1940.02.01

144 37 8
                                    

Tae,

Acabei de receber sua primeira carta sobre o seu aniversário. Vou aguardar as próximas para saber em mais detalhes se ocorreu uma comemoração ou não — mas já imagino qual seja a resposta.

Para tentar lhe alegrar depois de tantos registros grotescos e macabros, deslembrei de comentar a você quando conheci um ponto de esperança e um poço de felicidade — por incrível que  possa parecer, sim, acredite em mim. Foi quando estive na enfermaria próxima ao acampamento há uns meses. Na época em que quebrei o braço, recorda-se?

Conheci o médico chefe encarregado dos doentes daquele perímetro da base. Seu nome era Hoseok, mas ele gostava de ser chamado de Hope. Disse que gostava de dar esperança àqueles soldados que não tinham mais nada a se apoiar. Ele é muito alegre, não entendo como é possível. Hope tenta nos passar confiança e esperança. E todos acabamos nos apoiando nele mesmo para conseguirmos passar por tudo isso. E é verdade, amor, quais esperanças temos diante de tantas mortes que vemos todos os dias? Tantas mortes produzidas por nossas próprias mãos?

Você se lamenta de vidas perdidas e, cá estou, tirando vidas. Isso é injusto. Isso é sujo. Isso é surreal. É desumano. Por que eu, antes um civil, fui obrigado a vir aqui, matar outros antes civis? Eu não pedi por isso. Do que adianta matar por política? Qual é o grande sentido dessa guerra? Por qual razão esses tão louvados superiores não podem entrar numa sala e eles mesmos apontarem armas para si? Por que precisam nos envolver? Pessoas inocentes. Não temos nada a ver com isso. Não quero ter nada a ver com isso e espero que logo em breve eu pare de ter. Eu não aguento mais.

Perdoe-me, meu amor. Me desequilibrei. Me desequilibro e me descontrolo corriqueiramente todos os dias. Tornou-se um hábito indesejado e inconsciente. Era para ser uma carta feliz depois de tantas tristezas, mas já percebeu que eu não consigo fazer isso? Não há felicidade aqui. Não tem como haver? O que há de ser feliz, no meio de escombros e corpos ensanguentados já sem vida, homens insalubres, homens das cavernas, que estupram mulheres e homens inocentes em toda cidade que chegamos e não há esperança?

Simplesmente não há esperança. Não tem como haver.

Minha esperança é você. Minha felicidade é você. São suas cartas, suas palavras, cada fotografia que me manda, cada pedido que me faz, cada elogio que me profere e cada "eu te amo" que é sincero. E eu amo você. Espero que te ver em breve, simplesmente preciso. Não aguento mais, porém preciso aguentar. Por mim. Por você. Vamos passar por isso juntos, ok? Só... Me espera. Eu vou voltar para você, e isso é uma promessa. Não desista mesmo.

Com amor,

Jeon, Jeongguk
RA30120109
T-50


Escrita em 1940.02.01
Enviada em 1940.02.03
Entregue em 1940.02.28

Soldier Jeon | TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora