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Meu olhar estava fixo no chão, minha cabeça com mil e um pensamentos. Siddiq estava errado. Ele tinha de estar.

A porta abriu e Daryl entrou, segurando algo na mão. Percorreu a enfermaria e sentou na cadeira do lado da minha, esticando a mão e me mostrando uma barra de cereal.

- Como você pediu. - Falou.

Sorri e peguei, abrindo e mordendo um pedaço.

- Vai me falar o que está acontecendo? Porque o Siddiq está lá fora, esperando o Negan, com cara de quem está escondendo alguma coisa?

Parei de mastigar e olhei ele, dando de ombros. - E eu sei?

- Neela, conheço você o suficiente para saber que está mentindo.

Suspirei, comendo o restante da minha barra e olhei ele de novo.

- É, tá. Eu sei o que está acontecendo.

Daryl ergueu as mãos. - Vai partilhar?

Fechei os olhos. - Eu... É... - Abri e encarei ele. Eu era uma sobrevivente de um apocalipse, estava com medo de quê? Respirei fundo. - Estou grávida.

Daryl ficou me olhando, apenas ali, olhando, parado. Tão quieto, que temi que sua alma estivesse fora do seu corpo.

- Daryl?

Ele piscou os olhos. - O quê? Você está grávida? Do Negan...

- É né? Estou com ele, então... De quem mais? - Revirei os olhos.

Daryl ergueu a mão. - Você está grávida do homem que matou sua irmã? Do cara que parecia o diabo, que roubou nossas coisas, que matou pessoas, que torturava seus homens? Esse cara é o pai do seu filho? - Ele passou a mão pelo rosto. - Deus do céu.

- Olha eu não escolhi engravidar, tá? E com certeza não escolhi me apaixonar pelo Negan.

Daryl me olhou de canto, abaixando a mão e encarando. - Tem formas de não engravidar.

Eu ri. - É, e você é um belo exemplo disso, né Daryl?

Ele abaixou a cabeça e assentiu. - Tá. - Me olhou. - Só... É o Negan. Tudo bem, eu aceitei que você gosta dele, meio estranho, mas tudo bem. Mas.... um filho? Dele?

Fechei os olhos. - Eu entendo, sério, e... Eu nem sei se consigo fazer isso. Eu nem sei se consigo falar para ele, se quero realmente falar para ele.

- Espera! Você não vai esconder e tirar, Siddiq não iria ajudar você.

- Siddiq fará o que eu quiser, a paciente sou eu.

Daryl segurou na minha mão.

- Neela, é um criança. O filho do diabo, mas uma criança ainda assim.

Eu ri. - Credo, Daryl.

Ele sorriu e depois deu de ombros. - Você entendeu. Olha, tem o Tyler, a Connie, todo mundo aqui, você não está sozinha. E tem o Negan. Duvido ele dar as costas para isso. E... - Ele olhou para nossas mãos e depois para mim. - E tem a mim.

Sorri. - Eu te devo o mundo, Daryl Dixon.

- Deixa pra lá, não quero o mundo. Mas... É uma criança.

- É o fim do mundo. Sou eu, Daryl, eu. Eu não fui feita para isso.

Daryl encostou na cadeira e cruzou os braços sobre o peito.

- Não? Lembra da prisão? Quem ajudou a cuidar da Jude? Quem sempre protegeu ela e o Carl? Quem brinca com as crianças, sendo que parece uma delas também? Quem conquistou a confiança do Tyler, mesmo antes de eu conseguir fazê-lo? Quem protege a Lydia? Escuta. Eu não estava pronto para o Tyler, não estava pronto para o papel de pai. Mas você? Você é mãe por instinto. Você nasceu pronta.

Mordi meu lábio, ele tinha razão. Eu cuidara dos meninos. Eu amava o Tyler, a Lydia, a Judith... Todos eles.

Suspirei. - Então...

Ele deu de ombros. - A decisão é sua. É assustador, um filho do Negan, mas se for para ser...

Passei a mão pelo cabelo. - Isso não está acontecendo.

Daryl riu. - Agora fala sério. Imagina uma criança, criando outra criança?

Eu ri e joguei um travesseiro na sua cabeça, mas ele pegou ele e jogou de volta, fazendo um movimento com a cabeça para afastar os fios dr cabelo da frente do seu rosto.

- Idiota. - Falei.

Ele riu.

A porta abriu novamente e Negan entrou, olhando Daryl e depois para mim.

Daryl levantou e indicou a porta. - Eu tenho de ir. Se cuida. - Passou por Negan e olhou ele. - Pega leve, viu, seu idiota?

Negan franziu o cenho. - O quê? - Daryl saiu e ele me olhou. - O que deu nele?

Passei a mão pela testa, enquanto ele sentava do meu lado, e olhei ele.

- Siddiq falou com você?

Ele deu de ombros. - Só falou que você precisava contar uma coisa, mas que ele descobrira o que você tinha.

Assenti. Era agora ou nunca, o momento da verdade.

- Tou grávida.

O choque no rosto dele foi imenso. Negan ficou parado, me olhando, de olhos muito abertos. Depois, seu olhar baixou durante uns minutos, e quando ele ergueu, franziu o cenho.

- É sério? Tem... Tem certeza?

Assenti e indiquei o aparelho do ultrassom.

- Siddiq confirmou.

- Nossa. - Negan escondeu o rosto nas mãos e depois deixou elas cair no colo. - Um filho? Com você?

Revirei os olhos. - Parece o Daryl.

De repente, ele sorriu. Aquele sorriso enorme que eu não via á meses. Aquele genuinamente feliz, que ele me dera quando estávamos sozinhos na cidade.

- Negan?

Do nada, ele se inclinou para mim, segurou o meu rosto e me beijou com vontade, se afastando depois.

- Você está carregando um filho meu. Sabe como isso é fantástico?

- Espera. Você está feliz?

- O quê?! Claro! Não era para estar?

- Pensei que fosse surtar. Eu surtei.

Ele beijou a minha testa. - Porque você é boba. Isso é incrível! Imagina! Imagina uma criança! Nossa criança!

Sorri e ele segurou a minha mão, depois colocou a outra sobre a minha barriga, devagar.

- Isso é a melhor coisa do mundo.

Fiquei olhando ele.

Eu me apaixonei pelo Negan, o homem que jurei matar. Aquele que matou minha irmã. E eu protegera ele. Eu ia ter um filho dele... E eu não sabia viver sem ele.

Minha vida mudara imenso nos últimos anos e eu quebrara promessas que fiz a mim própria.

Sorri.

Eu ia enfrentar mais essa batalha, e eu ia vencer.

Eu era uma sobrevivente, em todo o sentido da palavra. Eu era uma Dragomir.

FIM

N.A: A FIC TERÁ UMA SEGUNDA PARTE, CHAMADA "HEART BY HEART: COMMONWEALTH", QUE ESTOU ESCREVENDO. EM BREVE TEREMOS NOVIDADES SOBRE A NEELA E NEGAN.

Heart By HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora