24|Receitas de bolo

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Henry Adams

Já é tarde quando resolvi sair da cama, eu não lembro ao certo de como chegamos a conclusão de que boa parte iria para o hospital com Elizah e a outra iria para casa, mas sei que eles conseguiram me mandar para casa com a minha avó e com a minha irmã.

Depois de chorar horrores e agradecer ao divino por Elizah ter apresentado sinais vitais, a única coisa que eu queria saber era de ficar lá até a mesma acordar de seu sono profundo, mas os médicos me proibiram dizendo que não faria bem ao meu psicológico ficar tantas horas naquele ambiente pesado.

Lembro de ter procastinado bastante por não poder escolher o que fazer, mas disseram que Elizah não iria acordar nem tão cedo o que me desanimou bastante. Fora que o doutor fez questão de dizer que só por ela ainda estar viva não significa necessariamente que ela continuará assim, isso fez com que eu caísse de vez, toda a esperança que me restava se foi naquele exato momento.

Desde então estou em casa aos cacos só esperando a ligação de meus pais dizendo que o outro pedaço de meu coração se foi desta terra. Eu me sinto triste por isso, mas Elizah estava fraca demais quando eu estava lá, os médicos disseram que não era nem para ela estar viva ainda, escutei médicos disserem que dentro de algumas horas ela morreria, foi quando tudo desabou a minha volta.

Então, cá estou eu em casa fazendo o que havia prometido a mim mesmo que faria, vou cumprir os itens da lista por Elizah não importa em que situação ela esteja, enquanto ela não puder, irei fazer isso por ela. Eu sei que nesse momento ela adoraria estar cumprindo os itens da lista comigo, então farei isso por ela.

Passando tanto tempo com Elizah, eu peguei um pouco do seu jeito animada de ser, não que eu esteja animado, na verdade é bem mais pelo contrário. Eu só estou usando toda a positividade que aprendi com ela, estou tentando fazer coisas positivas para tirar todo pensamento ruim, estou tentando pensar em todas as memórias boas que tenho em minha mente para me alegrar, e em todas elas eu só vejo o sorriso lindo de Elizah, sei que ela daria esse mesmo sorriso se soubesse que estou fazendo as coisas do jeitinho que ela me ensinou.
Ela estaria orgulhosa de mim se soubesse que estou tentando

— Henry, a tia Liz vai voltar, não vai? — Emma me pergunta com sua expressão cabisbaixa.

Seus olhinhos azuis estão vermelhos e bem pequenininhos, ela havia chorado durante toda a noite e implorado para ver Elizah até sua voz ficar rouca. Minha avó passou mal durante a noite inteira, sua pressão foi nas alturas me preocupando bastante, ela também chorou por Elizah. Naquela hora eu percebi que não preciso me pagar de forte, elas não precisam de alguém de ferro que não está sofrendo, elas estão precisando de alguém que chore com elas e que sinta todas as suas dores juntamente com elas, alguém que entenda direitinho cada lugar onde dói, de alguém que só esteja lá como ombro amigo.

E foi isso que nós fizemos, nós três juntamos nossos colchões na sala, fizemos uma barraca, e dormimos abraçados enquanto soluçávamos de tanto chorar. Naquele momento nós nos tornamos um só na hora da dor, nós fizemos companhia um ao outro no pior momento, e por mais que a gente não tenha encontrado nenhuma solução, nós estávamos ali um pelo outro e tendo o máximo de compaixão possível.

Mas agora, Emma está em dúvida se Elizah um dia voltará para casa, e por mais que eu queira tranquilizar seu coração dizendo tudo o que ela quer ouvir, eu não posso fazer isso. E eu me sinto péssimo por não poder fazer as coisas melhorarem, me sinto péssimo por não poder tirar Elizah daquela situação, me sinto péssimo por não poder tirar a sua dor.

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