O Julgamento

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Elanor vagava numa memória escura, estava sozinha e com medo, pois, só o que se lembrava era de uma força inumana tomar seu corpo e sua mente, não sabia se haveria vida após aquilo, se ela sobrevivera à batalha, se seus entes queridos estavam vivos ou se ainda havia vida na Terra-média. Ela ouvia uma voz, suave reconfortante que se iniciou como um sussurro e, depois foi ecoando naquele ambiente escuro; à medida que crescia, Elanor se sentia mais confiante em segui-la na escuridão. Tornou-se em um timbre do qual ela reconhecia, era grave, porém acolhedor, era Legolas.

- Elanor... - disse ele segurando o rosto dela, e vendo que ela começava a franzir as sobrancelhas e apertar os olhos, uma pontada de esperança surgiu em seu coração. Ela sorriu e disse novamente: - Elanor, está me ouvindo?

- Tragam água... - disse Elbereth, pedindo aos soldados e voltando à irmã, ajoelhou-se na terra ao lado de Legolas, que segurava a garota em seus braços e disse: - Ela está viva?

- Parece que sim. - disse Legolas sentindo a respiração dela acelerar. - Só está confusa...

Um dos soldados élficos trouxeram-lhe um cantil com água e pegando Legolas, derramou algumas gotas sobre os lábios ressecados de Elanor e então, a princesa abriu os olhos. Inicialmente um brilho a cegou por alguns segundos e depois estreitando a visão, concentrou-se no céu cinzento, os raios de Sol brilhavam forte sobre eles e havia um cheiro de enxofre, queimada e sangue; seus olhos desviaram-se para o lado encontrando o rosto preocupado de Elbereth, com seus intensos olhos azuis analisando cada detalhe do rosto da irmã e ela dizia algo que Elanor não conseguia decifrar, sua audição estava em desordem, ela escutava tudo em muito baixo tom, quase indistinguível. Foi quando ela olhou para mais à direita, os cabelos em loiro branco e as sobrancelhas finas escuras abrigavam um olhar preocupado, seus olhos azuis encaravam os dela e o toque de seus dedos sobre as bochechas dela a fizeram começar a retornar à realidade.

- Elanor... Elanor?! Consegue me ouvir? Sou eu, Legolas... - disse ele.

Ela piscou forte e abriu a boca em sinal de dor e esticando as pernas, levou a mão na lombar, aquilo queimava muito. Legolas rapidamente a posicionou mais sentada e ainda a segurando, segurou seu rosto.

- Está doendo?

- Muito. - disse ela respirando fundo e olhando para frente, viu que havia o exército ao seu redor, assim como seus pais e Thranduil, a encarando preocupados. - Por que ainda estamos no campo de batalha?

Legolas não respondeu, ele a encarou e depois lançou o olhar em Elbereth e voltou-se para Elanor.

- Alguém vai me responder ou eu vou ter que descobrir sozinha? - disse Elanor irritada, bebendo o último gole do cantil.

- Ainda não acabou, Elanor. - disse Thranduil, seriamente.

- Ele ainda está vivo? - disse Elanor, olhando para o Rei élfico, que apenas concordou. Uma raiva cresceu dentro dela e bufando, ela se apoiou no chão e dobrando os joelhos, gritou de dor mesmo com a ajuda de Legolas.

- Você não pode andar nessas condições, Ellie. - disse Legolas, notando que ela tinha múltiplas dores ao andar, a princesa sentia sua lombar queimar, seus joelhos rasparem quando ela os dobrava e sua cabeça pesava, assim como todo o seu corpo.

- Eu posso e vou, Legolas. - disse ela andando em frente, ignorando a ajuda que Legolas fazia questão em oferecer. Ela mancava e colocando a mão sobre o abdômen, ainda sentia que havia vida em si. A cada passo que ela dava, os soldados lhe davam passagem, uns olhavam com temor e outros com dúvidas de que ela conseguiria mesmo andar.

Por final, quando a borda do exército finalizou ela viu uma cena da qual jamais se esquecera, uma das grandes águias olhava para o Eldarion, ajoelhado diante de uma pedra, como se ela estivesse prestes a arrancar sua cabeça. O príncipe estava com o rosto molhado em lágrimas e sobre seu peito, mãos e testa corriam gotas de sangue. Ela parou e o encarou, o mesmo a olhara e depois abaixou a cabeça. A espada que ele enfeitiçara estava no chão em pedaços e a espada que ela usara estava enfincada no solo, ainda brilhando o letreiro em língua élfica. A garota andou lentamente e sentindo dores, sua face mostrava isso e a Grande Águia parou de ficar inquieta em tentar arrancar a cabeça de Eldarion, ela chegou bem próximo a espada e respirando fundo, pousou a mão sobre o punho da espada e esperou, enquanto a outra estava sobre o abdômen o tempo todo.

- Elanor... - disse a voz trêmula de Eldarion. A garota o olhou e ele continuou: - Me perdoe..

Seus olhos se encheram de lágrimas e sua boca tremia com a angústia que ele sentia.

- E-eu, eu não queria isso. Eu sinto um vazio grande aqui dentro, as sombras me consumiram e eu machuquei a quem eu queria proteger. - disse ele, enquanto ela vagorosamente caminhava até ele segurando a espada. - Por favor, me leve a julgamento, eu pagarei pelos meus pecados.

Ela parou à frente dele e olhou para ele, seu olhar não estava negro e seu semblante mostrava que voltara a ser o irmão que ela conhecia. Ela derramou uma lágrima e disse:

- Você tirou tudo de nós, irmão. - disse ela, então ele negou com a cabeça e derramou lágrimas. - Você me machucou da pior maneira.

- E-eu... - disse ele estendendo a mão lentamente para alcançar os joelhos dela. E antes que ele a tocasse, o semblante de Elanor se tornou em fúria e ela gritou ao elevar a espada e cortar-lhe a cabeça.

Arwen deu um passo à frente e gritou em meio a lágrimas quando viu a cabeça de Eldarion cair para o lado e seu corpo tombar para o outro, enquanto Elanor segurava a espada manchada do sangue vermelho de seu primogênito, Aragorn agarrou a esposa e a abraçou, enquanto também derramava lágrimas em silêncio. Thranduil abaixou a cabeça e Legolas ainda encarava a princesa que olhava para frente, com o castelo de Gondor à sua frente, em chamas. O céu que era cinzento se tornou branco, e as nuvens vagorosamente davam lugar ao céu azul e os raios solares.

- Eu lhe sentencio à morte pelos seus crimes à Terra-média, aos Valar e à todas as raças das quais você derramou o sangue...

Meu Querido Legolas: Uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora