade não tinham importância.

Eu nunca tive culpa por meu pai ser o que ele é, ele sempre foi assim só que a mamãe era boa demais para deixar que os filhos inocentes conhecessem a pior versão de seu pai, o monstro. Ela só não sabia que o seu tempo estava se esgotando e que um dia ela nos deixaria sozinhos com ele. Minha avó sempre me amou e me apoiou muito, eu nunca a vi lamentar pelas coisas e muito menos ficar brava quando eu fazia birra para não ir ao psicólogo. Ela sempre me aconselhou e cuidou de mim com muito amor, eu não parecia ser um fardo pesado para ela, eu parecia ser o orgulho dela.

Emma nunca me pareceu triste em relação a nunca ter tido um pai, na verdade acho que eu sou tão suficiente e presente ao ponto dela nem sentir falta do meu pai ou de qualquer outra coisa. Eu preenchia qualquer espaço vazio, eu a fazia se sentir protegida, amada.

Elizah sempre fez questão de sorrir para mim a cada vez que eu ficava emburrado, era uma demonstração de que ela não se importava de eu ser assim. Ela gosta do meu jeito de ser e está disposta a me ajudar, a ser o meu porto seguro. Eu nunca a vi suspirar cansada por mim estar no seu pé, pelo contrário, no primeiro dia que eu fui em sua casa e peguei um livro para ler, ela não se importou de eu ler ele na cozinha e tagarelar sobre os acontecimentos. Ela fez questão de sorrir e perguntar mais sobre. Ela me recebeu de braços abertos no meio da noite quando eu precisei de sua ajuda, ela foi até o meu quarto no meio da madrugada com Nutella só para eu não ficar sozinho sofrendo. E ela fez tudo isso porque se importa de verdade comigo, ela realmente quer me ajudar e me ver bem.

E quer saber? Eu estou gostando dela, estou gostando de Elizah Thompson, a filha do doutor que me ofereceu ajuda quando eu mais precisei. A Elizah sorridente, gentil, bonita, educada, caridosa, carinhosa, cheirosa. Eu gosto do seu cheirinho de morango do seus cabelos castanhos ondulados, eu gosto do seu sorriso cheio de gloss de tutti frutti, eu gosto do seu abraço pequenino porém apertado, eu gosto de sentir o seu perfume adocicado, eu gosto do seu gosto para desenhos e filmes infanfis, eu gosto do seu gosto para músicas clássicas da infância, eu gosto de sentar ao seu lado e dividir um cobertor e comer marshmallow, eu gosto de dormir junto com ela só para ter certeza de que ela não vai sentir medo, eu gosto de ser seu porto seguro, eu gosto de ouvir o som da sua risada e principalmente de ser o motivo dela, o motivo da sua felicidade. Eu vou conquista-la, nem que seja a última coisa que eu faça.

30 razões para viverOnde histórias criam vida. Descubra agora