26|Hospital

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Henry Adams

Mais um dia havia começado e algo veio a minha mente, as férias que foram dadas por conta da manutenção da escola estavam acabando, o que significa que daqui a cinco dias tudo voltará ao normal.

Terei que acordar todos os dias de manhã bem cedo, terei que encarar as mesmas pessoas insuportáveis de sempre, terei que lidar com a matemática sendo uma pedra no meu caminho na qual tropeço todo bimestre.

Mas com as férias acabando, a lista também está acabando, e Elizah não está aqui para viver nenhuma das duas coisas, só Deus sabe quando ela vai acordar desse sono estranho que parece a cada dia estar tirando sua vida aos poucos.

Por isso decidi ir ao hospital completamente sozinho para poder pôr o papo em dia, mesmo que talvez ela não me escute, eu preciso tocar a sua pele pálida novamente, preciso ver com os meus próprios olhos que ela está melhorando.

Sei que quando eu colocar os meus pés naquele quarto eu irei desabar em lágrimas até o meu corpo secar, por isso todos estão insistindo que eu não vá até lá emquanto ela não acordar. Mas eu não consigo ficar tanto tempo assim sem admirar toda aquela beleza natural, não consigo ficar tanto tempo sem tocá-la, sem ouvir os batimentos acelerados de seu coração, sem ter a sensação de tê-la ao meu lado.

Então graças a essa saudade eu estou bem a frente de seu quarto tentando tomar coragem para entrar, hoje Andrew não estava aqui, os médicos disseram que ele precisa urgentemente descansar após dias aqui no hospital sem sair uma vez sequer.  Realmente isso não é saudável, uma pessoa pode ficar louca nesse tipo de situação, então ele aceitou essa ideia mas disse que voltaria pela tarde.

Assim que entro no seu quarto, sinto a atmosfera mudar drasticamente, não que ela estava boa. Nada é bom quando não tenho Elizah por perto, quando não vejo o seu sorriso lindo, ou o brilho dos seus olhos verdes.

Quando chego mais perto posso ver a sua frequência cardíaca, eu não sei nada sobre essas coisas mas me parece que ela está se saindo bem nessa, ela é muito forte.

— Oi, meu pequeno raio de sol, eu vim te ver. — digo com a voz falhando, lágrimas brotam nos meus olhos como mágica.

A sensação de estar perdendo alguém é pior do que ser espancado, a dor de possivelmente estar perdendo Elizah dói muito mais do que toda a dor que meu pai me proporcionou nesses dois anos sem a mamãe.

— Faz tempo que nós não conversamos e eu achei que seria legal vir te atualizar sobre algumas coisas. — sorrio entre lágrimas. — Sabe, as aulas estão voltando e com isso a lista está acabando, eu e Emma nos encarregamos de continuar a lista por você enquanto você não pode. Nós fizemos um bolo de chocolate e ficou lindo, Elizah! Ficou gostoso, você iria amar ele e eu tenho certeza que ficaria orgulhosa, eu levei Emma para o nosso rio dos desejos e contei sobre a história dele, nós brincamos de guerra de balões de água e até a vó berta participou da brincadeira. Eu desejei tanto que você aparecesse lá para brincar também, eu fiquei imaginando a sua risada se misturando com a nossa, os seus sorrisos... eu nunca desejei tanto ter você comigo. — beijo a sua mão pálida.

Me entrego ao sofrimento e me permito chorar por um bom tempo no colo de Elizah. Eu me sinto tão fraco por não conseguir ser forte por ela, eu me sinto tão burro por não ter conseguido salvá-la, eu me sinto tão criança por chorar dessa maneira, eu me sinto tão triste por ela não acordar e vir me abraçar dizendo que está tudo bem, me sinto azarado por estar perdendo o amor da minha vida e sinto raiva por um dia ter duvidado de meu amor por ela, me sinto idiota por não ter dito a ela que a amo com todo o meu coração.

— Emma ora todas as noites para você voltar, ela está com muitas saudades de você, ela disse que não voltará a brincar com as bonecas enquanto você não acordar para brincar com ela. Vó berta está passando muito mal por causa dessa situação toda, ela está morrendo de saudades e está doida para poder lhe oferecer chá com biscoitos enquanto conversam sobre as aventuras da vida. Minha mãe sente tanto por tudo o que aconteceu, ela deseja que você acorde para enfim se conhecerem melhor. Meu pai disse que você é uma menina de ouro e que espera que você acorde logo pois não merece passar por isso. Seu pai está destruído, não come, não bebe, não conversa e sequer nos olha, ele só chora e ora para que você levante dessa cama o mais rápido possível, ele está sentindo a sua falta. — digo baixinho enquanto acaricio a sua mão levemente. — Você me chamou, Elizah, me perdoe por não ter consigo te salvar, me perdoe por não conseguir ser forte mas é que sem você a minha vida é só tristeza e solidão, eu não consigo passar um dia sem chorar por causa de sua ausência. O meu riso é tão solitário sem o seu, o meu coração é tão vazio sem o seu para bater no mesmo ritmo, o nascer do sol se torna sem graça sem a sua presença, os cookies não são tão gostosos quanto os seus, o carro não é o mesmo sem o show particular que você dá todas as vezes, meu corpo é tão sem graça sem o seu grudado nele, a minha mão é tão fria sem a sua entrelaçada, os dias são tão cinzas sem o seu amarelo para dar cor, o ambiente é tão chato sem a sua leitura em voz alta, o vídeo game é tão chato sem você para jogar comigo, cozinhar não é tão bom sem você. — seco as minhas lágrimas.

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