Avesso

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Havia tanto em mim, havia tanto nele. Kakashi não passou apenas horas, mas dias cuidando para que cada pedaço de mim fosse juntado pouco a pouco. Minha alma estava tão devastada que eu não notei, não notei que sentir todas aquelas emoções nas mãos de outros me causaria tanta ruina.

Precisei de tanto tempo sem que sequer Kakashi pensassem em tocar em mim, tocar onde Obito havia tocado. Sem que ele preenchesse o que havia sido tirado pouco a pouco dentro daquela casa.

Obito tinha tomado o controle que Kakashi havia me dado sobre mim mesma, sobre meu corpo e minha alma. Sobre cada aspecto da minha própria vida. Não foi algo apenas sexual, foi algo muito além disso, algo que eu não tinha certeza nenhuma de que poderia voltar a ser o que era.

Eu estava sem controle, sem o poder sobre mim mesma.

Quando Kakashi me tocou pela primeira vez me deu o poder de escolha, o poder sobre ele e sobre mim, sobre o que ele podia ou não fazer comigo. Mesmo que eu sentisse que ele dominava cada aspecto da minha alma, foi fácil entender o que Kakashi tinha feito por mim enquanto me dominava na cama, nas festas que me levou e em cada uma das coisas que me permitiu experimentar.

Havia ganhado minha liberdade nas mãos daquele homem de lindos cabelos acinzentados.

No entanto, Obito me mostrou o quanto eu precisava conhecer ainda sobre mim mesma. Ele me mostrou que eu era tão fraca e levada a qualquer prazer imposto, mostrou a mim mesma que eu estava pronta a qualquer tipo de sensação imposta pela própria sedução. Eu ainda precisava aprender a controlar meus sentidos antes de confiar meu corpo a Kakashi de novo, não o porquê eu não confiava nele, mas sim porque eu queria ter a plena certeza de que eu estava me entregando para ele porque o desejo era mútuo apenas com ele e não porque meu corpo traidor fora envolvido pela chance de experimentar um prazer desconhecido.

Então eu passei dias como agora, sentada próxima a janela do meu próprio quarto. Kakashi queria ter a certeza de que eu tinha minha liberdade e meu controle de volta e mesmo que eu não tivesse dito nada a respeito sobre essa minha falta de poder, ele parecia saber.

Mas não fiquei sozinha, o que me ajudou a sanar a solidão que me dominava de noite, os arrepios e calafrios que eu sentia quando as luzes eram apagadas, Kakashi me segurou, mesmo não podendo fazer mais do que isso, me permitiu sentir seu calor até que o sono me consumisse.

Um outro terror que eu tinha era tomar banho, mesmo sendo na minha própria casa era terrível. Mas lá estava ele novamente, como tinha acabado de fazer. Juntou para mim a minha própria coragem e me ajudou a enfrentar partes de mim que eram dele, partes que Obito havia tentado tomar a força e Kakashi cuidou para que aos poucos eu pelo menos ficasse confortável.

— Irão trazer o jantar em poucos minutos. — ele tentava mais do que realmente deveria, mas como eu podia culpá-lo? Kakashi realmente sentia culpa pelo que tinha acontecido, mesmo que nada fosse realmente culpa dele.

— Obrigada. — era sempre o máximo que eu conseguia dizer.

O ouvi suspirar, meu corpo sequer se moveu quando sentiu sua presença quando ele finalmente se sentou ao meu lado na janela. Eu não tinha medo dele e isso me ajudava a superar o trauma de deixar que tocassem em mim, pelo menos era o que parecia.

— Preciso de muito mais que um "obrigada" Ume, eu já não sei mais o que posso fazer... eu...

— Está fazendo tudo o que pode e mais do que deveria, não te vejo como um culpado.

— Mas ainda não é o suficiente...

— É muito mais que isso.

Ele suspirou outra vez e eu deixei de admirar uma fofa nuvem passageira. Kakashi estava sem seus ternos, com os cabelos bagunçados sobre o rosto e sua grandeza estava escondida em algum lugar que eu não conseguia ver, pelo menos não nesse momento.

— Sentir sua falta está me consumindo, não é algo que eu consiga controlar e não se trata de sexo. Tudo ficou ainda pior quando finalmente teve forças pra me contar de seus sentimentos, pequena. E não poder estar perto como eu quero...

Era claro que eu o queria perto, tão perto que nos tornássemos apenas um, mas eu tinha muita ferida para curar e me fortalecer novamente para estar inteira para ele — pelo menos de um jeito que ele merecesse.

— Eu te quero perto, não consegue ver? — eu tinha a plena certeza de que nunca falei tanto com ele em tantos dias que passamos juntos.

— Ume... — ele suspirou lentamente.

— Mas existe algo em mim que me barra, todas as vezes que penso que estou bem... — não era mentira, houve algumas situações em que Kakashi me excitou mesmo que sem querer e quando pensei em deixar que tudo avançasse para nos conectarmos dessa maneira de novo, imagens e sensações que Obito me fez passar voltavam a minha mente com força.

— Não estou falando de sexo Ume.

— Eu também não.

Mas mesmo assim eu sabia que ele sentia tanta falta como eu, de coisas simples como o calor do hálito quente dele na pele fina do meu pescoço. Só que... existia algo ainda despedaçado.

Kakashi tinha um dom, algo que mesmo em meio a tantos sentimentos ruins me fazia desejá-lo enlouquecidamente. Precisar dele como se não existisse nada além dele. E foi uma tortura, ele sorriu por alguma vitória oculta que não consegui decifrar e se aproximou um pouco mais.

Eu tremi. Meu corpo reclamou de saudade assim que os dedos dele tocaram a ponta dos meus joelhos. Kakashi suspirou tendo mais uma certeza de que meu corpo ainda era completamente dele e eu deixei que cada sensação pura de desejo por ele transparecesse, mesmo que logo a culpa me dominasse, mesmo que logo o desejo se escondesse com as imagens de Obito na minha mente.

— Amo saber que ainda sente por mim. — ele sussurrou fazendo círculos na parte macia depois do joelho. — Me faz querer te roubar desejos escondidos.

Eu ofeguei e meu corpo convulsionou com a lembrança das sensações que ele me causava.

— Kakashi... — gemi impaciente.

Ele sorriu e subiu os círculos pela minha coxa.

— Ainda sou dono dos seus desejos pequena? — eu acenei tentando desviar os olhos dos dedos firmes e ágeis dele. Kakashi mordeu o lábio e continuou: — Ainda me obedeceria cegamente, caso... — os dedos voltaram a subir até encontrar a barra do short que eu vestia.

Eu o queria. Com tudo de mim, com tudo o que pudesse existir ou não. Como cada poro e cada sentido que me sobrou. Mas ainda havia algo em mim que me fez querer confrontá-lo, algo que se moveu como uma onda por dentro de mim e foi algo mais forte que qualquer coisa que eu já tinha sentido.

— Kakashi. — Apenas disse seu nome, mas eu sentia que ele iria entender o que eu queria dizer com aquele tom de voz irreconhecível rompeu minha garganta.

Kakashi parou a caricia assim que encarei seus olhos lindamente negros e confusos olhando fixamente para mim.

— Ume. — ele disse meu nome como se me perguntasse, como se me desse espaço para abrir aquilo que estava avançando meu interior como uma avalanche.

— Pare. — ele engoliu o excesso de saliva e suspirou depois de medir meu corpo como se fosse capaz de destroçá-lo a qualquer momento, no entanto ele parou e endireitou as costas sem deixar de me olhar.

Dessa vez fui eu quem suspirou, foi alto e cheio de um desejo que eu sequer pensei que pudesse existir dentro de mim. Mas enfrentei o medo com uma facilidade avassaladora quando me coloquei de pé na frente dele e ele fez o mesmo movimento com os olhos, esperando, observando cada um dos meus movimentos com uma curiosidade extremamente excitante.

Então abaixei o corpo até que eu conseguisse alcançar o ouvido coberto pelos cabelos bagunçados dele.

Kakashi suspirou.

Eu não sabia o que esperar, o que pensar. Era como se tudo em mim agisse por conta própria, como se alguém que eu não conhecia tivesse tomado meu corpo e meus pensamentos.

— No chão. — falei baixo e foi como se as palavras carregassem promessas que eu não sabia o que esperar.

Mas ele grunhiu um gemido rouco e logo seus joelhos bateram no chão.

— Meus desejos são todos sobre você. — eu disse enquanto endireitava o corpo. — Cada pedaço de mim. Agora, tire a minha roupa.

Por Ele - KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora