1941.01.24

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Tae,

Por breves momentos, temei não conseguir escrever este registro para ti hoje. Agora já está tarde, o céu escureceu há muito, e pude descansar por uns instantes. Comi um pão duro e seco. Estamos sem muitos mantimentos por que participamos de uma batalha um tanto conturbada.

Nos encontramos em Panjiayu no datado dia, e as tropas japonesas foram insistentes ao reiterarem a extrema necessidade em tomarmos a cidade chinesa. Portanto, desde que chegamos — já não me recordo mais do dia — matamos mais do que podemos contar, sem tempo para repor as energias.

Na batalha de hoje, entretanto, fomos subitamente divididos pelo conflito. Perdi Namjoon e alguns mais próximos de vista. Ao meu lado, alguns outros. Principalmente Kai e Eunwoo. A situação estava controlada, porém difícil. Os chineses revidavam com toda a força, jogando diversas bombas e explosivos de longe, para nos despistar e nos atacar à distância.

Não enrolarei em contar que uma dessas bombas atingiu as pernas de Kai bem em sua oportuna explosão, espalhando partes do corpo do soldado e deixando uma poça de sangue no chão. Preciso ser sincero com você, Tae: não senti nada. Nenhum tipo de tristeza. Aliás — minto; senti alívio. Nunca gostei dele, e já quis matá-lo eu mesmo, com as minhas próprias mãos.

Logo em seguida, porém, um explosivo foi arremessado e Eunwoo o pegou, acidentalmente, com uma das mãos. O tempo que teve para arregalar os olhos foi o mesmo segundo em que o explosivo precisou para ser acionado em sua mão. Tae, ele perdeu os dedos da mão direita. Como empenhou-se em evitar um desastre consigo, ao tentar pegar a pequena bomba com a mão esquerda, essa acha-se totalmente queimada pela explosão.

Seu rosto em agonia foi tamanho que tive que ajudá-lo. Ele não é uma má pessoa. Não foi com má intenção que expôs o nosso relacionamento, anos atrás, ao falar da sua fotografia. Ele só é um garoto assustado, como todos nós. Depois do incidente, então, perdeu toda força que tinha e caiu no chão. O ajudei a se locomover e conseguimos sair dali com vida e com o resto dos membros que nos sobrara — estou inteiro, por assim dizer.

Quando a situação houve de se acalmar, amor, ele me implorou de joelhos e curvado que eu redigisse a carta para ele, pelo menos por hoje. Então, eu estava até o breve momento redigindo suas palavras. Seus registros são para o seu pai, que nunca o responde. Achei isso triste, amor. Eu não imagino o que eu faria se você parasse de me responder — ou simplesmente nunca tivesse começado. Não posso nem imaginar.

Ele não escreve todos os dias, então certamente não é da minha responsabilidade. Amanhã vamos partir com toda força que nos consome e todo ódio que nos assombra para nos vermos livres daqui. Torço para que tenhamos êxito.

Eu não pretendia te contar, amor, inclusive, mas acredito que essa informação chegará a você algum dia. Alguns soldados em tropas japoneses, muitos coreanos, foram enviados a Coreia há pouco mais de uma semana, se não me engano.

Esganei o primeiro homem inimigo que apareceu na minha frente com as minhas próprias mãos, de raiva. Eu daria tudo para ter ido no lugar de qualquer um deles e ter a chance, por mais mínima que fosse, de poder te ver novamente, e sentir seu calor contra minha pele.

Preciso tentar dormir por algumas horas antes que precisemos avançar novamente. A cada dia que passa, a situação piora em cada perímetro do país. Receio que em todos os países estejam assim. Quando isso vai acabar? Preciso te ver. Amo você.

Com amor,

Jeon, Jeongguk
RA30120109
T-50



Escrita em 1941.01.24
Enviada em 1941.01.26
Entregue em 1941.02.26

Soldier Jeon | TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora