Tae,
Chegamos à base na China há uns dias e consegui parar para lhe escrever agora. Espero que esteja bem. Eu estou bem. Já sinto sua falta!
Conheci alguns dos outros soldados coreanos que estão na base comigo; parecem boas pessoas. Ao menos isso. Desde que os japoneses atacaram os chineses no último dia 7, eles estão muito... eufóricos. Não são amigáveis. E nem querem ser. Sou uma arma aqui, foi o que o capitão disse. Mas também sei que sou seu amor.
Não encontrei Yoongi, apesar dos apesares. Não sei quando e se ele foi recrutado, mas me deixe informado através de Jimin, por favor. Um rosto amigo em meio ao caos pode ser bom às vezes.
O caos... Eu sabia que a possibilidade de ser recrutado era grande desde que a Coréia quase colapsou com tantas guerras intercontinentais. Mas, não sei, estando aqui, agora, parece uma outra realidade, uma realidade que eu não gostaria de fazer parte. Nem hoje, nem nunca.
Quando chegamos à China, o navio transportava tanto soldados coreanos, quanto alguns outros de outros lugares por onde passávamos, e até mesmo alguns mortos em batalha — esses que muitas vezes eram jogados ao mar ou queimados em óleo. Eu te amo, mas acho que seu coraçãozinho não ia aguentar nem um dia em campo.
Me perdi dos conhecidos do navio para me encontrar com outros novos na base, onde te escrevo essa carta do meu colchão. Vejo que muitos dos outros soldados também escrevem suas cartas; me pergunto em quanto tempo demorará a chegar a você, espero que não muito.
A nossa tenda tem 18 homens, porém conversei mais com 3 deles: Kim Namjoon, Kim Mingyu e Cha Eunwoo. Eles também moram em Seoul e já marcamos — com muita graça, expectativa e ilusão — de tomarmos uma cerveja todos juntos quando voltarmos da guerra. Muita esperança. Muita ilusão.
Vou te levar para tomar uma cerveja assim que eu voltar. Anote.
Bom, voltando... Quero te deixar sempre à par de tudo — ou pelo menos tentar. Não sei sobre os próximos passos, ninguém nos comunica dos seus planos. Justo. Mas estamos em Pequim e, pelo que pude entender, Japão está dominando em cima da China. Posso contar como primeira vitória?
Ainda não fomos para campo, estamos ao redor da base ou assegurando alguns outros lugares. Já vi mortos que não queria ver, mas estou apenas nos primeiros dias, então já tenho em mente que é bom eu me acostumar.
Kim Namjoon, aparentemente percebendo o meu nervosismo inicial, é o que mais me apoia. Fiquei surpreso com tal atitude, não vou mentir. Entendi que todos precisávamos ter sangue frio e coração de gelo para enfrentarmos todo e qualquer tipo de situação em uma guerra, mas ele é em quem eu me apoio aqui. E está sendo um alívio, consigo desabafar ao menos sobre a realidade que nos envolve.
Hoje cedo estávamos nos estabelecendo novamente na tenda depois de retornamos do serviço de hoje e vi alguns dos soldados falarem sobre as cartas que iam enviar para seus familiares ou cônjuges. Estávamos, de fato, muito ocupados para podermos sequer escrevermos algumas palavras de saudação ou tranquilidade.
— Finalmente! — Mingyu exclamou ao longe. O olhei com curiosidade enquanto ajeitava minhas roupas e percebi Namjoon também alegrar-se. Cheguei ao seu lado.
— Podemos... Enviar para qualquer um, não é?
— Sim. — Namjoon disse. — Já sabe pra quem vai escrever a primeira carta? — sorri. E pensei em você. Eu sempre saberia quem seria.
— E você? — perguntei.
Namjoon apenas concordou com a cabeça e decidi não ser invasivo no assunto, afinal, também gostaria que ninguém fosse invasivo comigo. Não quero que ninguém daqui saiba de você. Não conheço ninguém e não pretendo criar laços. Não sei o que pode acontecer daqui pra frente. Posso não vê-los mais em determinado dia e pensar que posso ser o próximo a partir.
Não queria acabar essa carta com tristeza (eu genuinamente ri agora), então quero saber sobre você. Como está o trabalho? Incrível vantagem de você estar trabalhando no posto de correspondência: não precisa esperar minhas cartas chegarem em casa e você pode enviar suas cartas manualmente.
Como estão Jimin e Jin no trabalho? Mande-os um abraço meu. Peça para que eles fiquem de olho em você por mim, por favor (sei que vai revirar os olhos — não falei?). Conseguiu fazer a torta de morango que você comentou no início de julho? E espero que esteja usando meu anel. Não posso usar anéis ou acessórios, mas te tenho no coração.
Vou — tentar — dormir agora. Aparentemente, quase todos já estão dormindo. Por incrível que pareça, sou um dos únicos a ainda escrever a carta. Achei que fosse fluir bem, já que me sinto confortável falando com você, mas na verdade estou nervoso. Muito nervoso. E com medo. Quero voltar pra você. Me espera.
Amo você para sempre. Com amor,
Jeon, Jeongguk
RA30120109
T-50Escrita em 1937.07.23
Enviada em 1937.07.24
Entregue em 1937.08.02Em 7 de julho de 1937, aconteceu o Incidente da Ponte Marco Polo, quando tropas japonesas invadiram a China, concentrando-se em Pequim. Assim deu-se início à Segunda Guerra Sino-Japonesa, também sendo considerado um dos inícios da Segunda Guerra Mundial. Como a Coréia ainda era uma só e tinha muita influência dos países asiáticos, o Japão recrutou soldados coreanos para lutarem ao seu lado e aumentarem o seu exército. Lembrando que o Japão estava do lado da Alemanha de Hitler, mas Jeongguk aqui não estava do lado deles, apesar de ser obrigado a lutar.
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Soldier Jeon | TAEKOOK
FanficEm 1937, quando o exército coreano entrou na Segunda Guerra Mundial para servir ao Japão, um soldado e seu grande amor trocavam cartas em meio ao caos e a tristeza desse conflito militar global que matava tantos. {longfic | cartas | completo} {tw: h...