1937.12.06

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Guk,

Como você disse que não iria omitir nada nem esconder, farei o mesmo — na verdade, já estou fazendo, não se preocupe. Mas aconteceu algo que me assustou e quero que você saiba. Não é para você se preocupar com isso. Já está tudo bem, mesmo. Estou ótimo! Mas quero te contar para você ter noção da situação como está, e também porque você me pediu que te contasse e te atualizasse de tudo.

Comemoramos o aniversário de Jin anteontem. Ele quis chamar mais um pessoal do trabalho, então fui com minha lista para comprarmos mais algumas coisas que estavam faltando. Jimin me acompanhou ao mercado e Jin iria nos encontrar depois. Em seguida, iriamos todos a um estabelecimento ao lado da sua casa para a celebração.

Na entrada do mercado, porém, tinham três soldados japoneses. Ainda não entendi o porquê de termos esses homens aqui. Ficaram nos olhando e não entendemos o que estava acontecendo, então apenas continuamos o nosso rumo, procurando os itens de nossa lista que ainda tínhamos que comprar.

Na saída do mercado, porém, que vem ao caso. Os mesmos soldados nos pararam e começaram a falar um coreano misturado com japonês. Perguntaram o que estávamos fazendo a essa hora na rua, o que tínhamos comprado, para aonde estávamos indo, aonde morávamos... Tudo. Quiseram saber de tudo. Dissemos em partes, é claro, e procuramos focar na parte em que seria o aniversário de Jin, mas aparentemente eles não gostaram muito de receber apenas isso de informação.

— Por que homens como vocês não estão na guerra?

— Trabalhamos no posto de correspondência. Trabalho indireto. — nos olharam de cima a baixo por um tempo e eu já estava começando a ficar incomodado.

Só queria ir para casa. Só queria ter você ali.

— Nós estamos em trabalho direto... Frente a frente... — se olharam. — Sabe, não era muito do nosso feitio vir para cá. Mas agora acho que podemos tirar proveito. — demos um passo para trás.

— A minha mulher está lá no Japão... Não tenho ninguém aqui.

Minha cabeça já não processava mais a situação. Eu só queria ir para casa. Eu só queria ter você ali.

Jimin deu um murro em um dos soldados. Acordei. Dei um chute no outro soldado que tentou vir para cima de nós. Saímos correndo.

E eu só queria ter você ali.

Enquanto tentávamos fugir para que eles não nos alcançassem, — eles tinham armas, é bom sempre lembrar na hora — vimos Jin vindo ao longe, na outra direção, sem compreender ao certo o porquê fugíamos. Mas, como se torcer demais para que você aparecesse desse certo, quatro soldados coreanos apareceram pela esquina e, percebendo a movimentação, vieram nos acudir. Os japoneses até tentaram lutar contra, jogar palavras chulas para cima dos soldados e de nós, mas apenas saíram rindo.

Os quatro soldados coreanos esperaram que fôssemos até Jin e quiseram saber como estávamos, e se queríamos companhia até nosso destino. Jimin respondeu tudo por mim. Jin ainda estava meio confuso e preocupado. Eu ainda estava assustado. Ainda estou um pouco, vou ser sincero. Eu já tinha ouvido no posto que algumas coisas esquisitas relacionadas aos japoneses aqui estavam acontecendo, mas é muito mais significante, e pior, quando acontece conosco.

Aprendi que não posso mais ir naquele mercado. Ou em nenhum outro lugar. Eu não quero mais sair de casa. Jimin está vindo para cá, mas não dorme no seu lado da cama quando passa a noite. Ninguém dorme. Só você. É o seu lado da cama. E tem seu cheiro; eu também amo o seu cheiro. E quero senti-lo todas as noites enquanto ele ainda estiver impregnado ali.

Repito o que falei no início da carta: estou ótimo. Não precisa se preocupar comigo nem com ninguém. Sei que você vai ter vontade de sair daí a qualquer custo, mas fique em paz, Guk, por favor. Não temos o que fazer. Só estou te atualizando do que aconteceu, do infortúnio que aconteceu.

O Natal está chegando. Já percebi que as cartas não. Estão demorando demais. Então, feliz Natal, meu amor. Vou fazer o bolo e lembrar do quanto você ama saboreá-lo.

Amo você. Muito. Seu,

Tae


Escrita em 1937.12.06
Enviada em 1937.12.06
Entregue em 1937.12.23

Soldier Jeon | TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora