Capitulo 12 - Frio

612 39 1
                                    

"Acabo a minha trança e olho-me ao espelho.
Era o meu primeiro dia de aula e em alguns tempos seria uma aluna da TopGun. Em breve viraria uma dos melhores dos melhores e isso era o que mais me entusiasmava, mas também me colocava nervosa.

-Estás tão bonita, pequena. - o meu pai diz, encostado na beirada da porta a observar-me

-Pai, meu Deus! Queres me matar do coração? - coloco a mão no peito ao o ver, assustada

-Não me contive, desculpa. - sorri de orelha a orelha e vem ter comigo para me abraçar - Eu nunca estive tão orgulhoso de ti.

-Pára, não posso chorar. - sorrio com o que ele diz

Vejo a minha mãe também a chegar ao quarto para se juntar a nós.

-Anda também, mamã! - faço sinal para ela se juntar ao abraço

Ela vem e à medida que se aproxima vejo os seus olhos marejados pelo medo de eu ir e não voltar.
É uma profissão perigosa e de certa forma custava-me ver a minha mãe passar pelo sofrimento de não saber se volto para casa, depois de ter passado o mesmo com o meu pai. Mas era o meu sonho, ela sabia disso e sabia que por mais que repugnasse a ideia de me perder, tinha de me deixar ser feliz com aquilo que queria.

-Cuida-te, meu amor. E volta pra casa segura. - ela diz, beijando-me a testa

Se eu pudesse eu ficaria naquele abraço para sempre.
E nos momentos mais desesperadores eu dava por mim a recordar este sentimento."

--//--

Chego ao local do funeral, forçando as minhas pernas a andar e os meus olhos a conter o choro.
Choco alguns olhares por não estar de farda, pois recusei-me a fazê-lo no funeral do meu próprio pai. Depois de muita persistência consegui convencer o almirante a deixar-me ir de roupa comum, acredito que ele não queria insistir dada a minha condição.
Levo um vestido preto de tecido leve com um colarinho branco de pérolas, nos pés saltos de verniz negro e acrescentei no cabelo uma fita branca que prende duas das mechas da frente do meu rosto.

Nos funerais é tradicional usar roupa preta, simbolizando a escuridão, a tristeza e sofrimento. Por mais que eu estivesse a sentir tudo isso no momento e até muito pior, se havia algo que o meu pai não transmitia eram todos esses sentimentos negativos. O meu pai era um homem alegre, cheio de vida e o abraço dele era o que me transmitia paz. Daí o branco em partes da minha roupa.
Era momento de, também, exaltar o bom homem que ele era e o quão importante ele era para muitos.

Abraço o meu irmão que sussurra um pedido de desculpas no meu ouvido por não ter estado aqui no dia em que o pai faleceu. Dou um beijo na testa da minha mãe que chora desalmadamente e dói-me vê-la naquele estado.
Vou para a beira dos meus colegas que estão uniformizados e alinhados do lado do caixão.
Sinto alguns olhares carinhosos deles e retribuo com um pequeno sorriso de consolação.
A presença deles ali era tudo pra mim, tudo o que eu mais precisava era daquele suporte das pessoas que mais amo.

A cerimónia decorre de formal belíssima, com várias homenagens das forças navais tornando tudo mais especial. Não consigo conter as lágrimas no momento em que Maverick crava o símbolo da academia no caixão do meu pai, principalmente quando vejo que até ele mesmo se encontra emocionado.

No final da cerimónia, os meus colegas vêm ao meu encontro para me consolarem carinhosamente, o qual agradeço a cada um pelo gesto e pela presença.
Rooster, em específico, permanece ao meu lado depois dos outros se ausentarem para falar em privado comigo. Olha para todas as direções e depois faz-me um leve carinho no ombro.

-O Iceman estaria muito orgulhoso da mulher que tornaste, Liz. Tenho certeza.

Não deixo de sorrir com as palavras dele e permito-me dar-lhe um beijo na bochecha como sinal de agradecimento.

-Obrigada por tudo, Brad. Não sei o que faria sem ti. - ele sorri e, embora relutante, ausenta-se para não ficar para trás dos colegas

--//--

Já tinha anoitecido e a temperatura estava, consequentemente, mais baixa, deixando o clima mais gélido.
Estou no pátio da minha casa, olhando para o céu, imaginando que a partir de agora será assim a única maneira de olhar para o meu pai.
Era uma noite em que o céu se encontrava estralado, como se ele sorrisse para mim e eu sorri de volta, sentindo as lágrimas voltarem a descer.

-Boa noite, pai. - sussurro apertando o fio com os medalhões dele que seguro nas mãos

Ouço passos atrás de mim, por serem pesados presumo de quem sejam e depois de este falar confirmo a minha hipótese.

-Foi uma cerimónia muito bonita, Lou. O teu pai merecia algo assim. Uma despedida digna.

-Obrigada por estares aqui, Mav.

-Não perderia por nada. - suspira - Nunca se abandona um asa. Foi ele que me ensinou isso.

Aceno positivamente com a cabeça e limpo as lágrimas que escorrem agressivamente pelas minhas bochechas.
A minha visão fica embaçada pelo choro que tento segurar. Continuo de costas porque não quero que ninguém me veja assim, mas acabo por me permitir chorar e sentir a dor, desistindo de negar o que sinto.

-Deus... Como ele amava voar contigo, Maverick. - viro-me para ele, sorrindo enquanto limpo algumas lágrimas que descem pelo meu rosto

Ele vem até mim e envolve-me num abraço caloroso. Sinto que contém o choro por não querer mostrar "fraqueza", mas quando me abraça não consegue mais conter.
Sei o quão o meu pai era importante na vida de Maverick e imagino como tudo isto também o afeta.

-Não sei se consigo mais voar... - digo

-Lou, olha pra mim. - ele segura nos meus ombros fazendo-me olhar nos seus olhos - O que o teu pai mais amava e sentia orgulho nesta vida era te ver voar. É o que sempre te fez feliz, pequena. Sê feliz, faz o teu pai feliz.

-Caralho, como eu o quero de volta. - encosto a testa ao seu peito e ele volta a abraçar-me

-Eu sei, eu também, acredita. - sussurra

Viro a cabeça para o lado, fitando o céu mais uma vez. Passando o olhar por cada estrela, sendo uma mais brilhante que a outra. O vento fresco da noite sopra durante alguns segundos e faz-me arrepiar ao se juntar com o clima.

-Está frio, Mav... - suspiro - Está frio por dentro também.

TopGun - A Ascensão De AlaskaOnde histórias criam vida. Descubra agora