Isso Não Pode Ser Real

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Meus olhos pareciam estar cheio de pedrinhas, ficar olhar para o teto esperando que todos os meus problemas se resolvessem sozinhos estava acabando comigo.

Passei a noite em claro olhando para o mesmo ponto pensando na audiência, na minha loja e naquela carta... a carta que me deixou um tanto desestabilizada.

Eu precisava me levantar, abrir a loja e esperar pelo dia de amanhã e como eu poderia fazer isso? Se as palavras daquela carta me faziam pensar no homem que estava atrás da mesa, o homem que poderia decidir se eu era culpada ou inocente.

Não era comum eu pensar assim, até mesmo pensar em coisas desse tipo me fazia sentir as bochechas queimarem. Era inconsciente, mas isso me tirava da razão — se é que eu tinha alguma.

Não era nada intencional, mas infelizmente acabou causando o fim de vários dos meus relacionamentos. Eu sempre soube disso, mas não era fácil mudar algo que era parte da minha personalidade.

Diferente do que eu conseguia expor — pelo menos tentar —, minha mente trabalhava rápido e na grande maioria das vezes tinha resposta para tudo. Na minha cabeça, eu tinha as respostas para lidar com qualquer situação. Mas fazer era totalmente diferente.

Suspirei aceitando que não podia esperar mais do que grande decepções acreditando que tudo aquilo era real, eu não tinha razões para acreditar nisso.

[...]

Eu já tinha alisado diversas vezes a saia plissada ao redor das minhas coxas, o banheiro do tribunal era espaçoso o suficiente para que eu, mesmo sendo severamente baixinha, conseguisse me ver no espelho de cima da pia.

O nervosismo se dividia em diversos fatores: minha incomparável problema com a timidez e consequentemente travava minha dicção, as pessoas que estavam tentando me fazer mal e o mais importante, o medo de olhar para cima da mesa mais importante da sala de audiências.

Era tolice, eu sei disso, mas como explicar para uma mente confusa que nada é o que parece ser? Não era tão fácil assim.

Desde a carta... a mesma que estava bem dobrada dentro do bolso escondido da minha saia, parecia pesar me fazendo lembrar constantemente que ela estava ali.

Lavei as mãos apenas para sentir a água corrente e gelada, isso me fazia pensar no agora. Mas os roxos que desciam abaixo dos meus olhos faziam me parecer cansada e eu não podia deixar que o outro lado me visse dessa forma.

As marcas arroxeadas faziam o castanho dos meus olhos saltarem, era por pura culpa da carta é eu sabia disso. Dobrei a quantidade de maquiagem que podia naquela área e sai.

A sala de espera estava mais vazia dessa vez, poucas pessoas ainda estavam sentadas e sendo chamadas para suas respectivas audiências. Minhas pernas começaram a tremer assim que passei pelas portas, agora ficaria esperando para entrar na sala onde queriam me extorquir, me enganar e onde queriam me ver sem jeito.

— Audiência das dezoito horas. — o oficial chamou. Não era o mesmo do outro dia, embora tivessem a mesma impressão de que não se importava, não eram o mesmo.

Senti parte da minha alma deixar meu corpo assim que segui em direção a sala, mantive meus olhos fixos no mesmo desenho de árvore entalhada e evitei descobrir como meu adversário estava do outro lado.

Eu sei que tinha tudo o que precisava dentro da minha pasta e mesmo assim, conseguia sentir que tentariam algo a mais contra mim. O que quer que fosse, arrumariam algo para conseguirem arrancar até meu último rim nessa audiência. Era óbvio que essa era a intenção, mesmo que eu não tivesse culpa alguma do que faziam.

— Caso 728. Retorno com a documentação para a certificação dos pedidos.

Dessa vez eu já estava sentada quando o guarda avisou sobre o caso é meu coração queria apenas saltar pela boca, já que o mesmo causava tumulto na minha garganta. Eu estava em pânico novamente.

Por Ele - KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora