[17] Já estou com a corda só falta pular

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Quando pequeno eu gostava de dormir com minha mãe

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Quando pequeno eu gostava de dormir com minha mãe.

Isso não mudou muito quando eu cresci, e até então nunca foi um problema para ela. Gostava de acordar primeiro que meus pais e correr pra cozinha preparar o café da manhã, partia o pão no meio colocava o ovo frito na frigideira com manteiga, queijo, tomate, azeitona e amor. Amava fazer tudo aquilo, amava sair pro quintal e brincar com os dinossauros que ganhei do brinde de chocolate e fazer a piscina como se fosse o grande mar prestes a afogar os personagens, talvez eu fosse uma criança psicopata, só talvez.

Gostava de me perder nos livros de Percy Jackson e me senti conectado com o protagonista por ser exatamente como ele e por me descobrir TDAH na mesma época. Sempre fui alguém reservado, apesar de não aparentar muito. Na escolinha sempre fui inteligente, mas os professores sempre falavam que eu era afastado demais das pessoas, acho que a forma que eu via e me expressava os assustava, minhas crises de raiva e como eu ficava encarando a aranha no teto imaginando mil aventuras com o aracnídeo.   

Eu tinha muitos pesadelos quando criança, e eles não passavam por nada, às vezes eu tinha vários seguidos, outras vezes paralisia do sono, os pesadelos só pararam quando eu estava dormindo com minha mãe, ela era mágicamente a resolução de todos os meus problemas. Então imagina a sensação que senti quando fiz 17 anos e percebi que faltava pouco tempo para eu terminar o ensino médio e começaria a faculdade. O choque de que eu estava deixando de ser um adolescente e estava quase sendo um adulto me assustava, e me assusta muito.

Tinha feito pouco tempo que tomei coragem de andar de ônibus sozinho, pois a primeira vez que fiz isso acabei me distraindo do ponto e fui parar a quilômetros da minha antiga casa. Nunca me senti tão burro por ser tão distraído, mas eu sabia que de certa forma eu tinha um pouco mais de dificuldade do que as outras pessoas, mas ainda assim, é difícil aceitar que eu era diferente.

Crescer era difícil, sair da escola sem estar preparado e não saber nem o que é IPTU e não fazer a mínima de como pagar as contas, ou como se cadastrar num site, como enviar currículos, como viver.

Naquele momento dormindo ao lado de Jungkook, todos esses pensamentos pairavam em minha cabeça. Eu olhava para o teto e via os desenhos que meu cérebro formava com as manchas na parede e criava histórias.

ㅡ Você tá fazendo aquilo de novo. ㅡ sua voz soa rouca, me viro para encará-lo.

ㅡ Aquilo?

ㅡ Olhando pro teto sorrindo, o que está vendo?

Volto a sorrir e fixo meus olhos no teto.

ㅡ Tá vendo aquela mancha ali? ㅡ aponto ㅡ ela me lembra um tigre e do lado um lobo, parece que os dois estão lutando, não parece?

Jungkook vira os olhos para cima.

ㅡ Está vendo? ㅡ pergunto.

ㅡ Aquela mancha ali é as patas?

BinamonsterOnde histórias criam vida. Descubra agora