Capítulo 16 - Palavras

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"Estava em casa do Maverick quando tudo aconteceu. Tinha passado por lá para conversar sobre a situação da candidatura do Bradley, aquela que ele tinha-se encarregado de resolver.
Ele contornava o assunto, evitando contar-me o que tinha feito. A minha perna tremia nervosamente, enquanto tentava aquecer as minhas mãos com o calor da chávena de café quente que tinha apoiada na mesa.

-Mav, o que é que fizeste com a candidatura dele? - questiono sem paciência

A resposta é interrompida por uma batida furiosa na porta. Ambos estranhamos a agressividade com que bateram.
Maverick levanta-se para abrir a porta e assim que o faz a pessoa em questão entra de rompante com uma postura extremamente irritada.

-É verdade? Foste tu? - questiona em alto tom apontando o dedo a Maverick

-Brad, o que é que se passa? - pergunto enquanto me levanto e vou até ele

-Fica fora disto, Liz. - ele diz de maneira mais suave, ainda sem tirar os olhos de Pete - Responde, Maverick. Foste tu que tiraste os meus papéis de candidatura?

-Sim, fui eu. - diz, calmamente

Arregalo os olhos a Maverick.
Ele tinha-o feito.
Ele fez o que a Carole me tinha pedido, eu não tinha tido coragem de fazer e agora assumia as culpas por tudo.

-Como é que tu podeste-me fazer isto! Tu não tinhas o direito! - grita

-Tu não estás pronto. - responde em tom baixo

-Pronto para quê? Pra voar como tu?

-Não. Não estás pronto para esqueceres as regras, confiares nos teus instintos. Não pensar, apenas agir. Se pensares lá em cima tu morrer, acredita em mim.

-O meu pai acreditou em ti! - grita mais uma vez

-Bradley! - chamo-o à atenção ao ver que o que disse realmente ofendeu Maverick

-Tu sabias disto? - questiona-me e eu olho para Pete que acena-me que não com a cabeça e eu lembro-me das suas palavras.

"Nunca lhe contes. Deixa comigo."

Mesmo assim eu sentia que não consegui esconder aquilo dele, não suportava a ideia de lhe mentir. E assim que eu abri a boca para lhe contar, sou interrompida.

-Ela não sabia de nada. Fiz tudo sem ela saber. - suspira - Tu não estás pronto, Bradley. Não ainda. Pensas demasiado com o que aconteceu com o teu pai. Desprende-te disso!

-Tu conseguiste fazê-lo? - questiona

-Talvez lhe devesses dar ouvidos. - digo

-Como? - vira-se para mim indignado com a minha intervenção

-Eu sei o quanto sonhaste em voar a tua vida toda. Mas se continuares a focar-te no que aconteceu ao teu pai tu nunca vais conseguir chegar onde queres.

-Só podes estar a brincar comigo. - revira os olhos - Estás do lado dele?

-Não existem lados, Bradley! Eu estou preocupada com o meu melhor amigo e com o futuro dele. Só isso.

-Pra quem duvida até das próprias capacidades estás demasiado preocupada com o futuro dos outros. - aproxima-se de mim

-Os meus problemas não são para aqui chamados. E para além do mais, isso não é verdade. - digo já com as lágrimas nos olhos

-Não te enganes, Louise, no fundo tu sabes que é. Mentes a ti mesma para não acreditares nisso.

-Ainda bem que ele tirou os teus papéis da academia. Ias parecer ridículo à beira de gente realmente talentosa. - aproximo-me mais dele

-Tu acabaste de lá entrar e pareces ridícula em pensar que um dia serás tão boa como o teu pai. - diz-lo perto da minha cara

-Chega, Bradley! Foste longe demais! - Maverick alerta e a sala fica silenciosa por algum tempo.

As palavras dele foram como uma chapada de luva branca da cara. Acredito que uma facada doeria menos do que o meu melhor amigo me dizer na cara que eu não era talentosa o suficiente para seguir o meu sonho.

-Tu és a merda de um cobarde, Bradley. E eu nunca te diria algo assim. - olho o nos olhos e as lágrimas caem pelo o meu rosto a baixo

--//--

O bar da Penny estava envolvido numa música calma e melodiosa quando eu e o Rooster voltamos para dentro.
Era bom finalmente sentir que a nossa relação estava estável, voltar a sentir que tinha aquela pessoa ali para estar sempre do meu lado.

-Anda. - ele puxa o meu braço para a parte do bar onde pessoas dançavam em pares, agarradas e abraçadas.

-Não, não, não! - refuto - Dançar não!

-Anda e cala-te. - sorri e eu cedo ao seu pedido por conta daquele sorriso caloroso

Os braços dele acomodaram-se ao redor da minha cintura e os meus à volta do seu pescoço.
Sinto-me de novo com 17 anos.
No baile de finalistas, em uma dança lenta com o meu melhor amigo onde sentia que aqueles braços era o melhor lugar do mundo. Sentia-me segura, com medo do futuro e agora essa ansiedade misturada com felicidade encontrava-se em mim mais uma vez.

-Desculpa. - sussurro

-Ei que se passa? Estás a pedir desculpas pelo o quê? - ele encosta a testa à minha

-Desculpa por tudo o que eu te disse naquele dia.

-Tu não tens de pedir desculpa, eu é que tenho. - suspira - Tu és uma mulher extremamente talentosa, Liz. Tens capacidades pra ser melhor que todos nós, inclusive melhor que o teu pai, mas não me ouviste dizer isto. - sorri e eu rio-me do seu comentário

-Está tudo bem, Brad. - sussurro

-Acredita, nada do que eu disse daquele dia sobre ti era verdade. Não era o que eu sentia. Desculpa.

Ficámos em silêncio durante uns segundos até eu perceber que precisava lhe revelar aquilo que guardava à anos.

-Brad... - olho-o nos olhos e ele murmura algo para que eu fale - Eu sabia.

-O quê? - pergunta sem entender

-Eu sabia que o Maverick ia te impedir de entrar na academia. Só não sabia como.

-Tu não podes estar a falar a sério... - olha-me chocado

-Brad, desculpa nunca te ter dito. Tu nem olhar na minha cara conseguias e eu não tinha coragem de piorar a situação.

-És a minha melhor amiga... Porque é que não me disseste? - sinto-o afastar-se de mim

-Eu não consegui...

-Como é que não conseguiste?! Era o meu futuro!

-Desculpa... - é a última coisa que digo antes de ele sair porta fora. Deixo-o ir, não vou atrás dele. Limito-me a aceitar as consequências daquilo que fiz.

TopGun - A Ascensão De AlaskaOnde histórias criam vida. Descubra agora