O Papél da Família

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Emilly que inicialmente desfazia a bagagem, ao som do álbum de 65' da Nina Simone, após ver-se desocupada daquilo, acabou por viajar tão levemente em seus pensamentos agora a obterem uma carga negativa menor da que estava carregando ultimamente, acabou pegando no sono lançando o seu corpo na cama, com a única e simples intenção de relaxar, despertando pouco tempo depois daquele cochilo rápido que para ela, resumiu-se em um abrir e fechar de olhos.

Ao despertar, a agulha da vitrola já não reproduzia nenhuma faixa, exceto o som chiado de suas engrenagens. Emilly se levantou, removeu o disco de vinil daquele projétil sonoro e ao guardá-lo em sua capa e em seguida naquela caixa velha até então esquecida no compartimento elevado de seu guarda roupa, não pôde evitar recordar de algumas vagas e até então ocultas memórias que apareciam em seu subconsciente, numa velocidade consideravelmente vagarosa, conforme os detalhes complementavam á sua existência.

Além dos álbuns de discos de vinil, em seu compartimento quadriculado haviam alguns objetos como uma Pashmina de cetim vermelho com delicadas franjinhas pinçadas em sua barra, um frasco de perfume arredondo e de textura diamantada, um delicado porta jóias de pequeno porte com um colar de pérolas brancas como uma das jóias que obtinham em seu interior, um álbum de registros fotográficos e um em específico, estava emoldurado em um porta retrato onde duas garotinhas separadas por poucos anos de idade, estavam de mãos dadas na varanda de uma casa com um balanço de dois lugares atrás das mesmas.

Emilly escuta o abrir da porta de entrada, logo após o soar do chacoalhar de um molho abastado de chaves. Era Lucy, que chegava do supermercado com duas sacas de papel pardo cheias em mãos, às depositando sob o balcão da cozinha:

- Tia... - Emilly avista Lucy que começava a desempacotar suas compras

- Emilly! - Exclama gentilmente - Não sabia que tinha chegado, faz muito tempo?

- Faz um tempinho sim... Provavelmente eu cheguei não muito tempo depois da senhora ter saído.

- Fui comprar o que faltava para a nossa ceia de natal... O mercado estava uma loucura se quer saber. - Ela guardava alguns enlatados no armário superior da dispensa

- Eu ajudo a senhora... - Emilly se dispõe

- Você não imagina como estava aquele lugar... Quase tive que sair aos tapas com uma velhinha pra conseguir a última lata de Molho Cranberry para o Tender... - Dizia aos risos

- Tia... - Emilly pontua após abrir um breve sorriso com a outrora declaração de Lucy - A senhora... - Ela exita por alguns segundos antes de prosseguir com a sua pergunta - Ainda pensa na minha mãe? Quer dizer... Como a senhora lembra dela quando... Pensa nela? - Conclui

Lucy fica alguns instantes em silêncio, enquanto repousa pensativa os seus olhos sob a sobrinha.

- Bom eu... - A Tia de Emilly indaga sua fala, com um sorriso encabulado ao rosto - É meio que inevitável não lembrar dela em algum momento, éramos irmãs, passamos boa parte da nossa vida juntas e a sua mãe era... - Suspira - Uma... Boa mulher. Digo, gentil e afetuosa.

- Isso é tudo o que senhora diria lembrar dela?

- Eu não sei... - Suspira novamente - Eu acho que essa pergunta ainda não havia sido me feita desde que ela... Bem, ela se foi.

- Bom... Talvez a senhora tenha algo a mais á dizer quando ver isso aqui... - Essa mostra aquele porta retrato agora em mãos.

- Onde você encontrou isso? - Lucy pergunta ao ter recebido-o

- Eu só lembrava que aquela caixa no compartimento acima do meu guarda-roupas, obtinha os discos de vinil da mamãe até ver isso... - Se põe ao lado de Lucy que atentamente olha o registro daquela foto, enquanto acaricia a sua película de vidro com a mão um tanto trêmula

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