Capitulo 11 - Pânico

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"A sala de espera.
O terror de qualquer família, o pavor de qualquer médico com más notícias em mãos.
As horas não passam e cada segundo é um aperto a mais em cada coração.
É fascinante como sem trocar uma palavra ou sequer um olhar com algum desconhecido também sentado naquela sala, já sabemos muito da sua história.
A mesma dor, o mesmo desespero, nem sempre a mesma esperança ou fé.
O olhar de todos demonstrava muito e ao mesmo tempo pouco. Era confuso. Era doloroso.

As minhas pernas tremiam, o ar parecia cada vez mais escasso e as forças também iam se esvanecendo. Sentia como se a qualquer momento fosse cair no chão gélido de mármore daquela sala. O nervosismo matava-me.
A brisa do ar-condicionado fazia com que a minha pele ficasse ainda mais fria, afinal, o pânico por si só já tinha essa função.

De perto chega um médico com olhar pesado e chama pelo o nome de uma mulher, aparentemente mãe do paciente. Em fração de segundos a mulher cai de joelhos no chão, leva as mãos à cabeça e chora desalmadamente a morte do filho.
Tento não chorar com a cena, mas não consigo tirar os olhos dela, até um outro médico entrar em cena.

-Familiares do senhor, Kazansky? - eu, a minha mãe e o meu irmão levantamos-nos - Infelizmente não trago boas notícias.

Os próximos segundos que se decorreram foram dos mais dolorosos da minha vida.
Ser abalada com a notícia que o meu pai estava com uma doença sem cura foi pior do que qualquer outra coisa que eu alguma vez já tinha passado.
Lembro-me de precisar de ir para o exterior apanhar ar, como se de algo servisse. Desbloqueio a tela do telemóvel para ligar para a pessoa que mais necessito no momento, mas lembro que não a tenho mais. Lembro que deixei-a escapar por de entre os desafios da vida. Que errei com ele e nunca mais o vou ter.

Encosto a testa à parede.

-Foda-se, Bradley, onde é que estás quando eu preciso de ti...

--//--

Já sentiram como se vocês se tivessem a afogar?
O desespero de precisar de conservar o ar que mais tarde sabes que vai ser escasso.
A partir de certo momento começas a sentir que não suportas mais suster a respiração e permites que a água entre dolorosamente em ti. Entras em pânico, mas permites acontecer, porque não tens como fugir.
Todo o corpo fica fraco, sem forças para seguir acordado e travas uma gigante batalha contra a vontade de te deixar levar pela inconsciência e pelo formigueiro constante em todos os cantos do corpo.
Aceitas a dor, abraças o sofrimento e acostumas-te à ideia de que o teu corpo se afunda cada vez mais à medida que os segundos passam.

Era assim que eu me sentia no momento, a diferença é que eu estava com os pés bem assentes na terra.
Tudo começou quando Maverick pediu para que eu o acompanhasse ao gabinete do almirante, o que não era usual visto que eu não tinha cometido nenhuma infração, não que eu me lembrava. Assim que ele abriu a porta, vi a minha mãe em prantos e soube, nesse exato e preciso momento do que se tratava.

"Eu preciso de ar."

Foi a última coisa que eu disse antes de sair de rompante do escritório do almirante. Fechei a porta e deixei-me ficar de costas para esta durante algum tempo, apenas a fintar um ponto qualquer à minha frente com um turbilhão de coisas a passarem-me pela cabeça.
Eu não conseguia chorar, não conseguia sequer me mexer mais, até respirar me custava ou até mesmo manter-me em pé.
Vejo na minha visão periférica alguém apressado a correr em minha direção e reconheço a sua voz assim que me chama.

-Eu vim assim que soube... - olha para mim e não olho de volta, continuo paralisada -Louise. - ele chama-me à atenção, olho-o mas o meu olhar é vazio.

-Ele... Ele... - o meu queixo treme e eu não consigo falar.

E como se por obra divina, algo ativa qualquer tipo de gatilho em mim que me faz ter todas as reações que antes não consegui ter.
Caí nos braços dele, os quais ele colocou à volta de mim, num choro desalmado, em meio a soluços e gritos agonizantes de dor profunda.
Tinha acontecido, a ficha tinha caído.

Eu tinha perdido o meu pai.

O meu ídolo, o meu maior guerreiro, o meu companheiro de vida, o meu exemplo, o meu parceiro, o meu fã número um, a pessoa que mais me apoiava neste mundo.
O mundo acabava de o tirar de mim, como alguém arranca um doce da mão de uma criança feliz.

O chão parecia desabar em baixo de mim e eu sentia-me a cair, a afogar-me na dor que agora, como água, entrava forçosamente por mim a dentro.

-Eu lamento imenso, Liz. - suspira com a cabeça enterrada nos meus cabelos - Eu estou aqui...

Ele estava ali e isso, por si só, tornava as coisas ligeiramente mais fáceis. Gostava que ele soubesse o quão o facto de ele simplesmente ali estar já era mais que suficiente para mim. Aliás, não tinha preço. Ele estava lá justamente quando precisava. Nos melhores e piores momentos, nas lágrimas e nos risos, nas vitórias e nas derrotas. Era isso que o tornava importante.
Não deixei de notar que ele me chamara pela alcunha que me chamava em criança, algo que permitiu-me sentir mais conforto ainda naquele abraço.

-Não te vás embora, por favor, só isso. - sussurro, com dificuldade

-Não vou prometo-te. - ele continua a afagar as minhas costas na tentativa de me acalmar

Afasto-me um pouco, coloco as mãos no seu rosto e faço com que me olhe nos olhos.
O seu olhar era triste, quase de dor, penso que seja de me ver assim. As lágrimas, estas também quase lhe escorriam pelos olhos.
Ele sobrepõe as mãos às minhas e olha-me atentamente, à espera do que quero dizer.

-Não estás a entender, Bradley. Tirando a minha mãe... - fungo - Tu és tudo o que me resta.





Para todos aqueles que estão a ler isto e talvez já tenham passado pela perda de alguém especial, muita força para vocês e saibam que não estão sozinhos. São tempos duros. Orgulhem os vossos e amem enquanto podem. A vida é demasiado curta para focar no passado ao invés de aproveitar ao máximo o presente com quem temos ao nosso lado.
Amo vcs <3

TopGun - A Ascensão De AlaskaOnde histórias criam vida. Descubra agora