Epílogo

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"As noites de inverno na cidade costumavam ficar mais frias por volta do mês de Janeiro. Pouco depois do ano novo os treinamentos voltariam então aproveitavamos os últimos dias para saborear o máximo de diversão possível.
Afinal, éramos jovens, no ápice dos seus anos de juventude, merecíamos e precisávamos daqueles momentos.

O ambiente era todo iluminado por lâmpadas amareladas seguradas por lustres cristalizados e chiques, o restante da decoração assim também o era.
A mesa de jantar do salão de festas estava cheia com os meus colegas e superiores, mas a cadeira vazia do meu lado perturbava-me cada vez mais.
Hangman tinha dito que ia apanhar ar e até ao momento não tinha voltado.

-Com licença. - levanto-me e ausento-me do local para ir até ao exterior

Chegando ao átrio, os meus saltos ecoavam pela aérea e, eventualmente, captaram a sua atenção.
Ele olhou-me e não me disse nada.
Estranhei.

Ele estava encostado a uma coluna que aguentava parte da estrutura do recinto, na sua mão estava um cigarro recém acesso.
Ele não tinha o hábito de fumar.

-Desde quando é que fumas? Sabes que isso é proibido. - questiono

-Se eles não descobrirem não é. - responde ríspido, sempre a olhar em frente e não para mim

-O que é que se passa contigo?

-Não dá pra reparar? - questiona ainda mais rude

-Tenho cara de vidente agora, caralho? - refuto

-Caso não tenhas notado ainda eu ando completamente fudido, ou talvez não tenhas sequer notado e estás demasiado focada nas tuas coisas e problemas que não me ligas nenhum.

-Mas está parvo ou quê? - ponho-me à frente dele já que ele não me fazia questão de olhar - Em primeiro lugar, se me queres atirar alguma coisa à cara pelo o menos tem os colhões de me olhar nos olhos. Segundo, eu não sei de que caralho é que estás a falar. Só começaste agora a agir assim. Mas vais me contar o que é que se está a passar ou não?

-Não é nada que seja do teu interesse.

Assim que ele o diz, pego no cigarro das suas mãos, atiro para o chão e piso.

-O que é que estás a fazer, Louise? - quase gritar

-Mas tu achas que estás a falar para quem? - digo - Falas assim para a tua tia, para a tua prima, quem quiseres, mas comigo não. Caso não tenhas percebido, estou preocupada contigo e só te estou a pedir que me expliques o que se passa.

Ele hesita e não percebo porquê.

-A minha família está outra vez em cima de mim. Sempre a mesma merda. "Tens de ser melhor." "Porque é que não és como eles?"

-Jake, porque é que não me disseste logo? Já te ajudei tantas vezes com isso.

-Porque estou farto que tenhas de lidar com os meus dramas!

-Mas eu estou aqui para isso. Para te ajudar em todos os momentos.

-Tu não entendes. O que se passa, Louise, é que eu fiz merda ao me ter metido contigo. Da grande. - inclino a cabeça sem entender

-Estás a dizer que isto é um erro para ti...? É isso, Jake?

-Ouve... - segura-me pela cintura com as duas mãos e aproxima-me de si - Foda-se, Lu, és a pessoa mais perfeita que alguma vez já vi. Tu não és um erro, nunca foste. Mas eu errei em aproximar-me de ti.

-Eu não estou a perceber...

-Eu sou um desastre que te vai destruir aos poucos sem perceber. Lamento que eu tenha deixado que isto chegasse tão longe. Não te posso mais fazer isto.

-Isto o quê, Jake? O que é que estás a dizer? - começo a ficar preocupada com o seu discurso

Ele deposita um leve beijo nos meus lábios e volta a olhar para mim.

-Afasta-te de mim, não sou quem julgas que sou.

-Não...

-Desculpa, Lu. É o melhor para ti.

-Eu sei o que é melhor para mim! Não tu. - empurro-o levemente para que me largue

-Lu...

-Sabes que mais, Jake? Vai te fuder. - viro costas e entro de novo no recinto, limpando as lágrimas de forma rápida e fria

(...)

A música lenta na pista de dança do salão começa e vários casais juntam-se para dançarem juntos.
Eu sigo na mesa, com um copo de vinho tinto em mãos a olhar para a pista, quase com vontade de chorar só de olhar para a felicidade e amor nos seus rostos.

-Lu. - ouço o meu nome. Ignoro. - Lu. - o meu nome é chamado outra vez por alguém atrás de mim

À terceira vez, olho e vejo-o de mão esticada como quem me convida para dançar.
Apetecia-me recusar mas não tinha forças para o fazer. Cedi e aceitei, de cara fechada.

Pousei a cabeça no seu peito enquanto ele abraçava as minhas curvas bem acentuadas pelo vestido preto longo que usava e enbalava os nossos corpos ao ritmo da música.

-Eu odeio-te tanto por me fazeres isto. - digo com o retorno da voz de choro

-Eu sei...

-Odeio que mesmo que eu deteste como na maioria das vezes me fazes sentir depois que discutimos eu continue a perdoar-te sempre...

As palavras saiam como lâminas da minha boca e pareciam ferir o meu coração por admitir que realmente sentia aquilo.
Ele tinha razão.
Como é que eu não tinha conseguido perceber?
Todas as discussões, todas as vezes que ele parecia nervoso, todas as vezes que ele se levantava tenso da cama a meio da noite enquanto eu dormia. Passava-se alguma coisa. Ele estava incomodado com alguma coisa. E eu não fiz nada.

Ele fica em silêncio, mas depois decide comentar algo.

-Eu acho que tu mereces melhor que isso, Lu. Melhor que eu. Alguém que saiba te ter da maneira certa.

Ponho as minhas mãos no seu rosto e o acaricio. Os olhos dele eram tristes, de raiva, quase medo também.

-Jake...

-Eu tive demasiada sorte em te ter. Sorte que eu não mereço. Lamento que as minhas merdas entrem sempre no nosso meio. Eu tentei.

Encosto a sua testa à minha e começo a soluçar baixo em meio ao choro que persiste em aumentar.

-Eu amo-te demasiado, Lu. E eu odeio-me por isso. Porque sei que o facto de eu te amar vai sempre de alguma forma te magoar, mesmo que não percebas agora.

Deposita-me um beijo na testa.

-Espero que um dia eu ainda te possa ter de volta.

Olho para ele, nos seus olhos.

-Não sei se algum dia irás deixar de me ter.

A música continuou assim como nos continuamos amarrados um ao outros, sem querer nos largar.
Quando todos começaram a abrandar com o fim da música eu ouvi um pequeno sussurro dele.

-Espero que me possas perdoar, pequena.

É estranho pensar em como já vão 2 anos desde aquela noite.

| Continuação |

Brevemente <3


TopGun - A Ascensão De AlaskaOnde histórias criam vida. Descubra agora