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- Você nem sabe o que tem dentro.
Sorri, com a arma erguida, atrás do Aaron e indiquei a porta.
- Vamos descobrir.
Ele suspirou e abriu a porta, me deixando entrar na frente, pronta a atirar no que quer que se aproximasse de nós.
Avançámos pelos corredores do que parecia ser um antigo armazém e olhei Aaron, fazendo sinal para que ele fosse pelo outro lado.
Avancei, sozinha, e atenta a cada esquina, mas não achei nada. Nem vivo, nem morto.
Tranquei a arma e coloquei no coldre, olhando as prateleiras e vasculhando, em busca de algo que pudesse ser útil.
Do nada, escutei Aaron gritando e corri na direção do som, tirando a arma do coldre e destravando.
- Não, você não! - Falei.
Parei assim que cheguei na porta aberta do cómodo onde Aaron estava, e abaixei a arma.
Aaron estava de pé, meio curvado, sujo de sangue, e no chão estava um javali... morto.
Franzi o cenho.
- Ele me atacou. - Disse Aaron.
Olhei ele e, do nada, comecei a rir. Ri bastante, deixando Aaron com um olhar confuso.
- Ele poderia ter me matado.
Continuei rindo e ergui a mão. Segurei minha barriga, sem conseguir parar.
- Neela!
Tapei a boca e tentei parar de rir, conseguindo por breves instantes.
- Tá, desculpa. - Falei. - Ah.... Mas foi um belo de um grito. - E não consegui, comecei a rir novamente.
Aaron sorriu de canto, assentindo e olhando o porco.
- Me assustou bastante, esse daí.
Decidimos assar o porco e eu achei uma garrafa de whisky. Não gostava daquilo, mas já que não havia mais nada...
Coloquei em cima da mesa e Aaron trouxe a carne, sentando na minha frente.
Olhei o prato e depois percebi ele me olhando.
- Poderiamos ter levado o porco. - Falou.
Neguei. - Não iria durar até lá.
- Você está bem?
Olhei ele e dei de ombros. - Daryl me prometeu que iria manter o Negan vivo, mas... Maggie daria tudo para matá-lo.
Aaron assentiu. - Ela é gente boa, mas ela conheceu o antigo Negan. E se quiser saber, nem eu confio nele.
Sorri e depois percebi seu olhar no meu braço queimado.
- E isso é culpa dele. - Aaron disse.
- Eu sei. - Baixei o olhar. - Ele já se culpa todo o dia, de cada vez que olha para mim, não precisa de incentivo.
Coloquei a bebida nos copos e depois entreguei um para Aaron.
- Toma. Em breve estaremos de volta a casa.
Ele me sorriu e depois olhou o copo.
- Só isso?
Comemos e bebemos, a garrafa depressa ficou vazia.
Rindo que nem doidos, acabámos deitando num canto, falando sobre tudo e nada.
Minha cabeça girava e, quando eu fechava os olhos, só piorava.
- Se a gente for atacado... - Disse Aaron.
Sorri. - Estamos fodidos.
Rimos novamente e depois respirei fundo.
- Gosto de você, e não se preocupe, vou levar você inteiro de volta para a Gracie.
Ele sorriu. - Você é uma boa pessoa, Neela. Temos sorte de ter você.
- Pfff.

Acordei, sentando, depois de um sonho idiota. Minha cabeça doía como o inferno.
Olhei para o lado, mas estava sozinha. Franzi o cenho.
- Aaron? - Levantei. - Aaron!
Nada. Ele não respondeu.
Peguei a arma e destravei, segurando e andando pelos corredores.
- Aaron!
Parei. Tinha algo de errado.
Girei e ergui a arma. Junto da parede do armazém, nas sombras, estava um homem, usando umas roupas estranhas e segurando uma arma.
- Abaixa a arma, garota.
Continuei ali, de arma erguida.
Ele se aproximou e pude ver seus olhos claros.
- Vocês vêm na minha casa, comem minha comida, bebem minha bebida e ainda apontam armas para mim?
Franzi o cenho. Aaron.
- Onde está o Aaron? - Perguntei.
Ele sorriu. - Oh, seu amiguinho está bem.
O homem bateu na minha cabeça e caí no chão, desacordada.

Quando acordei, estava sentada na cadeira, na frente da mesa, e aquele homem estava sentado na minha frente.
- Oi, bonitinha.
- Onde está o meu amigo?
O homem sorriu. - A essa hora?
Senti um aperto no peito. Ele não tinha matado o Aaron, tinha?
- Você... - Mordi a língua. - Ele morreu?
O homem deu de ombros. - Não sei. Quem são vocês? Quantos são?
Ergui as mãos. - Está vendo mais alguém?
Ele estreitou os olhos e depois indicou meu braço. - Isso é feio pra caralho.
Assenti. - Que nem seu rosto.
Ele mirou a arma em mim. - Sabe que eu posso matar você? Muito facilmente.
Assenti. - Força.
- Você não tem medo. O que você fazia antes?
Ergui o queixo. - Swat.
Ele abriu muito os olhos. - Sério? Nossa, muito bem, hein?
Ele levantou e se colocou um pouco afastado.
- Olha só, me diz onde está o Aaron e nós iremos embora. Ninguém precisa se machucar.
Ele se aproximou de mim. - Acha mesmo que isso é possível?
- Acho. Escuta, nós temos uma familia, deixa a gente ir embora.
Ele ficou me olhando.
Eu odiava pedir alguma coisa, mas tinha de tentar. E tinha de saber onde estava o Aaron.
- Sério? - Disse ele. - E porque diabos a familia é importante? Só nos torna fracos. Seu amigo, é familia?
Assenti.
Do nada, o homem ergueu a arma e começou a atirar contra uma fina parede de um cómodo ao lado.
Fechei os olhos por causa do barulho.
Ele parou e me sorriu.
- Acha que seu amigo sobreviveu?
Franzi o cenho. - O quê?
Ele indicou a parede. - Ele estava ali dentro.
Meu coração começou a bater demasiado rápido. E se ele tivesse....
Levantei e ataquei o homem, mas ele me segurou, me socou e sentou de novo na cadeira.
- Fica aí, diaba! Vamos descobrir e se me atacar de novo, coloco uma bala na  sua cabeça e na do seu amigo.
Respirei fundo, vendo ele abrir a porta.
- Ahah! - Disse ele. - Temos sobrevivente.
O homem arrastou Aaron pelo chão. Meu amigo estava sem o braço de metal e sangrando.
Olhei ele, na minha frente, enquanto o homem amarrava ele e Aaron negou com a cabeça.
Aquilo só fez minha raiva crescer.
O homem ficou de pé, do nosso lado e tirou uma arma do bolso, tirando todas as balas menos uma, que colocou de novo na arma e fechou ela.
- Familia... Vocês acham mesmo que isso serve para alguma coisa nesse mundo? Para sobreviver, todos nós matamos nossos entes queridos se for preciso.
Olhei ele. - Não, isso não é verdade. A gente protege eles.
O homem riu. - Você daria sua vida por eles?
- Sempre.
Ele riu e colocou a arma na mesa, na minha frente.
- Ótimo! Então pega essa arma, só tem uma bala, por isso nunca sabe quando irá atirar. Tem duas hipóteses: ou mira sua cabeça e atira, sem saber se vai morrer, ou mira a cabeça do seu amigo. Depois, será a vez dele fazer o mesmo. Quem sobreviver, vai embora.
Olhei Aaron e vi, no seu olhar, que ele achava o mesmo que eu. Aquele homem era doente.

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