Capitulo 10 - Deixar Ir

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"Toco na campainha da sua porta e ela abre-se de imediato.
Era uma noite de Verão, um pouco mais fria que as outras. Agosto contava os seus últimos dias e eu precisava de alguém para me ajudar com o dilema que eu me enfrentava.

-Louise?

-Mav, eu preciso de ajuda e tu és o único com quem eu posso contar agora.

-Entra.

O exterior da casa de Maverick capta a atenção de qualquer um por aparentar ser de alguém bastante rico, mas por dentro até chega a ser bastante simplista.
Sento-me num sofá preto na sua sala.

-Posso trazer-te alguma coisa? Água? - questiona

-Não, obrigada. - ele senta-se ao meu lado com um dos braços apoiados no encosto de trás do sofá, ficando de lado para me encarar. - Então, querida, que se passa?

-Eu estive com a mãe do Brad no dia antes dela morrer.

-Sim... Continua...

-E ela pediu-me uma coisa que não sei como a fazer, muito menos sequer sei se a consigo fazer. - engulo em seco e ele olha para mim na expectativa do que vem em seguida - Ela disse que não queria que o Bradley fosse piloto e achava que, por eu ser melhor amiga dele, o conseguia impedir.

-A Carole pediu-te isso? - ele pergunta confuso e eu aceno com a cabeça positivamente

-Eu entendo que o maior medo dela era esse, que o filho fosse piloto e morresse como o marido morreu. Mas, Mav... - fungo na tentativa de conter o máximo de lágrimas possível - Eu não lhe consigo fazer isso. Ele sonhou com isto a vida toda.

As lágrimas começavam a escorrer incontrolavelmente pelo meu rosto.
Sentia-me entre a espada e a parede, encurralada e sem ar.
Não sabia se havia de fazer o que a mãe dele queria ou o que o meu coração dizia.
A ideia de magoa-lo não me cabia na cabeça, mas ao mesmo tempo eu tinha dito a Carole que "faria o que podesse" e não queria não cumprir o que lhe disse tempos antes de morrer.

-Tu gostas dele, não gostas, Lou?

-Não me faças perguntas que sabes que não consigo responder. - sorrio com os olhos ainda marejados

Ele ri e abraça-me em seguida. Não me contive e abracei-o de volta.

-Não te preocupes, eu trato do assunto. - dá-me um beijo no topo da cabeça e acaricia a mesma - Ela não te devia ter pedido isso. És apenas uma criança.

--//--

Tenho dificuldade em abrir os olhos e assim que o tento fazer sou atingida com fortes dores de cabeça.
Quando abro os olhos por completo os meus olhos são invadidos por uma luz extremamente branca e ao longe vou ouvindo o som de um monitor cardíaco.

-Enfermeira! Ela acordou. - uma voz masculina acode por uma enfermeira, o que me levou a creer que estava num hospital - Lou?

Soube de imediato quem era, a voz era reconhecida como aquela qual eu ouvi toda a minha infância e juventude. Conhecia-a rapidamente.

-Mav...? - chamo pelo o seu nome

-Tenente Kazansky, como é que se sente? - uma das enfermeiras questiona-me

-Bem, eu acho. Com algumas dores de cabeça.

-Vamos lhe dar algo para as dores. - diz enquanto acrescenta um soro, conectando-o ao tubo intravenoso que está no meu braço

-Onde é que está a Phoenix? - questiono enquanto me tento sentar

-Ei ei ei, com calma. - ele tenta ajudar a sentar-me - Ela está bem, teve apenas alguns arranhões e já teve alta.

A enfermeira sai do quarto deixando-me com ele.
Sinto-me aliviada por ela estar bem, nunca me teria perdoado se algo tivesse lhe acontecido nas minhas mãos. Era uma responsabilidade a qual eu não estava acostumada e, honestamente, era difícil aceitar que deveria-me acostumar.

-Não devias ter feito aquilo. - digo

-Aquilo o quê?

-Me posto como piloto. Sabes perfeitamente que é fora da minha área de conforto e olha no que é que resultou.

Eu estava consideravelmente irritada com Maverick por ele ter feito aquela decisão. Era arriscado, ele sabia e podia ter acabado muito mal.

-Lou, eu estou aqui justamente para vos tirar dessa zona de conforto.

-Mesmo que isso implique duas das tuas alunas virem parar ao hospital? - debocho da sua postura e ele passa a mão pela cara suspirando - Nós podíamos ter morrido.

-Se tu não soubesses o que fazer, sim, vocês teriam morrido. Mas tu sabes o que fazer, Louise. Por algum motivo eu quis te desafiar.

-Sei o que fazer? - questiono indignada - Eu reiniciei um motor em chamas. Nem caloiros fazem isso. - encosto a cabeça à almofada -A cada dia que passa eu pergunto-me se este é realmente o meu lugar. O Rooster tinha razão no que disse naquele dia, fui estúpida em achar que algum dia eu seria boa como o meu pai, ou pelo menos que seria tão corajosa quanto.

-Louise, estás a ouvir bem o que estás a dizer? Tu és das mulheres mais corajosas e talentosas que conheço. - ele aperta a minha mão que está pousada na cama

-Olha Mav, eu agradeço as palavras, mas isso não muda nada. Eu sou fraca. Caso contrário eu teria resolvido o problema do avião e aterrado em segurança sem ter posto em risco a minha vida e a vida da minha colega. Se eu fosse tão corajosa como dizes resolvido o assunto da candidatura do Bradley sozinha. - olho-o nos olhos e digo a última parte um pouco mais alto

Os meus olhos estão marejados, já prontos para um momento de choro por ter tocado no tema.
Era um assunto delicado, mas era a minha realidade e eu tinha de arcar com as consequências.

-Tu eras demasiado nova para tomar essa decisão. - ele afaga a minha cabeça - Está tudo bem, minha querida. Vocês vão se entender.

Maverick levanta-se, senta-se ao meu lado na maca e vem para me abraçar. Deixo os braços dele me acolherem. Aquele abraço era tão confortável, tão reconfortante...
Permito-me chorar à vontade naquele abraço, sei que ele sabe como me sinto, também ele passou por isso.
Pela necessidade de se afirmar talentoso pela fama atrelada ao sobrenome.

-É tudo culpa minha. - aperto os seus braços ao meu redor - É culpa minha que não tens uma boa relação com o filho do teu melhor amigo, é culpa minha que o meu melhor amigo odeia-me e agora não o consigo proteger mais.

Sempre soube que Maverick sentia a necessidade de estar presente na vida do Rooster como figura paterna, coisa que ele não conseguiu muito cumprir por ele ainda o culpar pela morte do pai. Eu sabia internamente que Maverick, mesmo assim, tinha sempre um instinto de proteção para com o Bradley, fora as desavenças.
Afinal, por muito que Rooster até o culpasse, ninguém culpava mais Pete pela morte de Goose senão ele mesmo. O mínimo que ele achava poder fazer era ficar de olho no filho deste.

-Não é culpa tua. Eu fiz o que fiz para vos proteger aos dois. Eu também não queria que o Brad estivesse aqui. Achas que eu não penso todos os dias o quão eu não queria que ele tivesse chances de morrer como o Goose morreu? Não suporto essa ideia. Eu não queria que ele voasse também.

-Ele acha que tudo o que eu disse naquele dia era verdade. Não era, não é, nunca será.
Óbvio que eu estava com medo que ele fosse, eu nunca ia ter a certeza que ele ia voltar pra casa, mas é voar que o faz feliz e fá-lo sentir mais próximo do pai. Não o podemos culpar. - suspiro - Ele tem razão, mas eu não lhe posso dar o braço a torcer.

-Vocês precisam esquecer isso, Lu. Não podem discutir mais sobre isso. Passou, acabou.

Eu sabia que ele estava certo. Estava na ora de deixar ir.

TopGun - A Ascensão De AlaskaOnde histórias criam vida. Descubra agora