Soldier Jeon | TAEKOOK

1937.07.27

Guk,

Sei que combinamos de que eu iria esperar pela sua primeira carta para enviar a minha primeira, mas amanhã fará exatos 20 dias que você partiu para a guerra e ainda não tenho notícias suas. Quando você trabalha o dia todo em um posto de correspondência e vê milhares de cartas por dia, principalmente chegando cartas de soldados ao redor da Coréia e do mundo, não é nada fácil ser paciente. Eu espero muito que você receba logo essa carta.

Sei que as cartas podem demorar — as moças e os rapazes daqui já chegaram a esperar 1 mês por suas cartas, então tudo bem. Apesar de que eu também sei que em somente 1 semana posso receber minhas cartas, assim como também é possível para que você receba as suas. Espero que tudo esteja ao nosso favor e que sempre consigamos nos comunicar o mais depressa possível.

Percebi que inconscientemente mexo no nosso anel e passei a usar apenas as joias que me deu. Estou doente? Acredito que não, Jimin diz que estou apenas apaixonado e morrendo de saudades, o que também é verdade.

Outro motivo pelo qual te escrevo sem demora é que instalaram um rádio no meu posto de correspondência e agora consigo ouvir as notícias ao longo do dia todo. Ainda não sei se isso é bom ou ruim, pois como a Coréia entrou em massa na guerra, muitos dos acontecimentos narrados são sobre os nossos soldados no Japão e na China. Sei que você foi para a China, então espero, de novo, que esteja bem.

Às vezes alguns nomes de alguns dos mortos em combate são citados e às vezes choro no silêncio de nossa casa imaginando que talvez pudesse ser você. Ou possa ser você. Aish, não gosto nem de pensar. Já me dá vontad

Me desculpe, Guk, parei de escrever. Me deu vontade de chorar e acabei chorando no meio do trabalho (perdoe a folha molhada, são minhas lágrimas). Jin arregalou os olhos, assustado, e veio correndo ao meu encontro. Me deu lenços de papel e tentou me acalmar.

— Taehyung, não pense negativo, tudo bem? — ele disse. — A carta dele já deve estar chegando, você vai ver.

— O que aconteceu? — Jimin chegou preocupado. Jin lhe explicou a situação. Ainda não gosto de repetir.

— Eu disse a ele para não se preocupar...

— Sim, a carta de Yoongi também não chegou ainda.

— Yoongi partiu no último dia 15. — falei. — Compreensível que sua entrega demore mais.

Desisti de conversar com eles quando percebi que queriam me acalmar demais. Não quero pensar positivo, quero ser realista. Sei da situação em que você se encontra e quero torcer pelo melhor, sim, mas isso enquanto você me enviar cartas e falar comigo. Quero falar com você, preciso.

Esses dias tento me distrair ao máximo. Sei que preciso me acostumar com a sua ausência, apesar de ser difícil olhar para o seu lado da cama e ver o vazio que me agoniza, não me abraça. O trabalho consome boa parte do meu tempo, então, chego cansado. Mas em dias que não trabalho, saio para comprar mantimentos, cozinhar, ouvir a rádio na rua ou ler.

Estou lendo um livro europeu, mais precisamente inglês, com o título de "Frankenstein" (inclusive, Guk, caso a sua base se estabeleça na Europa, me conte como é, sim?). Enfim, é uma leitura de horror, mas estou gostando bastante. Enquanto lia, uma frase me chamou a atenção:

"Sempre existe oportunidade para o medo, uma vez que alguma coisa que amei tenha sido deixada para trás."

Automaticamente pensei em você, Guk. Você não me deixou para trás e eu ainda te amo, mas sinto medo (eu destaquei, você viu?), e muito medo. Meu anel não sai do dedo e é meu equilíbrio para que eu me mantenha são.

Bem, eu vou voltar ao meu expediente. Aproveito para enviar essa carta assim que envelopa-la. Não sei quanto tempo demorará para chegar até você; não sei nem aonde você está. Só queria poder te ver.

Do seu,

Tae.

Escrita em 1937.07.27
Enviada em 1937.07.27
Entregue em 1937.08.09