Surpresas Podem Acontecer

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Faltavam algumas horas para fechar a loja, meu humor nos últimos dias estavam oscilando como uma montanha russa e nada do eu que eu tentava fazer para relaxar, dava certo. Consegui os extratos pedidos pelo juiz assim que a audiência chegou ao fim, agora, meu único problema, era esperar mais dois dias para finalmente me livrar da sensação ruim de estar ali.

Eu provavelmente mudaria minha loja mais para o centro, ou tentaria algo diferente, talvez mudar os ares faria bem a minha sanidade.

Os produtos já estavam no fim e, já que não precisava repô-los por estar quase na hora de fechar, me debrucei atrás do balcão bem onde a estufa fica posicionada. Meu corpo suplicava por descanso, mas ainda assim, eu parecia ter passado horas caminhando debaixo do sol.

Meu passa tempo nesses momentos de pouco movimento, era contar os pequenos pontos nas paredes perto das pequenas mesas redondas e ligá-los tentando formar alguma figura aleatória. Ocupar minha mente ansiosa, era a única coisa que eu podia fazer.

O sino que ficava preso numa haste logo acima da porta tocou, e pareceu tão alto que me assustou. Não percebi que acabei dormindo novamente enquanto fazia minha jornada até o fim da tarde.

Eu estava desnorteada e parcialmente cega por ter acordado rápido demais, não era como se tivesse sido a primeira vez. Mas isso sempre acabava me deixando completamente tonta. Atendi o cliente com o máximo de gentileza que meu cérebro conseguia permitir e embalei o pedido doce que ele fez. Não era nada demais, alguns Donuts coloridos e uma água, ele sorriu e saiu.

Isso me fazia pensar, eu precisava urgentemente descansar.

Fechei a loja e como todos os dias fui para casa, que não ficava longe dali. Meu apartamento era um pequeno espaço no sexto andar de um prédio caindo aos pedaços, mas tinha uma incrível varanda que abria a vista para o parque que se estendia ao longo do bairro.

Girei a esquina e subi as estreitas escadas que davam para um minúsculo hall de entrada. Ali era pequeno demais para abrigar gente demais ao mesmo tempo, mas era espaço suficiente para ter uma recepção e a entrada para o elevador.

— Sua correspondência, Ume. — Ele chamou, o recepcionista era um jovem. como sempre estavam trocando quem ficava com aquela vaga, eu nunca conseguia decorar os nomes deles.

— Obrigada. — Eu definitivamente não me lembrava do nome dele.

Ele sorriu gentilmente e aproveitei o silencio para me espremer no fundo do elevador, tentando focar toda a minha atenção na maciez da minha cama assim que essa maquina maldita feita pelo homem estacionasse no meu andar.

Joguei as minha bolsa no aparador assim que entrei, os sapatos voaram longe e meu corpo caminhou inconscientemente para o quarto. Meus ossos reclamaram pela forca que bateu contra o colchão, mas logo relaxou.

Espalhei os envelopes na cama, normalmente eram contas e recibos que eu preferia receber por correio. A tecnologia sempre me deixava assustada.

Contas da loja, contas de consumo do meu apartamento, indicações de assinatura de revistas — quem ainda assina isso? — e um envelope bege.

Estranhei a natureza daquela carta, não era bem parecida com as outras. Sem selos, sem carimbos ou gravuras. Apenas meu nome estava escrito com letra cursiva no topo do envelope, estranho.

Mordi o lábio tentando conter a curiosidade, o medo de ser uma nova notificação escondida dentro daquele papel manchado também me dominou.

Ah, merda.

Suspirei e passei a unha debaixo do triângulo onde ela foi colada, abri o envelope com a barriga retorcendo em borboletas. Poderia ser uma mini bomba caseira, não duvidava que isso poderia acontecer, já que o senhorio pareceu invocar o inferno quando seu pedido foi negado até a próxima audiência.

Por Ele - KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora