Capitulo 17 - Olhos

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"-Mãe? - chamo assim que entro em casa e rapidamente oiço passos apressados

-Louise, minha filha! - ela abraça-me com força - Graças a Deus que correu tudo bem.

-Calma. Está tudo bem. - sorrio - Vai ser sempre assim que eu chegar a casa?

-Oh filha, não sabes como eu estava preocupada. Era a tua primeira missão, mal consegui dormir. - ela deita as mãos à cabeça - O teu pai esteve sempre aqui a tentar com que me acalmasse, mas sabes que não adianta.

-Eu estou bem, vês? - dou uma voltinha - Estou inteira. - vou até à cozinha, abro o frigorífico e tiro uma garrafa de água fresca.

-Raios te partam, és igualzinha ao teu pai. - persegue-me - Não sejas irónica, Louise. Sou tua mãe é lógico que fico preocupada!

-Mamã... - sorrio e vou até ela para lhe dar um beijo na testa - Eu estou sempre bem.

Ela aconchega o meu rosto com as mãos e ela olha para cada detalhe meu. Desde o meu cabelo claro, quase cor caramelo, até aos meus olhos castanhos totalmente puxados do meu pai.

-Nove meses contigo e mesmo assim saiste com os olhos do teu pai. - ela sorri

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Hangman entra no seu avião e sobe como nosso asa neste treino. Esperávamos que os demais ficassem prontos para começarmos quando este começa a cantarolar uma canção.

-Hangman, não estragues a música

-Eu não diria estragar, mas sim melhorar. - Hangman diz no rádio - Dom que tenho desde pequeno.

-E os teus pais nunca tiveram coragem de te dizer que cantar não é uma virtude tua? - digo

-Vocês é que não sabem apreciar talento.

-Se isso é talento nunca desejei tanto ser surdo. - Fanboy zoa

-Salta Deus à vista, mas há surdos com sorte. - sussurro de forma a que, mesmo assim ouçam o que disse. Estes riem do meu comentário.

Estávamos finalmente a treinar com os posicionamentos corretos para a missão. Faltavam 2 dias e cada vez que pensava na ideia de colocar tudo em prática correndo o risco de morrer, tudo em mim arrepiava.
Ainda era difícil voar sem pensar no meu pai e sem sentir saudades dele, não havia um dia em que isso não me ocorresse. O que vale é que eu tinha aquela gente toda para me alegrar e me lembrar do verdadeiro motivo pela qual escolhi este rumo para a minha vida.

O Rooster ainda mal me falava depois do que acontecera ontem à noite.
Sinto que foi a coisa certa a se fazer, mas justamente agora que estava tudo a voltar a estar como antes...
Sinto a falta dele, eu realmente sinto. Mas não sei se seria capaz de continuar a carregar aquele segredo comigo. Matando-me e correndo-me aos poucos.

Assim que o treino acabou, vejo o Maverick afastar-se de imediato por chamamento do almirante ao seu escritório, algo que só acontece em situações de repreendimento. Não me surpreende vindo dele, está sempre a desafiar os seus limites e os dos outros.
Antes de ir com os meus colegas até à sala comum de descanso faço uma pequena pausa para ir à casa de banho.
No caminho de volta, coincido os meus passos com a entrada do escritório atribuído ao almirante.
Não resisti a ouvir parte da conversa.

-A missão é já amanhã, Maverick, mal faz uma semana que o pai da miúda morreu. És louco em achar que ela está em condições... - ouço um murro ser acertado na mesa e interromper a voz do almirante

-Ela é das melhores que tenho em treino, se eu vou nesta missão ela vai comigo.

-Capitão Mitchell, entenda, eu não posso permitir que nenhum dos meus pilotos tenha limitações a nível emocional que possam prejudicar o plano.

Existe uma pausa longa envolvida pelo silêncio entre a conversa e, mesmo de fora, consigo sentir o clima de tensão que existe.

-Ela tem os olhos dele, Almirante... - arrepio-me com essas palavras - A mesma ambição, a mesma frieza. Se há pessoa que não vai deixar o emocional dela arruinar o plano, é a Alaska. É ela.

-Compreendo que tenha uma ligação maior à Tenente pela a amizade com o pai dela, mas não posso permitir. Coloque o Tenente Bob Floyd como backsitter da Tenente Trace. - Ouço Maverick suspirar desiludido - É muito arriscado.

-A única backsitter em que a Phoenix confia é a Alaska, o senhor sabe disso. Ambas são imparáveis quando juntas, são justamente o que procuramos no programa. Não as vou separar.

-Então, envie outra dupla. - desafia

-Então arranje outro capitão e outro líder para a missão.

É a última coisa que oiço da conversa. De seguida, Maverick abre a porta do escritório para sair e dá de cara comigo, sentada numa cadeira encostava à parede em frente à porta.
Ele olha para mim e eu levanto-me.

-Lou... - ele começa a aperceber-se

-Eu ouvi tudo... - limpo uma das lágrimas que já me escorria pelo rosto - Obrigada por tentares.

Ia virar costas para ir embora, mas este impede-me para continuar a falar comigo.

-Eu não te vou deixar para trás. Nunca te fiz isso, nunca te vou fazer. Muito menos agora.

-Mav, ouviste o almirante. Não sacrifiques a missão por mim. Não vale a pena.

-Tu vales a pena. - segura na minha mão e preparar-se para sussurrar - Não é suposto eu dizer até ao dia da missão, mas tu estás na minha equipa principal. Se eu vou, tu vais. Sem discussões.

-Eu não sou como o meu pai, não sei se saio viva dali.

-Vê se metes algo na tua cabeça, pequena. Tu és tão boa quanto ele, até melhor.

-Mav, eu não te vou mentir. Eu estou com muito medo desta missão me matar. A minha mãe não pode perder mais ninguém, o... - hesito e ele espera que eu continue - O Rooster também não tem mais ninguém, sou a única família que lhe resta praticamente. E não suporto a ideia de o perder também.

-Vocês discutiram outra vez? - ele percebe pela minha hesitação

-Eu tive de lhe contar. - ele olha-me surpreendido - Eu não suportava mais lhe esconder.

-Contaste tudo?

-Não. Só lhe disse que sabia que ias impedi-lo de entrar, não sabia como.

Ele abraça-me e tenta acalmar-me, visto que estava pertíssimo de outra crise de choro.

-Fizeste bem, pequena. - ele afaga as minhas costas

-Como é que é suposto eu o proteger se ele não me pode ver à frente, outra vez?! - reclamo

-Não há necessidade disso, ele é muito talentoso, Lou. Dá-lhe tempo e confia nele.

-Mas eu...

-Ouh! - interrompe-me de leve - Não protestes. Ele é adulto, confia nele. É isso que te falta. Ele há de perceber a falta que lhe fazes.

Permaneço abraçada a ele, mas assim que ouço a porta do almirante abrir, adoto uma postura mais adequada.

-Capitão Mitchell, a Tenente Kazansky está autorizada a voar. Cabe agora ao senhor decidir quem fará parte da sua equipa de missão, está a seu critério. - está prestes a virar costas para entrar novamente no escritório quando se volta para um último aviso - Ah! E Alaska, estou lhe a dar um voto de confiança.

-Não irá se arrepender, almirante. - afirmo

-A Tenente realmente tem os olhos do seu pai. - fala baixo e disfarça um sorriso genuíno

-Obrigada, senhor. - sorrio e este fecha a porta atrás de si

-Estás onde pertences, Louise. - Maverick diz afagando-me o braço

TopGun - A Ascensão De AlaskaOnde histórias criam vida. Descubra agora