Capitulo 18 - Aqui

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"A cada dia que passava aquele rapaz tirava-me mais do sério. Com todas as inseguranças que eu já tinha ele ainda piora a tudo.

A sala de convívio era uma sala aconchegadora com dois grandes sofás antigos de veludo verde de frente um para o outro no centro e, entre eles, uma mesinha de mármore branco.
Atrás destes tinha uma mesa redonda, onde eu estava sentada, ao lado desta um pequeno bar com rádios conectados aos rádios das aeronaves para que ouvissemos o que se passava lá em cima e atrás ds mesa uma grande prateleira com livros, troféus e fotos orgulhosamente expostas.

-Bom dia, Kazansky. - diz ao entrar na sala - Ainda por aqui? Nada te faz desistir? - questiona sorridente

Ignoro.
O melhor tratamento para este tipo de gente que busca, ou melhor, implora, suplica por atenção é simplesmente ignorar. Finjo que não é comigo e que não ligo minimamente para o que diz.

-Oh pontinho cor-de-rosa! - chama pela minha atenção enquanto se senta ao lado de Coyote no sofá. Não tiro a atenção do meu livro. - Não te ensinaram a ter boas maneiras e a olhar para as pessoas durante uma conversa?

-Não estamos a conversar, Hangman. Tu estás a ser idiota e eu estou a importar-me com a minha própria vida, já tu não pareces saber fazer o mesmo. - digo, mesmo sem tirar os olhos das frases e textos das páginas à minha frente

-Um pai tão talentoso e educado para uma filha completamente arrogante e desastrosa. Alaska, pobre de ti. - ele diz e segue com o seu sorriso vanglorioso e convencido

Levanto-me suavemente do meu lugar na mesa da sala de convívio, caminho calmamente até ele, sorrio e de seguida seguro-o perto de mim pelo colarinho do uniforme.

-Ouve-me bem, otário. Estou farta dos teus comentários merdosos todos os Santos dias. Julgas que me conheces porque sabes o meu sobrenome, deixa que te diga, não sabes um caralho sobre mim e nunca saberás. - seguro-o ainda com mais força. Mesmo que tente tirar a minha mão, ele não consegue - Da próxima vez que eu entre por esta porta dentro e ouça algum comentariozinho vindo de ti, eu parto-te os dentes.

Dirijo-me à saída da sala para ir apanhar ar antes que tomasse medidas que me levassem a ser suspensa da academia ou até expulsa.
Mais tarde quando vou a voltar para dentro sou parada por outra jovem, mais ou menos da minha idade, estatura alta e cabelos negros presos num coque baixo bem arranjado.

-Alaska, certo? - para-me e eu aceno com a cabeça confirmando a minha identidade - Vi como enfrentaste o Hangman à pouco. Gostei de ti, miúda. - dá-me um carinho no ombro - Vemo-nos por aí. - ela continua a percorrer o corredor sorridente.

E foi assim que eu conheci a miúda que viria a tornar-se a minha melhor amiga para a vida.

(...)

-Darling, darling stand by me! Ohhhh stand by me! - cantavamos em coro

O fim de tarde estava caloroso, aconchegante e divertido na sala de convívio da academia. Haviam duas salas comuns: uma no segundo andar, em que só estávamos lá quando estivéssemos em espera durante os períodos de treino e a outra era perto dos dormitórios onde estávamos a maior parte do tempo quando não estávamos fardados, que era de facto onde estávamos no momento.

Jake estava de cabeça para trás enquanto cantava alegremente. Eu estava deitada nesse mesmo sofá em que ele estava sentado, com os pés em cima das suas pernas. Este fazia carinhos e massagens nos meus pés por cima das meias.

Estávamos todos a ter uns últimos momentos de diversão antes da missão. Nenhum de nós gostaria de admitir ou sequer teria coragem de dizer a verdade, todos estávamos a tentar aproveitar ao máximo porque não sabíamos até que ponto estaríamos cá a seguir da manhã seguinte para contar a nossa história e beber mais meia dúzia de cervejas juntos.
Era assustador essa ideia, não nego. Aterrorizava-me, pra ser sincera. Não vê-los de novo e, ainda pior, a minha mãe perder mais alguém. Dizem sempre que devem ser os filhos a enterrar os pais, não os pais a enterrar os filhos. Ambos são situações horríveis, cada uma com o seu motivo, mas a ideia de a minha mãe ter de chorar a morte do marido e da filha em menos de 1 mês de espaçamento, mata-me por dentro.
Sei que preciso de voltar viva, por ela, por eles e por alguém cujo olhar agora parece não se encontrar com o meu, mas que um dia já me foi muito grato e eu a ele.

Rooster mal me olha na cara, quando sinto o seu olhar sobre mim é rápido, ele desvia mesmo antes de eu poder ter certeza de que era para mim que ele olha.
Sei que fiz a coisa certa, mas confesso que nada mais me dói ver que os nossos olhares não se encontram mais, não há mais sorrisos nem ombros para chorar. Sinto falta do meu melhor amigo. Sinto falta da pessoa que sempre senti que me completasse.

-Lou? - Phoenix chama-me à atenção de volta à realidade, tirando-me dos pensamentos - Oupa, vamos ao bar da outra sala buscar mais cerveja. - diz levantando-se e puxando o meu braço para ir com ela.

Calço as minhas all stars pretas já levemente desgastadas sob as minhas meias de cano alto e vou até ela para acompanha-la no caminho.

-Como é que estás? - questiona-me enquanto abre a porta da outra sala para ir buscar as grades

-Bem...? Eu acho. - rio levemente pela sua questão

-Lou, estou a falar a sério. Como é que estás? Com a missão, com o Rooster, com a morte do teu pai.

Ao mencionar os eventos que ainda me são sensíveis, engulo em seco.

-Com medo... - ela olha para mim à espera que eu seja mais sincera sobre o que sinto - Não te vou mentir, Nat, eu estou em pânico com tudo isto. - pego nas caixas para ajuda-la pelo caminho com o peso. - Sinto que se meter um pé naquele avião tou a cometer suicídio. Não sei se quero.

-Primeiro nem sabes se vais ser escolhida, não sofras por antecipação. - tenta acalmar

-Eu vou. - ela olha pra mim espantada com a minha certeza - O Maverick disse-me.

-Como...? - ela para em frente a mim para poder saber da história

-Hoje, no final do treino, passei pela sala do almirante e ouvi a conversa deles. O almirante não me queria deixar ir sequer, mas o Maverick insistiu. Ele quer que eu e tu voêmos na missão, Phoenix. - digo a última frase olhando nos olhos dela e ela devolve-me um olhar piedoso.

-Nós? - questiona-se

-Eu não deveria te estar a dizer isso, eu sei. - contenho as lágrimas - Mas eu não tenho certeza de que consigo voar. Acho que não consigo fazê-lo.

-Mas estás louca ou quê? - ela exalta-se - Tu és a pessoa com mais paixão por isto que eu conheço. E desde que o Iceman morreu que tens duvidando de ti e eu não entendo isso. - pousa as grades e pousa as mãos nos meus ombros - Tu és das pilotos mais talentosas que eu alguma vez já conheci. E sabes que mais? Se tu não fores eu também não vou.

-Phoenix, mas...

-Foda-se. Nem mas, nem meio mas. Eu não levanto aquele avião sem ti. - dá ênfase a cada palavra fazendo uma pausa do meio destas - Tu és a minha backsitter! Tu! E mais ninguém!

-Eu não sei se consigo. - digo honestamente

-Consegues. Eu sei, tu sabes, todos sabemos que tu, melhor que ninguém, és capaz de fazer a merda desta missão e chegares viva a terra para contar a história.

Seguro a mão dela, firmemente.

-Sabes que mais? Foda-se mesmo. Eu estou contigo. Sempre estive contigo e não é agora que vou deixar de estar. - sorrio e ela abraça-me com força

É um abraço quase desesperado.
Desespero pelo conforto que buscamos uma na outra porque sabemos que somos a as únicas uma da outra com quem podemos contar nestas situações.
Nos momentos em que o mundo parecia ficar cinzento, Phoenix parecia ajudar tudo a ganhar mais tonalidade e ajudava-me a ganhar mais esperança nas coisas.

-Vai ficar tudo bem, Lou. - Ela afasta-se levemente, sem sair do abraço, apenas para me olhar - Nem que no final sejamos apenas nós, 2 gatos e uma grade de cerveja. - rimos

A luz do pôr do Sol refletia em nós e tornava o ambiente ainda mais carinhoso e acolhedor com os seus raios ainda mornos da temperatura amena da tarde.
Sinto a nossa conexão forte e isso faz-me alegrar dos meus pensamentos monótonos.
Phoenix era realmente a pessoa que me completava de todas as formas.

-Sempre e para sempre. - sorrio enquanto vejo leves lágrimas cairem pelo o seu rosto

-Sempre e para sempre.

TopGun - A Ascensão De AlaskaOnde histórias criam vida. Descubra agora