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- Quem vai primeiro? Anda logo, diaba!

Respirei fundo e olhei Aaron, mordendo minha lingua. Ele não podia morrer, tinha de regressar pela Gracie.

Estiquei a mão trémula e peguei a arma.

- Não! - Disse Aaron.

O homem mirou a arma na cabeça dele. - Cala a boca!

- Não atira! - Pedi. - Eu faço.

Ele me olhou e sorriu, movendo a mão para que eu continuasse.

Encostei a arma na minha cabeça, destravei ela e olhei Aaron, sorrindo, sem mostrar os dentes.

Ele deixou cair uma lágrima.

- Cara, a gente tem familia. Deixa a gente ir embora. - Disse Aaron.

- Eu vou atirar em você se não calar sua boca.

- Eu estou bem, Aaron. - Falei, olhei ele e atirei.

Fechei os olhos no mesmo momento que atirei, mas nada aconteceu e então abri de novo. Eu estava viva.

Coloquei a arma na mesa e respirei fundo.

Aaron pegou a arma e encostou na cabeça e me olhou. - Se eu morrer, cuida da Gracie.

- Você não vai morrer.

- Ai que conversa aborrecida, vocês dois! Andem logo com isso! - Disse o homem.

Aaron atirou e nada aconteceu, passando a arma de novo para mim.

Peguei ela, pronta para o que acontecesse e atirei. Nada.

Mas quando Aaron pegou, a arma fez um som diferente. Eu percebi isso, e tenho certeza de que ele também percebeu, pela forma como ele me olhou. O homem também escutou e riu.

- Faz um som diferente quando carrega. - Disse ele.

Olhei o homem, sentindo meus olhos enchendo de água e meu queixo tremer, enquanto eu segurava o choro.

- Deixa a gente ir embora. - Falei, minha voz saindo fraca e com falhas.

- Agora que está ficando divertido? Já falei que ninguém sai daqui, enquanto estiverem os dois vivos! E esse negócio de familia, de que serve isso? Só para nos fazer parecer fracos.

Olhei ele. - Você está enganado. Familia te torna forte, porque tem alguém que te apoia, que te puxa para a frente quando você quer desistir. Familia nunca te deixa sozinho, nunca. E, se precisar, te busca no quinto dos infernos! Essa é a nossa familia. E eles vão procurar a gente. Nós somos bastantes, e você é só um.

Ele me olhou. - Eu tinha familia, sabe? Meu irmão e sua familia, e sabe o que isso fez dele? Um fraco!

- O que aconteceu? - Perguntou Aaron.

O homem olhou ele. - Morreram! Morreram porque o meu irmão pensava da mesma forma que vocês dois! - Ele ergueu a arma e mirou Aaron. - Pega essa arma e escolhe! - Gritou. - Você ou ela!

Olhei Aaron, assentindo. Eu não me importava de morrer, se isso significasse que ele voltaria para a sua filha, para a sua familia. Além disso, se eu morresse, poderia rever a minha, né? Meus pais e minha irmã. Sorri para ele.

- Anda, não sou tão importante assim. - Falei.

Aaron ergueu a arma, enquanto o homem gritava com ele, obrigando ele a escolher entre mim e ele.

Eu permaneci ali, o olhando.

Aaron colocou a arma na cabeça e atirou, gritando e... Nada aconteceu.

Fechei os olhos, sentindo um alivio gigante por ele estar vivo, e Aaron lançou a arma na mesa.

- Chega!

O homem se aproximou dele, largando a arma e abaixando.

- Entendeu agora? - Perguntou

Aaron me olhou e depois para o homem, que começava a desamarrar ele.

Mas o homem, que eu nem prestei atenção no nome porque não queria nenhuma recordação dele, estava de costas para mim. Ele cometera um erro e nem percebeu. Ele não me amarrou.

Aproveitando a distração dele, levantei, um pouco curvada e avancei, pegando o braço de metal do Aaron que estava no chão. Ergui ele bati na cabeça do homem, com toda a força, fazendo ele cair morto no chão.

Aaron se assustou e depois me olhou, de olhos muito abertos.

Sorri, balançando a cabeça para tirar uns fios de cabelo do rosto.

- Ele me tirou minha paciência. - Falei.

Aaron me sorriu e ajudei ele a terminar de se desamarrar. Ele colocou o braço de novo e pegámos nossas armas, nos afastando, e foi quando escutámos um som vindo de trás de uns armários e prateleiras.

Aaron me olhou e eu assenti, erguendo a arma e seguindo atrás dele, até o som.

No fundo do armazém, estava um homem com uma barba e um cabelo enormes, preso pelo pulso. Na sua frente, no chão, estavam dois cadáveres, um de uma mulher e outro de uma menina.

- É o irmão dele. - Disse Aaron.

- Ele me obrigou a atirar neles. - Disse o homem.

Aaron me olhou e eu guardei a arma, me aproximando do homem e abaixando, tentando soltar ele, e foi quando ele pegou uma arma e mirou em mim.

Parei e Aaron mirou ele. - Larga a arma!

- Pára com isso, cara. - Falei - Vem com a gente, temos uma comunidade, são boas pessoas.

O homem nos olhou e depois atirou na sua própria cabeça.

Suspirei e olhei para baixo, pegando a arma e levantando. Toquei no peito do Aaron.

- Vamos embora.

Saímos do armazém e nos afastámos dali, até que, ao fundo, se erguia uma caixa de água. A última localização do mapa da Maggie.

Parei de andar e olhei Aron. Agora até eu queria regressar a casa.

Ele me sorriu. - Só mais uma?

Sorri de volta, peguei a faca e assenti.

Avancei com Aaron do meu lado, os dois plenamente conscientes de que quase perdêramos nossas vidas, de que estaríamos dispostos a sacrificar nossa vida pelo outro. E isso era ser uma familia. Podia não ser de sangue, mas era a minha famila.

Heart By HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora